‘Santa Luzia, acaba com esta pandemia’: fiéis fazem pedidos à protetora da visão

Igreja no Pilar teve domingo de peregrinação e aglomeração neste Dia de Santa Luzia

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 13 de dezembro de 2020 às 16:56

- Atualizado há um ano

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Em um período de pandemia, talvez se esperasse que as celebrações, no dia de Santa Luzia, protetora da visão, fossem mais tímidas. Mas o coronavírus não foi suficiente para abalar a fé dos seus devotos e foi, inclusive, um dos principais motivadores das orações na festa deste ano.

De máscara no rosto e álcool em gel nas mãos, os cristãos enfrentaram filas e se aglomeraram na porta da Igreja Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no Comércio, para terem a oportunidade de reverenciar a santa neste domingo (13). Houve medição de temperatura e restrição de assentos.

Adilson Guedes, 54 anos, este ano levou um pedido especial. Carregando uma placa que dizia “Santa Luzia, acaba com esta pandemia!”, ele defende que “num momento como esse, temos que fortalecer ainda mais a nossa fé”. “Eu venho todos os anos e, neste, não poderia deixar de estar aqui. Hoje vim com esse pedido especial orar por mim e pela minha mãe, que já é idosa e eu preferi que não viesse por conta do coronavírus”, comentou. Foto: Arisson Marinho/CORREIO Entrada controlada Os festejos normalmente reúnem cerca de cinco mil pessoas, mas, desta vez, foi permitida a entrada de somente 200 pessoas a cada missa celebrada. Por isso, mesmo com cadeiras dispostas no pátio, muita gente ficou aguardando a vez do outro lado da grade; ainda que debaixo do sol, o sacrifício parecia valer a pena. A inquietação logo se transformava em sorrisos ou lágrimas de muita emoção ao conseguirem chegar aos pés da santa.

“Eu não era devota, não entendia por que as pessoas vinham aqui enfrentar filas, achava que era loucura. Mas agora Santa Luzia me fez entender. Há um mês eu adoeci e nenhum médico sabia dizer o que eu tinha. Fiquei de cama e pedi a ela que não me deixasse morrer, que eu viria aqui hoje para servir a ela. Na sexta-feira (11) eu acordei curada; Santa Luzia me curou para que eu pudesse estar aqui hoje bem. Então agora eu sei que vir aqui todo ano e enfrentar tanta fila é uma loucura sim, mas uma loucura de amor”, explica, muito emocionada, Mariana de Assis, 44.

Conhecida como a protetora da visão e a padroeira dos oftalmologistas, Santa Luzia é homenageada ao longo de todo o domingo. Entre os dias 10 e 12, a Igreja realizou o tríduo, com missas às 9h e às 18h. No dia dedicado à santa, são celebradas missas às 6h, 8h, 10h, 15h, 17h e 19h. 

Por volta das 12h, após apresentação da Banda Didá, teve início a carreata, que saiu da Igreja levando a imagem de Santa Luzia pelas principais ruas do Comércio e do Subúrbio, retornando depois até a matriz. Os festejos serão encerrados somente nessa segunda (14), quando às 9h será celebrada a missa por todos os devotos já falecidos.

Aldete Lima, 48, vai todo 13 de dezembro à Igreja e, este ano, com uma motivação a mais. "Eu nasci com miopia degenerativa e há um ano tive catarata. Fiz uma cirurgia que poderia ter me deixado completamente cega. Mas amanhã fazem 60 dias que eu fiz o procedimento e, graças a Santa Luzia, eu posso te enxergar agora. Hoje eu vim somente agradecer", diz.

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No século XIX, a capela de Santa Luzia, que era na Avenida Contorno, no espaço que hoje é o Solar do Unhão, pegou fogo. Assim, a imagem da santa e os fiéis foram transferidos para a Igreja do Pilar. No local, há uma gruta de onde a água mina desde o século XVII, quando o templo ainda era uma pequena capela. A água que corre dia e noite desta fonte que nunca secou é procurada pelos devotos da santa, que lavam os olhos e ainda levam garrafas cheias para familiares e amigos. 

O padre Renato Minho celebrou as missas das 6h e das 10h, e celebrará também a das 19h. “Mesmo em tempos de pandemia, em tempos de crises, a nossa fé é uma fé que resiste (...) Assim como Santa Luzia, que resiste contra todo o mal, não nega a sua fé e é fortaleza e disposição. Ela ajuda a todos, sem distinção, e nos ensina que é preciso ter fé para termos um mundo melhor", afirma.

Santa Luzia Luzia, cujo nome quer dizer luz em latim, nasceu em uma família rica e cristã da Itália, no ano de 283. Aos cinco anos perdeu o pai e cresceu sob os cuidados da mãe, que sofria de graves hemorragias. Certo dia, ao peregrinar na cidade de Catânia, a menina e a mãe acompanharam o Evangelho pregado durante a missa e a jovem, então, pediu ao Senhor que a mãe ficasse curada e foi rezar junto à imagem de Santa Águeda. No mesmo instante, a cura aconteceu.

Naquela época, a religião cristã era proibida no Império Romano e quem a praticava sofria perseguições. Luzia tinha resolvido distribuir toda a sua riqueza aos pobres e exercia a sua fé. Percebendo que ela e a mãe eram cristãs, um jovem denunciou-as ao Imperador Diocleciano. Como Luzia se mostrou firme diante da fé que carregava, acabou sofrendo inúmeras crueldades.

Vendo que não seria possível convertê-la, Diocleciano mandou jogá-la numa casa de prostituição, mas ninguém conseguia tirar Luzia do local onde ela se encontrava porque os pés ficaram firmes no chão. Em seguida, tentaram queimá-la viva, mas as chamas nada fizeram contra ela. Por fim, os soldados arrancaram-lhe os olhos mas, no mesmo instante, na face de Luzia, brotaram outros olhos. Vendo que nada a fazia renegar a fé em Jesus Cristo, mandaram degolar a menina.

Era 13 de dezembro de 304. A partir deste dia teve início a devoção à Santa Luzia, 12 dias antes do Natal para indicar ao cristão a necessidade de preparação espiritual e sua iluminação correspondente para a importante data que se aproxima. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro e permanecendo até hoje.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.