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Bruno Wendel
Publicado em 19 de julho de 2019 às 16:10
- Atualizado há 2 anos
A noite desta quinta-feira (18) dificilmente será esquecida pelos moradores do Jardim Santo Inácio. Isso porque, mais uma vez, o bairro sofreu um ataque da facção Bonde do Maluco (BDM). O grupo comanda o tráfico na região vizinha da Mata Escura e deixou pelo menos um morto. A vítima foi Juarez Bispo Júnior, 34 anos, que, segundo a polícia, era irmão do traficante Jau, uma das lideranças do Comando da Paz (CP), facção que atua em Santo Inácio.>
Depois da noite de muitos tiros e pavor para os moradores, policiais civis e militares chegaram ao bairro por volta das 6h desta sexta-feira (19). Para tentar garantir a segurança, circularam em viaturas do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Coordenação de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil (COE), da 11ª Delegacia (Tancredo Neves) e da 48ª Companhia Independente da PM (Sussuarana).>
As unidades garantiram o funcionamento normal do serviço de transporte público, abertura das escolas públicas e privadas, além de postos de saúde e comércio local. Vídeo mostra criminoso com arma em mãos (Foto: Reprodução) Vídeo A polícia foi informada da morte de Juarez por volta das 20h20 de quinta. Mas, meia hora antes, já circulava no aplicativo WhatsApp um vídeo do terror disseminado por integrantes da facção BDM de Mata Escura, inclusive mostrando nitidamente o momento do assassinato da vítima. O CORREIO teve acesso ao material e optou por não divulgá-lo.>
O vídeo, gravado por um dos bandidos, tem 2m44s de duração. Com celular em punho, ele exibe a todo momento uma pistola em mãos. “É o bonde, desgraça. Bota a cara aí”, grita o homem, mais de uma vez, ao mesmo momento que atira aleatoriamente – ele parecia liderar o grupo que estava espalhado no final de linha do bairro.>
Pelas imagens não é possível dizer quantas pessoas participaram da ação, mas é possível contar mais de 10 envolvidos, todos com os rostos cobertos por panos e armas na mão. “Nós deixa é no chão (sic). O bonde é maluco”, berrava o autor do vídeo, correndo em direção ao corpo de Juarez. “Derrubei lá no chão, derrubei aquela desgraça. A gente só vai sair quando matar mais”, dizia ele ao se aproximar ainda mais do corpo. >
O vídeo mostra ainda parte do bando ao redor de Juarez e um outro integrante diz: “É alemão, é alemão”. Nesse momento, a imagem mostra os criminosos disparando uma série de tiros contra a cabeça da vítima, já morta no chão.>
Em seguida, o grupo se encontra, desce uma das ruas que dá acesso à Mata Escura e atira, enquanto grita palavras de ordem da facção. “Atividade nas costas, atividade nas costas quem ainda está com bala”, diz o autor do vídeo, pedindo para que os demais fiquem atentos a um possível revide do grupo rival. Antes de encerrar a imagem, o traficante berra: “Nós está aqui na sua rua toda (sic). Bota cara CP”.>
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Ocupação Era por volta das 6h quando as equipes das polícias Civil e Militar chegaram ao Santo Inácio. A operação foi dividida em duas equipes. A primeira foi designada para garantir a sensação de segurança no bairro, com policiais espalhados em vários pontos da rua principal, possibilitando o funcionamento do comércio, escolas, posto de saúde e a circulação de ônibus. Já a segunda equipe fazia uma incursão nos principais pontos de acesso do bairro à Mata Escura, no intuito de capturar os criminosos que participaram no ataque de quinta. >
“Vamos apertar o cerco contra eles. Infelizmente, o que aconteceu na noite de ontem (quinta) foi consequência da rivalidade entre as facções. Lá (Mata Escura) é BDM. Aqui é CP”, disse ao CORREIO um dos agentes do DHHP que participava da operação.>
De acordo com ele, o alvo dos bandidos era o traficante Jau. “Ele (Jau) é o líder do CP aqui. Mas o BDM encontrou o irmão dele na praça e matou”, contou o policial. Perguntado se a vítima tinha envolvimento com o crime, o agente respondeu: “Estamos checando. O que é possível dizer é que ele era irmão de Jau, o alvo do ataque”. >
Apesar da presença da polícia, moradores e comerciantes não esconderam o medo. “Até agora está tudo certo, mas os policiais ficarão aqui constantemente? Não. Vai acontecer o que vem acontecendo sempre. Quando a polícia sair, eles voltam e matam de novo”, disse uma dona de casa ao CORREIO, que preferiu ter seu nome preservado.“Essa guerra parece não ter fim. Este não é o primeiro caso. A polícia é quem mais sabe disso. Por que não instalam uma Base Comunitária aqui, como fizeram em outros bairros que passaram pelo mesmo problema? A gente precisa de policiamento constante”, completou o dono de uma lanchonete que também pediu anonimato.Esse não é o primeiro episódio de violência envolvendo facções no bairro. Em março deste ano os ônibus pararam de circular no Jardim Santo Inácio logo após a morte de duas pessoas em uma ação do BDM. O encarregado de vendas Djalma do Patrocínio Santos Júnior, 44, e o estudante Eduardo Bispo Santos, 18, foram baleados e mortos em um lava a jato do bairro, na noite do dia 23. O estabelecimento onde o jovem foi morto ficava perto da igreja que a vítima frequentava e também do ponto de acarajé da mãe dele. A baiana e o marido testemunharam a morte do filho e por pouco também não foram assassinados.>