Santo querido: baianos rendem homenagens a Santo Antônio

Programação extensa celebra, nesta segunda (13), um dos santos mais amados pelos católicos

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  • Priscila Natividade

Publicado em 13 de junho de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

O que seria de mim, meu Deus, sem a fé em Antônio? “Sábado, eu até agradeci a ele por tomar a quarta dose da vacina contra a covid e de não ter pegado o vírus durante todo esse tempo”, revela o professor Antônio Costa. Devoção que carrega não só no nome, mas na tatuagem no braço e nas imagens que coleciona do santo, a quem a tradição católica dedica todas as homenagens nesta segunda-feira (13). 

“Minha história com o Santo Antônio  é desde pequeno. Minha mãe era devota e colocou meu nome por causa dele e de meu avô. Ele é meu guia aqui na terra. Cada graça alcançada, eu rezo uma missa, faço trezena todos os anos, levo meus 13 pães, arrumo o altar  com velas e flores”, acrescenta.

O professor Antônio tem 10 imagens do santo espalhadas pela casa desde a porta de entrada até o último vão e relembra quando uma imagem foi ‘surrupiada’ por uma solteirona conhecida, que ele prefere não identificar para não ficar chato, mas garante que o casamento aconteceu:“Tenho Santo Antônio na entrada, no quarto, na varanda, na cozinha.  Minha aproximação com ele é meu sustento de fé, força e luta. Já pegaram um Santo Antônio meu. Descobri que essa pessoa tinha o maior medo de ficar solteirona porque, na época, já tinha passado dos 30”.Não por acaso, o santo é um dos mais queridos da Igreja Católica, que nesta segunda-feira oferece uma vasta programação de missas, quermesses e orações (confira abaixo). Na Arquidiocese de Salvador, além das quatro igrejas dedicadas a ele, 41 comunidades de outras paróquias e a Igreja de São Francisco prepararam celebrações especiais. 

Na Igreja Santo Antônio da Barra, na Ladeira da Barra, por exemplo, serão celebradas 11 missas entre as 6h30 e as 19h30, como adianta o reitor, padre José Ivan Dias, da Ordem dos Jesuítas. “Santo Antônio é querido pela sua abertura de coração ao projeto de Deus. Ele soube viver tudo isso na humildade e é tão importante porque se identificou muito com a necessidade dos irmãos e dos mais pobres. A nossa igreja faz hoje uma carreata pelas principais ruas da Barra, Graça e Vitória. Claro que, como pede o momento de pandemia, tudo com muito cuidado para homenagear nosso santo protetor”.

É justamente esse aconchego e proteção que a professora Maria José Pinheiro, 66 anos, encontrou na devoção a Santo Antônio. Quando criança, ela sempre via a mãe ajoelhada rezando para ele. “Quando minha mãe faleceu, eu herdei o Santo Antônio. Foi dado a mim com muito amor. Daquele dia em diante resolvi fazer a trezena e tê-lo como fiel companheiro”.

Já no caso da aposentada Adelita Onofre, 62 anos, além da avó rezar para Santo Antônio no município de Cachoeira, uma vizinha na rua onde mora, em Periperi, também chamou sua atenção para o santo, ainda criança. “Minha avó rezava, mas o Santo Antônio de Dona Mercês, que não está mais no plano físico hoje, teve um significado muito importante para mim. Rezo desde os meus 10 anos. No último dia, era uma festa na casa dela, soltava os fogos de madrugada. Era um canto belíssimo, uma harmonia muito bonita. Dona Mercês pedia pelas pessoas da rua que iam até ela agradecer. Era um momento de muita afetividade”.

A fé de Adelita já rendeu muitas graças alcançadas, entre elas, a compra de uma casa. “Já fiz simpatia de pedido durante 13 noites, vou nas missas, participo das trezenas. Para mim, Santo Antônio representa tudo. É esperança. Força para superar o desespero, a descrença, principalmente na política, que nós estamos vivendo. Uma devoção, não de alienação, nem de submissão, mas que serve de um apoio de enfrentamento que é importantíssimo”, complementa a aposentada.

Uma simpatia de santo Assim como cada um tem sua graça alcançada, cada religioso conta uma história sobre a fama milagrosa de casamenteiro que o santo carrega. Uma delas, lembrada pelo reitor da Capela Santo Antônio da Barra, padre José Ivan Dias, é mais ou menos assim: várias mulheres solteiras pediam a intercessão de santo Antônio para casar, porém, sem dote, a busca pelo marido ficava ainda mais difícil.“Então, essa mulher se pôs a rezar diante da imagem do santo e, ao pedir tal graça, caiu na mão da moça um bilhete onde estava escrito que ela procurasse um determinado comerciante da cidade para conseguir o dote. Quando o comerciante colocou esse bilhete na balança, ele pesou tanto que a moça conseguiu o dinheiro para o casamento”, complementa o padre José Ivan.De altar florido e arrumado, a Paróquia Nossa Senhora da Saúde e Glória, no bairro da Saúde, também é mais uma igreja que acolhe homenagens a Santo Antônio. Às 18h, acontece a reza solene com a benção do Santíssimo Sacramento, distribuição de pães, quermesse com quitutes típicos dos festejos juninos e fogos de artifício.

