Se ligue: o gerente de banco parece seu amigo mas não é

Confira cinco histórias que ele vai usar para tentar convencer o consumidor

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  • Priscila Natividade

Publicado em 25 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: Isaac de Moraes Neto

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar bem claro que eles não são os ‘bad guys da história’, tão pouco fazem isso para bancar os espertos. Mas o fato é que todo gerente de banco precisa bater metas e por isso vai usar algumas estratégias para convencê-lo a contratar aquele determinado produto ou serviço que precisa ser vendido. 

Na segunda matéria da série da Carteira Correio sobre os Mitos e Verdades, especialistas em finanças e educação financeira vão desmistificar estas situações que o consumidor pode enfrentar na ida a uma agência bancária: seja para contratar uma linha de investimento ou negociar a liberação de um crédito. 

“Quem paga o salário do gerente é o banco - e não o consumidor. No final das contas, o interesse dele não é exatamente alinhado com o do cliente. Eu já vi muita gente contratar um produto sem entender ou conhecer as regras ou sem ter o perfil adequado. Pergunte, pesquise, busque informações antes de contratar qualquer serviço, produto ou aplicação”, aconselha a criadora do canal Finanças Femininas, Carolina Ruhman Sandler. 

Aquele argumento de que é só ‘x’% de taxa ou ‘y’% de tarifa não cola. O sinal de alerta do consumidor também deve ficar ligado com relação ao custo efetivo total (CET) da operação, como sinaliza o economista do portal Juros Baixos, Lereno Soares. “O que você tem que olhar é o resultado final. No CET estão expressos todos os encargos, impostos e taxas. É esse número que você tem que comparar na hora de achar uma linha de crédito cara ou barata”. 

1. GERENTE DE BANCO TAMBÉM TEM QUE BATER META  'Quando o gerente liga do nada para oferecer um produtoas chances de ser algo que ele precisa vender são altas', afirma Carolina Ruhman Sandler (Foto: Divulgação) Quer um conselho? Ele é gentil e visto até como uma espécie de ‘guru’ pelo cliente que busca uma linha de crédito ou decide investir. O gerente de banco é legal, não dá para negar. No entanto, por melhor e mais bem intencionado que ele seja, ele  precisa bater metas de venda. Se o consumidor não estiver armado de conhecimento pode entrar numa fria. “Quando o gerente liga do nada para oferecer um produto, fique atento: as chances de ser algo que ele precisa vender são altas. Além disso, nunca peça uma dica de investimento sem um contexto maior. Pedir ajuda para aplicar o dinheiro sem explicar  prazos, perfil e objetivo pode ser uma cilada. É  melhor sempre deixar claro o que precisa e comparar produtos em outras institui ções”, aconselha a criadora do canal Finanças Femininas, Carolina Ruhman Sandler. 

2. 'CUSTA SÓ R$ 10 'É preciso enteder como os bancos ganham dinheiro', pontua Lereno Soares (Foto: Divulgação)  Cesta de serviços  Muitas vezes as taxas estão ali sem que o consumidor nem perceba quanto são diluídas em pequenas e ‘irrisórias’ parcelas mensais. E então, mesmo sem saber de onde vem ou porque vem, o consumidor deixa passar. Mas é importante saber quanto custa, inclusive, o valor de uma consulta do extrato, como orienta o economista do portal Juros Baixos, Lereno Soares. “É preciso entender como os bancos ganham dinheiro. Não é ilegal e nem imoral ganhar dinheiro, muito pelo contrário. O que não pode haver é falta de transparência. Por isso, os preços dos empréstimos, investimentos e seguros também variam de banco para banco. É fundamental comparar em diversas instituições financeiras”, diz. E antes de contratar qualquer produto ou serviço, pense se é mesmo necessário adquiri-lo. Também é preciso conhecer sua cesta de serviços, o que ela dá direito e adequá-la às movimentações bancárias que faz.  “Não enriqueça o banco à toa. A força do tempo e dos juros compostos é implacável com o seu dinheiro”, completa. 

3. CAPITALIZAÇÃO NÃO É INVESTIMENTO 'O serviço onera o investidor e faz seu capital render a uma taxa praticamente nula', explica Ramiro Gomes Ferreira (Foto: Divulgação) Sem chance Todo mundo deve ter recebido em algum momento da vida bancária a sugestão de contratar um título de capitalização como se isso fosse um investimento. Porém, é necessário esclarecer logo de imediato que ele não é. Na prática, os títulos de capitalização funcionam como um depósito programado em que o banco vai tirar todo mês um valor da sua conta para comprar este título. Até o momento que ele estiver vigente o consumidor concorre a diversos sorteios. “Essa é uma das preferidas dos bancos. Como o brasileiro gosta de sorteios, o serviço onera o investidor e faz seu capital render a uma taxa praticamente nula, por anos, em troca de chances ínfimas de ganhar prêmios - que, por sua vez, são distribuídos por parte da taxa que o próprio investidor paga”, esclarece o criador do Canal Clube do Valor, Ramiro Gomes Ferreira. Resumindo: é cilada. “É um recurso que poderia ser alocado de outra forma. O consumidor também precisa fazer a sua parte. Questione o porquê de cada recomendação, o custo e o seu retorno”. 

4. ESTA INSTITUIÇÃO É MESMO CONFIÁVEL?  'O nosso mercado é bem regulado pelo BC, o que dar boas garantias para operar com qualquer banco' (Foto: Divulgação) Existem sim outras alternativas Experimente dizer ao seu gerente que está pensando em trocar de banco ou contratar uma conta digital em uma fintech. Ele, provavelmente, vai perguntar se a instituição financeira é realmente confiável. Quem vai tirar dúvida é o diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti. “Os grandes bancos podem dizer que somente eles dão segurança aos seus investimentos, mas isto não é necessariamente verdade - o nosso mercado é bem regulado pelo Banco Central (BC), o que nos dá boas garantias de operar bem com qualquer instituição”, afirma. Por isso, a dica é sempre conferir no próprio site do BC  se aquela instituição tem autorização para funcionar. Também vale a pena  acompanhar as notícias sobre estes bancos e startups financeiras e   a reputação deles nos órgãos de defesa do consumidor. Se for investir, observe também se os fundos ou aplicações têm a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) - elas garantem até R$ 250 mil por emissor em caso de quebras. 

5. 'SE VOCÊ CONTRATAR ESSE SEGURO...' 'O banco estará ferindo o princípio básico da relação de consumo', alerta Ingrid Barth (Foto: Divulgação) Venda casada Não existe vínculo entre um produto bancário e outro. A venda casada é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor e é considerada um crime contra as relações de consumo. Ou seja, o banco não pode te oferecer uma taxa melhor se por um acaso o cliente contratar um seguro residencial, por exemplo. Segundo a diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Ingrid Barth, infelizmente, esta prática ainda é mais comum do que se imagina. “O banco estará ferindo o princípio básico da relação de consumo e se utilizando da vulnerabilidade do correntista. Não há necessidade de contratar um seguro de vida automático para abrir uma conta corrente ou ao pegar um empréstimo. Caso isso aconteça, o cliente pode e deve se manifestar o quanto antes e pedir o reembolso”. Por incrível que pareça, acredite: existem tarifas que o banco não pode cobrar como a compensação de cheques, serviços de internet banking ou sobre o saldo anual consolidado. “O cliente precisa ficar atento e reclamar caso aconteça. Se informe sobre estas possibilidades”.