Sabatina: Hilton Coelho defende saúde e geração de emprego como prioridades

Candidato foi o 5º entrevistado da edição 2020 da Sabatina do CORREIO com perguntas de jornalistas, leitores, especialistas e entidades

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 12 de agosto de 2020 às 19:00

- Atualizado há um ano

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O fortalecimento da saúde pública e a geração de trabalho serão as bandeiras prioritárias do candidato Hilton Coelho (Psol), caso seja eleito prefeito de Salvador. Historiador e deputado estadual pela Bahia, ele participou, nesta quarta-feira (21), às 13h, da sabatina do CORREIO das Eleições Municipais 2020. Extrapolando quase sempre o tempo limite estabelecido para as respostas, Hilton foi propositivo e fez críticas às atuais gestões municipal, estadual e federal.

Em resposta à pergunta inicial sobre o que julga mais urgente na capital, Hilton apontou que a atenção primária na saúde pública de Salvador anda deficitária e que será sua prioridade de governo resolver este problema. O candidato prometeu fazer uma reestruturação da rede inclusive para melhor enfrentar a covid-19 e, segundo os seus planos, será promovida uma testagem massiva para identificar infectados, com o isolamento social sendo continuamente medido. “No momento que sair a vacina, precisamos que ela chegue para todas as pessoas da nossa cidade”, completou. 

A pandemia afetou de formas diferentes as famílias soteropolitanas e Hilton foi questionado sobre as propostas que tem para as pessoas que estão enfrentando maiores dificuldades e como pensa em fazer a reabertura econômica. O deputado lembrou que, nacionalmente, o seu partido defende a pauta da renda básica permanente para famílias em situação de extrema pobreza ou vulnerabilidade social. Localmente, ele disse que apoiará as atividades econômicas dos soteropolitanos com a criação do Banco do Povo, destinado a financiar os pequenos negócios locais.

“Salvador tem uma rede de malharia fabulosa, de produção de roupas, mas não tem apoio. Temos os ambulantes, os camelôs, toda a rede do pequeno do microempresário. Vamos formar nosso banco e distribuir renda à nossa população. Nossa proposta é que, a partir do banco, possamos incrementar o corporativismo, que ainda é residual na cidade, mas tem um potencial enorme”, propôs ele, citando cadeias que podem trabalhar conjuntamente como a indústria têxtil e pequenos comerciantes, além do setor gastronômico e associações de pescadores e marisqueiras. 

O candidato explicou que a ideia do Banco do Povo é livrar as pessoas da dependência de altas taxas de outros bancos, que promoveriam o que ele chama de “esquema da dívida”. “Precisamos de uma organização financeira voltada para as atividades produtivas do nosso povo”, argumentou. Para viabilizar esse projeto, Hilton disse que defenderá que parte do orçamento público municipal seja destinado para a implementação dessa proposta, que também acredita ser prioritária. 

Veja na íntegra como foi:

Disputando a prefeitura por um partido com histórico de tímidos resultados eleitorais em Salvador, Hilton foi perguntado sobre o que pretende fazer de diferente para ganhar o pleito deste ano e disse que não tem interesse em utilizar “atalhos” para vencer. 

“As forças tradicionais da política têm caminhos de atalhos. A gente viu o presidente se eleger com uma estrutura baseada na fake news, feita por robôs. Na cidade de Salvador, não é diferente. Vemos a máquina pesada do governo do estado entrando no processo eleitoral e sobretudo a máquina do atual prefeito, é um conjunto de movimentações que conferem artificialidade em relação aos resultados eleitorais. Nós não queremos tomar atalhos”, criticou.

O historiador foi perguntado também sobre como lida com a imagem do Psol, que ainda costuma ser confundida com a do Partido dos Trabalhadores. Hilton lembrou que o Psol surgiu justamente de um racha com o PT, ainda no início do governo petista no país, por discordâncias em relação à pauta da reforma da previdência. “De lá para cá, temos sido oposição”, afirmou, criticando à reprodução da reforma federal nas esferas estadual e municipal por aqui. “Uma reforma da previdência nefasta que obriga o trabalhador a trabalhar até morrer, enfraqueceu a seguridade social de maneira letal”, acrescentou ele, que garantiu que pretende revogar o modelo aprovado em Salvador. PERGUNTAS DE ESPECIALISTA E ENTIDADES

No bloco de perguntas de especialistas e entidades, foram sorteados os questionamentos da cantora e empresária cultural Daniela Mercury; do presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Cláudio Cunha; do presidente do escritório turístico Salvador Destination, Roberto Duran; e do Sindicato de Comércio de Combustíveis da Bahia (Sindicombustíveis-BA).

Daniela Mercury perguntou: Qual sua visão sobre o carnaval e os eventos culturais e shows musicais? Qual será o papel da prefeitura no carnaval e nesses eventos?

