Salvador amanhece sem buzu: saiba como não ficar a pé durante a greve

Rodoviários começaram greve por tempo indeterminado à 0h01 desta quarta-feira (23)

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  • Carol Aquino

Publicado em 23 de maio de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

Desde o primeiro minuto da madrugada desta quarta-feira (23), por conta da greve de rodoviários decretada nesta terça (22), o máximo que o soteropolitano vai encontrar nas ruas de Salvador é metade da frota de ônibus que atende à cidade, de 2,4 mil veículos - e isso em horários de pico. Para não ficar a pé, há alternativas, desde um plano contigencial até transporte por aplicativos.

Pela prefeitura, serão cerca de 800 micro-ônibus a R$ 3,70. Ainda há o metrô, que pode aumentar o número de trens e reduzir o intervalo entre as viagens. Mototaxistas, pela primeira vez regulamentados, também estarão a postos, assim como os mais de 7 mil taxistas da cidade, que darão desconto. E ainda há os motoristas de aplicativos como o Uber e o 99 Pop.

Na tarde desta terça-feira (22), o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Fábio Mota, anunciaram um plano de contingência que inclui cerca de 800 micro-ônibus para ajudar a transportar soteropolitanos. 

Do total, 516 são de cooperativas da Região Metropolitana de Salvador, que receberam 35 roteiros ligando os principais corredores da cidade (veja roteiros abaixo). A tarifa vai custar R$ 3,70, porém não valerão gratuidade, meia-passagem, integração com o metrô ou bilhete único. O pagamento da passagem deve ser feito em dinheiro.  Micro-ônibus do Sistema de Transporte Complementar (Stec) vão circular normalmente (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) Os demais são do Sistema de Transporte Complementar (Stec), que continuarão operando nos mesmos roteiros dos dias normais. Vans escolares e de turismo também poderão atuar no transporte urbano, sem roteiros e tarifas definidos pela prefeitura.

Segundo o prefeito ACM Neto, o plano de contingência foi montado levando em consideração que haveria 50% dos ônibus regulares circulando nos horários de pico (das 5h às 8h e das 17h às 20h), 30% no restante do dia e a operação dos veículos Stec.Contudo, os rodoviários não cumpriram a decisão judicial e não saíram das garagens. 

Ordem judicial Os percentuais mínimos são exigência do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT5). Na decisão desta terça, o desembargador Renato Mário Simões determinou que os rodoviários cumpram os 50% em horários de pico e 30% no restante do dia, sob multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento. A alternativa prometida  encontrada para cumprir a ordem judicial e manter a greve era rodar com catraca livre - o que não aconteceu na manhã desta quarta-feira (23) (leia mais abaixo).“Oitocentos micro-ônibus não vão substituir os 2.400 ônibus que rodam pela cidade. Mas, se o sindicato cumprir a liminar, isso somado ao transporte escolar e de turismo, vamos ter uma condição mínima razoável de mobilidade”, avaliou o prefeito.Neto apontou que, apesar dos esforços, a população vai sentir os efeitos da greve, decretada em assembleia, nesta terça-feira, após dois meses de negociação sem acordo entre patrões e empregados. A prefeitura chegou a se reunir com os dois lados, mas não conseguiu evitar a greve.

Metrô e apps Outro modal de transporte em atividade em Salvador, o metrô deve ajudar muita gente a se locomover, embora não atenda a maior parte da cidade. Segundo informou a concessionária CCR Metrô Bahia, o metrô vai iniciar a operação normalmente na manhã desta quarta-feira (23), mas, ao longo do dia, serão feitas avaliações do volume de passageiros. 

Caso a procura aumente muito, serão colocados mais trens em operação, diminuindo assim o intervalo entre as composições. Segundo a concesssionária, essa avaliação é necessária porque são justamente os ônibus do sistema de transporte coletivo que alimentam o modal. Metrô vai aumentar número de trens em operação, caso haja demanda (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) A população também vai poder contar com os motoristas que trabalham por apps - são cerca de 25 mil em Salvador, segundo o sindicato da categoria. A Uber informou que não adotou estratégia específica para a greve. O passageiro precisa ficar atento à possibilidade de aumento da tarifa, que é dinâmica e cresce conforme a demanda.

Já a 99 disse que está comunicando seus motoristas sobre possível aumento de demanda: “Seguimos com constante esforço para ser uma opção de transporte rápido, seguro e econômico”.

Táxis e mototáxis O presidente da Associação Geral de Taxistas de Salvador (AGT), Ademilton Paim, informou que a categoria estará pronta para atender a população durante a greve e que os usuários podem conseguir descontos de até 30%.“Os descontos variam de acordo com a corrida, mas o passageiro também pode abordar o taxista no ponto e sugerir um valor promocional. Táxi não tem corrida dinâmica”, diz Ademilton.A Elitte Táxi, Use Taxi, Teletaxi, Alô Táxi, Cooper Teletáxi e Chame Táxi já trabalham com descontos.

Ele acredita que a falta de ônibus deve aumentar em 40% o volume das corridas na capital baiana. “Antes dessa concorrência desleal, aumentaria de 80% a 90%”, diz. Salvador tem 7.290 táxise, segundo Paim, todos estarão nas ruas nesta quarta. Mototaxistas também são alternativas: há 785 cadastrados pela prefeitura (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) Se depender dos mototaxistas, a população também vai contar com o serviço em toda a cidade.“Estamos preparados para esta greve. É a primeira em que a população vai encontrar mototaxistas regulamentados, com alvará e crachá, atuando nas ruas. Nossa tarifa não vai ficar muito cara porque sabemos que estamos vivendo uma crise econômica. Estaremos sempre aglomerados no entorno das estações de metrô”, diz o presidente da Associação do Motociclistas Profissionais do Estado da Bahia, Adailson Couto, Dragão.Segundo ele, a menor corrida custa R$ 5. Salvador conta hoje com 785 mototaxistas regulamentados e a estimativa é que haja cerca de outros 4 mil clandestinos.

Vejas as áreas atendidas pelo esquema especial de micro-ônibus:Subúrbio/Ribeira/Valéria: Suburbana, BA-528, Calçada, Comércio, San Martin, BR-324, Retiro, Barros Reis, São Caetano e Fazenda Grande do Retiro. Destinos finais: Campo Grande, Barra e Iguatemi/Itaigara.

Boca da Mata/Cajazeiras/Cassange/Coração de Maria: Rótula da Feirinha, Águas Claras, Castelo Branco, BR-324, Estrada Velha, Pau da Lima, São Marcos, São Rafael e Paralela. Destinos finais: Campo Grande, Barra e Iguatemi/Itaigara.

Mussurunga/São Cristóvão/Orla: São Cristóvão, Itapuã, Flamengo, Aeroporto, Boca do Rio, Piatã, Patamares, Pituba, Rio Vermelho, Vasco da Gama, Ondina e Centenário. Destinos finais: Lapa, Barra, Praça da Sé e Iguatemi.

Cabula: Jd. Santo Inácio, Mata Escura, Sussuarana, Tancredo Neves, Narandiba, Saboeiro, Pernambués e Cabula VI. Destinos finais: Barroquinha, Campo Grande, Barra e Iguatemi/Itaigara.

Brotas/Centro:  Luiz Anselmo, Cosme de Farias, Eng. Velho de Brotas, Eng.  Velho da Federação, Liberdade, Barbalho, IAPI, Santa Mônica, Pau Miúdo, Caixa D’Água e Pero Vaz. Destinos finais: Barroquinha, Campo Grande, Barra e Iguatemi/Itaigara. Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (22), prefeito ACM Neto apresentou plano de contingenciamento (Foto: Max Haack/Secom PMS) Prefeito diz que não vai aumentar tarifa O prefeito ACM Neto (DEM) reiterou durante entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (22) que não autorizará aumento na tarifa de ônibus em 2018, apesar da pressão dos empresários do transporte coletivo para que tal medida seja tomada. “Seria muito cômodo a prefeitura anunciar o aumento da tarifa, mas quem iria pagar o preço é o usuário”, disse Neto.Reajustes só acontecerão em 2019, com base na auditoria do sistema de bilhetagem dos ônibus urbanos que está sendo feita pela Agência Reguladora e Fiscalizadora dos Serviços Públicos de Salvador (Arsal).

