Salvador, cidade de 15 minutos

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  • Da Redação

Publicado em 23 de junho de 2021 às 05:10

- Atualizado há um ano

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As cidades estão sendo transformadas para que moradia, trabalho, consumo e lazer possam ocorrer a um raio de 15 minutos a pé, dispensando os moradores de grandes deslocamentos. Isto implica uma profunda reforma urbanística em cidades que foram consolidadas com base na separação de funções. Embora os novos PDDU e LOUOS tenham incorporado vários princípios e instrumentos desse conceito de cidade compacta, serão ainda necessários muitos outros passos adiante para que Salvador possa funcionar como uma “cidade de 15 minutos”, mas este é um processo que precisa ser iniciado imediatamente, para estar completo ao longo de algum tempo.

Várias iniciativas recentes podem ser consideradas dentro desse processo, carecendo muitas vezes apenas de complementações: o Projeto Orla introduziu novos conceitos e valores urbanísticos em vários trechos; o Movimento Salvador Vai de Bike disseminou o uso da bicicleta, mas é preciso expandir a rede cicloviária; na pandemia foi adotada uma prática que espero tenha vindo para ficar: a utilização do espaço público para colocação de mesas ao ar livre, nos serviços de alimentos e bebidas, em parklets ou nos canteiros centrais; novos e maiores espaços têm sido reservados aos pedestres.

Quanto às oportunidades de trabalho e consumo, começa espontaneamente e ocorrer a disseminação de supermercados, farmácias e – pasme-se – pet shops. É preciso contudo inserir nesse movimento todo o comércio de conveniência, espaços de coworking, as lojas de informática (equipamentos e serviços), academias de ginástica, serviços de correspondências e encomendas, cafés, lanchonetes, lavanderia, serviços pessoais e tantos outros.

Em relação aos equipamentos e serviços sociais, as atividades educacionais, principalmente creche e ensino fundamental, mas também os cursos de idiomas e profissionalizantes, serviços básicos de saúde, equipamentos culturais e – essencial – praças e parques de vizinhança. 

É mais útil à cidade ter dezenas de mercadinhos, distribuídos bairro a bairro, do que meia dúzia de hipermercados e atacadões. A mesma lógica se aplica aos lojões e aos shoppings, cujos conceitos estão atrelados ao automóvel. Polos geradores de tráfego em geral têm, aliás, que ter sua localização muito bem avaliada vis-à-vis a estrutura urbana. Então, é preciso permitir muitas coisas e restringir outras, mudando valores.

Nos bairros que foram originariamente concebidos como apenas residenciais, é preciso estimular a conversão parcial do térreo em área comercial, quando no nível da rua, sejam elas atualmente usadas como garagem ou playground. Para os moradores, o valor do condomínio inclusive vai baixar; no caso de bairros unidomiciliares, facultar a reforma de imóveis para uso comercial e de serviços destinados aos habitantes locais. É também cada vez maior o número de atividades que podem ser realizadas na própria residência, não apenas o “home-office”. É preciso, sem medo, abrir as portas para a transformação urbana. 

Onde não há habitação, como nas grandes centralidades comerciais, é fundamental promovê-la. Entre nós, no Centro Histórico, urge estimular a conversão de edifícios comerciais em residenciais, no Comércio e nas ruas Chile, Avenida Sete e Carlos Gomes; na região da Tancredo Neves já existem alguns edifícios residenciais e hoteleiros infiltrados entre as torres comerciais, mas é preciso diversificar mais. O terreno da atual estação rodoviária bem que poderá ser destinado para fins residenciais. Em todos esses casos, sempre assegurando a fachada ativa ou a fruição pública no térreo.    

Salvador tem 170 bairros. Que tal começarmos, cada um, a fazer uma análise do que temos e do que nos falta na proximidade de nossas casas: oportunidade de trabalho? comércio de conveniência/serviços? unidades escolares? unidade de saúde? praça pública/área verde?

*Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de “Cidades e Municípios: gestão e planejamento”.