Hilton Coelho: “O carnaval precisa ser profundamente democratizado. É um grande evento construído pelo nosso povo e a maioria da nossa população tem ficado cada vez menos com o resultado desse evento, tanto do ponto de vista do espaço cultural quanto da distribuição da renda e da riqueza. Eu sintetizaria isso na completa secundarização dos blocos de afoxés, saindo na madrugada e num circuito desprivilegiado pela prefeitura. Vamos colocar os afoxés no centro do carnaval e privilegiar a cultura popular e afro-descendente. Os trabalhadores autônomos são perseguidos nas grandes festas e não conseguem fazer uma renda que potencialmente poderiam fazer. Vamos fazer o 1º Congresso das Trabalhadoras e Trabalhadores Autônomos do Carnaval para discutir a renda do carnaval e democratizá-la”

Roberto Duran questionou: Quais são as suas propostas para a retomada do turismo a partir de 2021, sabendo que este segmento econômico é fundamental para a geração de emprego e renda para os soteropolitanos e foi o mais prejudicado pela pandemia?

Hilton Coelho: “Apresentamos nossas divergências desde o início da primeira gestão do prefeito ACM Neto porque juntar turismo e cultura, ao nosso ver, é um grande equívoco. Orçamentariamente, o grosso do recurso é da Secretária de Cultura e Turismo (Secult), vai para o turismo e não para a cultura. Nós precisamos priorizar a cultura na cidade de Salvador, precisa ter apoio para os artistas. Salvador é patrimônio cultural da humanidade, mas aproveita muito pouco isso porque não há estímulo da cultura, o que atrapalha até o turismo. Com a cultura fortalecida, poderemos fortalecer atividades como a culinária popular. Temos no subúrbio todo um trajeto de presença dos turistas, tem restaurantes maravilhosos e não é aproveitado porque não tem política pública para aproveitar isso. Precisamos olhar o turismo voltado para a cultura popular”. 

Duran avaliou a resposta: "Cultura e turismo estão muito interligados. Salvador é eminentemente turística, é um setor que tem grande empregabilidade, e é importante saber o que os candidatos pretendem fazer caso sejam eleitos porque esperamos que nossos governantes tenham visão apurada para esse segmento. Toda a parte do turismo tem interligação com a parte de shows e entretenimento e isso tem tudo a ver com cultura. Obviamente, no turismo se dá ênfase aos nossos museus, às manifestações culturais, por isso, não concordo que a cultura tenha que ser apartada do turismo. Os dois andam muito juntos e são os mais prejudicados com a pandemia. Nessa volta, principalmente, temos que estar ainda mais unidos e abraçados para superar o momento". 

O Sindicombustíveis perguntou: A nossa cidade ostenta o título de capital nacional do desemprego, além de ter uma das três menores rendas per capita das capitais do país. O que o senhor pretende fazer para que a classe empresarial volte a acreditar na cidade e contribuir para reverter esse terrível quadro social?

Hilton Coelho: “O grosso empresariado em Salvador é formado de pequenos e microempresários, além da massa de trabalhadores autônomos que precisam de apoio. Ao meu ver, precisamos adotar uma lógica que, primeiro, tenha algum nível de amparo do poder público que pare de perseguir a atividade produtiva e passe a apoiar as atividades. Salvador precisa de estímulo ao cooperativismo, isso está relacionado à dinamização econômica porque distribui renda e riqueza e faz com que as pessoas tenham condições de viver aqui. Precisamos também ter um conjunto de cadeias que têm potencial de serem cooperativadas, como a indústria têxtil, o pequeno comércio, marisqueiras, pescadores e a área da culinária pode ser muito fortalecida”

Cláudio Cunha, da Ademi-BA, quis saber: Como melhorar o ambiente de negócios e a segurança jurídica para o mercado imobiliário?

Hilton Coelho: “Salvador precisa voltar a respirar. Temos um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador (PDDU) que fez um verdadeiro ‘liberou geral’ na ocupação e uso do solo e precisa ser modificado para que a gente tenha uma cidade em que as pessoas vivam num nível maior de qualidade e que, do ponto de vista imobiliário, se fortaleça a ideia de que salvador tem que ser um lugar bom de se viver. Então, a principal medida que Salvador precisa tomar é rever o PDDU. Precisamos fazer a reorganização da cidade para que seja melhor para se viver e que os diversos setores econômicos, nesse sentido, tenham algo a oferecer de qualidade e não essa cidade quente, cheia de cimento, que destrói o meio ambiente e que ao final de tudo acaba com a qualidade de vida”.

A sabatina é realizada pelo jornal CORREIO e tem apoio do E Estúdio e ITS Brasil.