Neto assegurou também a manutenção das linhas de ônibus que rodam atualmente na capital. “Não vamos aceitar exclusão de linhas de ônibus, o que geraria desassistência a uma série de comunidades pobres de Salvador”, disse. 

Neto destacou que a gestão tem aberto mão de que a concessionária cumpra algumas de suas obrigações, como o pagamento de Imposto sobre Serviços, taxa da Arsal, outorga onerosa e renovação de frota. 

Na manhã desta terça-feira (22), na última rodada de negociações, as empresas seguiram sem apresentar proposta. O assesor de relações sindicais da Integra, Jorge Castro, alegou prejuízo e apontou as razões:“A crise econômica, a gratuidade, a legalização dos mototaxistas, as duas horas de integração com o metrô, pois dos R$ 3,70 da passagem, a gente recebe menos de 40% do valor, sendo que 80% dos passageiros pegam ônibus e metrô”, disse Castro.Os rodoviários pedem um aumento do salário de 6%, 10% do tíquete-alimentação e a continuação do pagamento de horas extras. Embora os representantes da Superintendência Regional do Trabalho (SRT), que mediaram a negociação, tivessem sugerido o reajuste de 5%, os empresários continuaram alegando que não possuem condições de firmar o acordo. 

O prefeito ACM Neto disse que chegou perto de um consenso entre as partes na manhã desta terça. Os rodoviários diminuíram o pedido de reajuste salarial de 6% para 3% e do ticket refeição de 10% para 2%. Porém os empresários aceitaram dar somente a inflação, de 1,69%.

Catraca livre A decisão de motoristas e cobradores por entrar em greve havia sido tomada ontem, por aclamação, em assembleia geral realizada no ginásio do Sindicato dos Bancários, na Ladeira dos Aflitos. O diretor do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Hélio Ferreira, lembrou que foram 60 dias de negociações com o Sindicato das Empresas (Setps) e que foram cumpridos todos os ritos para a greve não ser tida como ilegal pela Justiça.

Para justificar a paralisação por tempo indeterminado, ele afirmou que a categoria não deve permitir a retirada de direitos.“Se a deliberação for pela greve, temos que ter responsabilidade de fazer a greve acontecer. E o compromisso que faço aqui é de rodar com catraca livre”, reforçou.Os passageiros deveriam acessar os coletivos pela porta de saída, para evitar pedidos de ressarcimento pelos patrões, que alegam prejuízo ao negar aumento. “Temos um prejuízo anual de R$ 120 milhões e mensal de R$ 10 milhões”, disse Jorge Castro, assessor de relações sindicais da Integra.

A decisão dividiu opiniões. “Catraca livre, não concordamos porque parece ensaio pra demitir os cobradores”, defendeu um cobrador. Presidente do Sindicato dos Rodoviários, Hélio Ferreira, se comprometeu em fazer catraca livre (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Uma usuária do transporte coletivo também criticou:“Tô com medo de entrar bandido no ônibus. Entra bandido de qualquer jeito. Tô preocupada com meus filhos. Vai ter é confusão”, disse uma dona de casa de 55 anos, também anônima.Um motorista de ônibus pensa diferente: “Sou a favor, porque a gente chama a população para nos apoiar. Faço questão de rodar com catraca livre”, avaliou.“É bom que vai sobrar crédito no Salvador Card”, brincou o promotor de vendas Murilo Santos, 29. O prefeito ACM Neto disse que não vai coibir a catraca livre. “É lógico que não caberia a mim como prefeito estimular esse movimento, mas a prefeitura também não irá coibir”, disse.

A Polícia Militar disse que já tem um plano para atender às demandas na greve.  Algumas faculdades suspenderam as aulas.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier e do editor João Gabriel Galdea