“Santo Antônio é conhecido porque ele tinha todo texto do evangelho memorizado na cabeça, vivia a espiritualidade e fé. Quanto mais rica a família, maior seria o dote. Muitas jovens ficavam no ‘caritó’, a mercê, sem casar. O padre Antônio começou a campanha para formar uma ‘poupança’ para aquelas moças. E conta-se que Antônio conseguiu juntar muito dinheiro e ajudá-las. Daí, ele se torna o santo casamenteiro”, explica O pároco da igreja da Saúde, padre Valson Sandes.

Admirado também pelos franciscanos, a Ordem dos Frades Menores (OFM) promoveu ontem a 2ª edição da FREIjoada de Santo Antônio, no Largo do Cruzeiro de São Francisco, no Pelourinho. É o Frei Felipe Ferreira quem conta mais uma história por trás das medalhinhas e do bolo de Santo Antônio. Os primeiros frades franciscanos que chegaram aqui trouxeram a devoção a Santo Antônio, por isso, ela é uma das mais antigas do país.

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“Uma moça muito aperreada foi pedir uma invocação de Santo Antônio e uma mulher colocou uma medalhinha no bolo e disse: se você achá-la, ele vai te dar um casamento. Dito e feito, achou a medalha e no outro ano casou. A tradição é tão popular que deu origem ao bolo de Santo Antônio em que são colocadas 13 medalhinhas e a felizarda que encontrar vai casar em seguida”, afirma.

Fama e adoração     Funcionária pública, Tita Bahiense, 56 anos, estava casada há 10 anos, mas não conseguia engravidar. Pela primeira vez, pediu a Santo Antônio que intercedesse por ela. Dois meses depois ela estava grávida de Tiara e Antônia, que hoje - na mesma data em que se rende homenagens a Antônio - completam 17 anos.“Um médico disse a meu marido que ele não podia ter filhos, mas, depois da minha oração eu pari no dia de Santo Antônio. E de lá para cá são 17 anos que eu rezo todos os anos, todos os dias. Até quando Deus me der vida, eu continuarei com essa devoção".Tita se reúne com um grupo de 13 amigas para fazer essas orações, o Clube das 13. “Meu marido teve um AVC pós-covid e com muita oração e pedindo muito a Santo Antônio depois de 62 dias de hospital, UTI, ele conseguiu sobreviver e está em casa lúcido, andando, falando. Mesmo com a pandemia, a gente continuou fazendo nossa oração online. Hoje, vamos finalizá-la presencialmente aqui em casa”, diz Tita.

Nesta segunda-feira também, o técnico de enfermagem aposentado, José de Deus, 67 anos, encerra suas homenagens a Antônio. Zé começou a rezar quando um parente dele falecido passou a imagem que havia ganhado de um padre para que ele continuasse a festa, no município de Jacobina. 

“Com a morte do fundador, eu assumi a direção da festa na comunidade. Santo Antônio e a trezena significam para mim graça, milagre, benção”. Pessoas sempre vão à capela, agradecer com vela. “Tenho promessa na minha doença, que me recuperei e estou aqui contando a história”, completa.

PROGRAMAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO

. Paróquia Santo Antônio Além do Carmo (Largo do Santo Antônio Além do Carmo) Alvorada às 6h, seguida de Missas às 7h (presidida pelo bispo auxiliar, Dom Marco Eugênio Galrão), às 9h, às 11h e às 16h. Por volta das 17h30 haverá uma procissão pelas principais ruas dos bairros Santo Antônio Além do Carmo e Barbalho, saindo e retornando para a Matriz, onde, após a chegada dos fiéis, será celebrada a Missa de encerramento dos festejos, sob a presidência do bispo auxiliar, Dom Valter Magno de Carvalho.

. Paróquia Santo Antônio (Cosme de Farias) Alvorada às 6h, seguida da reza popular e carreata pelas principais ruas do bairro. Já às 17h30 os fiéis farão uma concentração no Largo dos Paranhos, de onde sairá a procissão que seguirá até a Matriz para a Santa Missa Solene, encerrando os festejos.

. Paróquia Santo Antônio (Fazenda Coutos) No dia festivo, 13 de junho, a Santa Missa, também às 19h, será presidida pelo bispo auxiliar, Dom Dorival Barreto.

. Igreja e Convento São Francisco (Largo do Cruzeiro de São Francisco, no Pelourinho) A programação de hoje conta com missas, às 7h e às 10h; a Novena Popular de Santo Antônio, às 15h; e a procissão pelas principais ruas do Pelourinho, às 16h, seguida da Santa Missa Solene de encerramento, mais a quermesse.

. Igreja Santo Antônio da Barra (Ladeira da Barra) No dia dedicado ao santo serão celebradas missas às 6h30, às 8h, às 9h, às 10h, às 12h, às 14h, às 15h, às 16h, às 17h, às 18h e às 19h30.

. Paróquia de Santo Antônio (Portão, em Lauro de Freitas)  No dia dedicado ao “pai dos pobres”, 13 de junho, haverá uma procissão, com saída da Comunidade Sagrado Coração de Jesus às 18h30, seguindo até o Terminal Rodoviário João Expresso, onde, por volta das 20h, será celebrada a Missa Solene.