Santa na ceia: panificadora de Irmã Dulce produzirá 590 mil panetones para o Natal

Expectativa de boas vendas é grande; lucro é todo revertido para as Obras Sociais

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  • Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Osid

Para dar conta da produção dos panetones Santa Dulce, que completa 25 anos neste Natal, o Centro de Panificação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) contratou cerca de 60 funcionários temporários e prevê aumentar a produção em mais de 20%, se comparado com o ano anterior. Mesmo produzindo outros alimentos durante o ano, é neste período que a produção cresce e o lucro com a venda de panetones chega a ser equivalente a 40% do total do faturamento.

Toda a venda dos panetones é revertida para a manutenção das atividades do Centro Educacional Santo Antônio, o Cesa, que atende 780 crianças em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Apesar da crise econômica que afeta o país, desde o ano passado as vendas cresceram, o que fez com que a meta seja agora produzir 590 mil panetones.

“Geralmente o que se visa com o produto é o lucro, mas aqui nós temos um olhar diferenciado, a panificação é fundamental para o Cesa”, afirma Daniel Nascimento, que gerencia a produção do centro.

As Osid também anunciaram uma mudança no design da marca. Agora, a santa aparece com a sua imagem aureolada nas embalagens novas das três versões do panetone. Além disso, um QR Code foi colocado e, quem comprar o produto, pode direcionar o celular para o código e ter mais informações sobre o Centro Educacional Santo Antônio.  

“Atualizamos o nosso símbolo, que remete mais à santa, para dar mais visibilidade ao produto e também adicionamos um QR Code, no qual as pessoas podem acessar o site e visitar o projeto que estão ajudando”, explica Sérgio Lopes, que trabalha nas Osid. 

Além de serem comercializados em Salvador e na Região Metropolitana, os panetones são vendidos em cidades do interior do estado como Vitória da Conquista e Itabuna, e em Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e Lagarto, em Sergipe.

Educação de referência

O Cesa, que sobrevive graças aos lucros da venda dos produtos natalinos, é um polo de referência na educação dos jovens de Simões Filho. O complexo, que também abriga o Centro de Panificação, oferece a educação formal e, no turno da tarde, atividades esportivas; além de assistência odontológica e psicossocial, a última para toda a família. “O objetivo do nosso projeto é proporcionar um destino diferente para esses jovens que estão em estado de vulnerabilidade", afirma Sérgio Lopes.

As três refeições diárias que o Cesa oferece aos estudantes também representam uma ajuda importante para a comunidade local. Marluci Oliveira é mãe de dois filhos que passaram pelo Centro e trabalha no setor de panificação como assistente administrativa. “Às vezes, nossos filhos em casa não têm nem vontade de se alimentar, tem dias que nem tem o que dar [para comer], e, ao chegar na escola, eles se alimentam”, diz Marluci, que trabalha há 18 anos no complexo.

O Cesa possibilita que os funcionários matriculem seus filhos e também atende alunos da rede municipal, do primeiro ao quinto ano; e estadual, do sexto ao nono ano. Durante a pandemia, com as aulas presenciais suspensas, a escola forneceu material para que os alunos pudessem ter interação virtual.

Outra funcionária que possui um filho matriculado no centro é Daniela Costa, assistente administrativa que trabalha há 16 anos nesse núcleo das Osid. Um de seus filhos cursou o ensino fundamental II e outro estuda há três anos no local. “O que é importante para mim é a educação que ele tem aqui com o acompanhamento da assistência social, principalmente porque a gente mora em uma região em que há muito risco”, afirma.

Para Rita Fróis, coordenadora pedagógica do Cesa, o projeto busca formar os estudantes para que eles concorrem em situação de igualdade com alunos da rede privada, por exemplo. “Proporcionamos diversas dimensões para que eles tenham uma formação mais criativa, flexível e autônoma”, explica.

Crianças e adolescentes 

A história do Centro Educacional Santo Antônio é mais um exemplo da luta da Santa Dulce para ajudar os menos favorecidos. Sensibilizada com crianças e adolescentes que viviam nas ruas de Salvador e eram invisíveis para o poder público e, muitas vezes, também para as próprias famílias, a religiosa construiu um abrigo que funcionava em tempo integral, em 1964, quando o então governador Lomanto Júnior doou o terreno que antes era ocupado pelo Núcleo Agrícola do Estado, em Simões Filho.

A distância do local para o centro de Salvador não impediu que Santa Dulce visitasse o abrigo pelo menos duas vezes na semana. Nas quartas-feiras e sábados, ela acompanhava pessoalmente assuntos administrativos, além de atender cada um dos internos, distribuindo carinho e bênçãos.

Na época, o então Centro de Recuperação para Menores Abandonados tornou-se referência no amparo às crianças em situações de vulnerabilidade. Depois de 30 anos, o modelo de internato já não era bem visto pela sociedade ou pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, criado em 1990. O orfanato então passou por uma renovação, extinguiu o internato e hoje oferece diversas atividades para os jovens.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo