Salvador adormeceu mais cedo no primeiro dia do toque de recolher na Bahia

Restrição de circulação fez com que expedientes fossem menores e as ruas ficassem vazias às 22h

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  • Wendel de Novais

Publicado em 20 de fevereiro de 2021 às 04:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Nara Gentil/CORREIO)

A capital baiana teve uma noite de sexta diferente. Em vez do grande fluxo de pessoas que, nas sextas, se dividem entre trabalhadores voltando para casa e boêmios indo aos bares e restaurantes abertos da cidade, o que se viu foi um vazio. Pontos movimentados, como o Farol da Barra, os largos da Dinha e da Mariquita no Rio Vermelho, a Orla de Itapuã e a região dos shoppings Salvador e da Bahia, adormeceram antes mesmo das 22h, horário em que começou o toque de recolher, decretado pelo governo do estado e que será válido até a próxima quinta-feira (25), das 22h às 5h, em 343 cidades baianas.

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Para aqueles que gostam de curtir os bares da capital no momento de descanso do fim de semana que começa na sexta-feira à noite, o jeito foi antecipar ou mesmo deixar de lado o costume de ir tomar aquela cerveja e provar da culinária da cidade. Os amigos Jaqueline Garcia, 33 anos, e Roberto Alan, 31, já prevendo a situação, começaram os trabalhos cedo no Farol da Barra e antes das 19h estavam na última cerveja da noite. "Eu já esperava que fosse acontecer [a medida] porque aqui o povo finge que não tem pandemia. Aí a gente sofre, né? Tem que voltar mais cedo para casa. Já é nossa última cerveja", disse Jaqueline. Roberto e Jaqueline anteciparam programação da sexta-feira (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Roberto explicou o porquê da noite acabar três horas antes do toque de recolher dizendo que duvidava que o transporte público desse conta da demanda de pessoas indo para casa depois das 21h00. "A gente tem que antecipar a ida pra casa porque todo mundo vai mais cedo e não sabemos como vai ser o processo, não sei se os ônibus estarão disponíveis nesse horário. Só vamos passar em um lugar pra comer e partir pra casa. Tudo foi mais cedo mesmo já para não enfrentarmos nenhum problema", falou.

No Largo da Dinha, no Rio Vermelho, Daniele Vasconcellos, 41, administradora, também calculou direitinho o tempo para dar uma volta e aproveitar a noite sem desrespeitar a restrição."Eu moro em Brotas e só vou dar mais uma voltinha aqui e vou para casa logo depois. Não vou ficar muito tempo porque sei que a gente precisa estar em casa cedo hoje e o povo dos restaurantes até falou que às 21h30 tudo fecha", contou Daniele.

Em Itapuã, Danilo Santana, 37, que é marceneiro e gosta de aproveitar a noite do seu bairro para relaxar, só saiu de casa para pegar um lanche e levar o cachorro para passear. "Eu chego do trabalho às 18h e fico de boa. Hoje, cheguei, me arrumei e saí logo para pegar algo para comer e só levar o cachorro para dar uma saída mesmo. Já tô voltando. Acho que fazer a minha parte é ficar em casa o máximo possível nesse momento, não só durante o toque de recolher", opinou.

Correndo contra o tempo

Quem estava nas ruas por conta do trabalho fez de tudo para não se atrasar na chegada em casa e evitar problemas. Um deles foi Erisson Santana, 24 anos, que trabalha com serviços gerais no Shopping da Bahia. "Fico com medo da polícia me parar se eu estiver na rua. Tô saindo às 21h do trabalho e vou ter que ir correndo para chegar em casa antes do horário porque não quero problema. Vou torcendo pro metrô não atrasar porque aí já era, né. Ainda bem que não dependo de ônibus", contou Erisson, que gasta normalmente 50 minutos para chegar em casa, mas temia que imprevistos acontecessem. Trabalhadores correram para não estar nas ruas às 22h (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Temendo que não desse tempo de chegar em casa, a assistente de supervisão Nataly Santos, 21, pediu liberação do emprego 15 minutos antes das 21h e arranjou carona de moto. Tudo isso para evitar problemas estando fora de casa depois das 22h. "Eu consegui que me liberassem uns quinze minutos antes, aí acho que vai dar pra chegar antes porque eu achei carona, né. Tudo pra não ficar na rua fora do horário. Fico mais preocupada com quem mora longe e não teve a mesma sorte de pegar carona", afirmou Nataly, que mora em Brotas.

Já Diego Alcântara, 31, que trabalha como faturista no Shopping da Bahia não estava agoniado para chegar em casa e disse que a fiscalização ia ter uma tolerância mínima com quem estivesse na rua. Ele afirmou que costuma sair do trabalho para tomar aquela cerveja fora de casa na sexta-feira, mas que, hoje, o jeito era beber dentro de casa e  não passar muito do horário para ficar longe de qualquer ocorrência por desrespeito ao toque de recolher. "Daqui pra casa, sem desvio. Mas não tô na agonia não porque sei que deve ter uma tolerância. Aproveitar que a chefia entendeu nossa situação e reduziu o expediente para não ficar de bobeira. Hoje, a sexta vai ser diferente, né? Não tem o que fazer. Vou abrir aquela gelada em casa, colocar um sonzinho e relaxar", revelou Diego.

Proibições

- Os estabelecimentos comerciais e de serviços deverão encerrar as atividades até as 21h30, para garantir o deslocamento dos funcionários e colaboradores às suas residências. A determinação não se aplica ao funcionamento dos terminais rodoviários, metroviários e aeroviários ou ao deslocamento de funcionários e colaboradores que atuem na operacionalização dessas atividades.

- Os meios de transporte metropolitanos (ônibus, metrô, ferryboat e lanchinhas) ficam autorizados até as 22h30, horário em que devem ser encerrados. Em Salvador, os ônibus urbanos deverão obedecer decreto publicado pela Prefeitura.

- Fica expressamente vedado, entre as 22h e as 5h, o funcionamento de bares, restaurantes, lojas de conveniência e demais estabelecimentos similares que comercializem bebidas alcóolicas, inclusive na modalidade delivery.

- Não são alcançados pelo decreto os serviços de limpeza pública e manutenção urbana; os serviços delivery de farmácia e medicamentos; e as atividades profissionais de transporte privado de passageiros.  

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro