Santo Antônio: governo entrega obra marcada por furto de material e atrasos

Moradores dizem que obra não está pronta: 'terá que ser revista'. Conder explica próximos passos

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 15 de maio de 2021 às 22:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Fernando Vivas/GOVBA
. por Foto: Fernando Vivas/GOVBA

Após mais de um ano do início de obras, a requalificação do Santo Antônio Além do Carmo será concluída neste domingo (16). As modificações fazem parte do Programa PAC Pavimentação (Projeto Pelas Ruas do Centro Antigo) e foram executadas pelo Governo do Estado via Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur). Mas o que pode parecer um alívio para a vizinhança, após tantos percalços que envolveram atrasos e até roubo de materiais, é motivo de preocupação para alguns moradores que consideram que a requalificação não está pronta e questionam a qualidade na execução do projeto.

“A obra não está pronta. A maior parte dela terá que ser revista. Fora a instalação na fiação no solo que ainda não foi feita, há os buracos, problemas de escoamento sanitário, piso das ruas que já estão soltando. Estamos preocupados e com receio de que como tantas outras, essa também seja abandonada, gerando ainda mais problemas”, afirma o fotógrafo Mário Edson, que possui um ateliê na Ladeira do Boqueirão.

[[galeria]]

Outro morador, que preferiu não se identificar, reclama do comprometimento do patrimônio cultural que o bairro carrega.“Passo todo dia e vejo o absurdo, porque é uma obra que se arrasta e que não se sabe se foi feito algum tipo de estudo sobre recuperação histórica, o que pode estar descaracterizando coisas”, comentou o professor sob anonimato.A requalificação começou em março do ano passado e a previsão inicial é de que seria concluída quatro meses depois. No entanto, foi adiada para dezembro e depois, fevereiro desse ano.

De lá para cá, durante a execução da obra, assim como as queixas de moradores, houve ainda o episódio do roubo dos fios de cobre, que terminou com quatro pessoas indiciadas por furto e associação criminosa. Obras começaram em março do ano passado (Foto: Fernando Vivas/GOVBA) Próximos passos Ao CORREIO, a Conder disse em nota que a fiscalização do órgão já vistoriou as inconformidades e a empresa Pejota Construções, responsável pela obra, já foi notificada e vai iniciar na segunda-feira (17) os retoques necessários, como a troca das tampas de concreto das caixas de rede de água e telefonia quebradas por conta do tráfego irregular em cima das calçadas por carros que usam as vias do bairro.“Logo depois, a Coelba assume a próxima etapa com a retirada dos postes antigos de concreto e de ferro colocando luminárias tipo lampiões em estilo ‘caiscais’ que remetem ao colonial na Rua Direita. Já na Ladeira do Boqueirão serão instalados pequenos postes de metal cujo design se inspira no final do século XIX”, diz o comunicado.Ainda segundo a Conder, os atrasos ocorreram devido ao esquema de revezamento de operários que foi necessário adotar durante a pandemia, a fim de evitar a contaminação dos trabalhadores, o que diminuiu as jornadas e o ritmo de execução.

A escassez de material em toda a Bahia, como cimento e paralelepípedos, mais a interferência do período de chuvas intensas, também comprometeram a continuidade do serviço em alguns momentos, informou o órgão. As prospecções arqueológicas - obrigatórias por lei - com escavações ao longo de área, foi mais um motivo para a definição de novos cronogramas. Foto: Fernando Vivas/GOVBA Bairro histórico Esta é a primeira obra no bairro em 40 anos com o intuito de modernizar todo o sistema de iluminação pública das ruas e de melhorar a acessibilidade. A requalificação da rua principal, no Centro Histórico de Salvador, a Rua Direita, e da Ladeira do Boqueirão inclui a retirada do asfalto de 17 mil m² de ruas, ampliação de calçadas com novo granito e pedras portuguesas e um sistema de acessibilidade, além do rebaixamento subterrâneo dos fios em vala técnica com 16 mil metros de tubos para eletricidade e telecomunicações.

Além de abrigar monumentos tombados individualmente como o Oratório da Cruz do Paschoal, a Igreja do Boqueirão e o Forte de Santo Antônio, o bairro de Santo Antônio como um todo é legalmente protegido. O local faz parte de uma região de tombamento federal como Patrimônio do Brasil (1984), chancelada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio da Humanidade devido ao conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico.