Segunda-feira Gorda da Ribeira, há 31 anos: como a festa perdeu força

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Publicado em 19 de janeiro de 2020 às 05:00

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A expressão no rosto da moça que olha essa senhora caindo no samba no dia 17 de janeiro de 1989, há 31 anos, não engana: o samba no pé era de dar gosto. O que já não era tão empolgante assim, desde aquela época, era a Segunda-feira Gorda da Ribeira.

Algumas pessoas ainda tentavam resgatar a animação da festa que, no princípio, era considerada uma parte da Festa do Bonfim, cuja celebração religiosa acontece sempre no domingo após a Lavagem de quinta-feira, e já foi tida também como prévia do Carnaval. Registro da Segunda-feira da Ribeira de 1989, que caiu no dia 17 de janeiro daquele ano (Foto: Jorge de Jesus/Arquivo CORREIO) O ano era 1989 e, na edição de 18 de janeiro daquele ano, quando o CORREIO completava dez anos nas bancas, um texto curto na capa apontava que, sem apoio, a festa já andava fraca. Na página 5, texto dizia que a festa já tinha perdido "todo o brilho"."Sem o mesmo brilho dos anos anteriores, a Ribeira hoje é uma pálida lembrança da tradicional Segunda-feira Gorda da Ribeira, prévia do carnaval baiano que arrancava multidões", diz o texto.E continua:

"Sem trios elétricos, blocos e afoxés, quem foi até a Ribeira, ontem, se decepcionou. Apenas alguns barraqueiros se aventuraram a ir à festa. E o que se viu foi pouca animação", continua.

Mas, e a senhora que caiu no samba?"Apenas a Barraca Toca do Congo tinha um samba animado, o que atraiu os poucos foliões".Naquela época, o dono da barraca, Nadinho do Congo, já esperava pelo fim da festa, cada vez mais fraca.

Mas, afinal, por que a Segunda-feira Gorda da Ribeira foi perdendo o brilho ao longo dos anos? O historiador Rafael Dantas arrisca uma explicação que, também, está na origem da festa:

"A festa começou como uma extensão aos festejos do Bonfim, afinal o número de pessoas, principalmente de romeiros e visitantes do interior da Bahia, era gigantesco. Muita gente na rua e muita gente no pós-festa. Ou seja, mais festa até segunda", explica."Com o passar dos tempos, as facilidades de encontrar lugar para ficar, transportes e deslocamento ajudam os fiéis e participantes (dos festejos do Bonfim). É um processo de transformação social que acontece com outras festas também", completa Rafael.No final dos anos 1980, quando o fotógrafo Jorge de Jesus registrou essa foto para o CORREIO, as mudanças urbanas na cidade já impactavam nas festas populares, diz Rafael. Naquela época, o miolo da cidade já tinha sido conquistado e muita gente que tinha onde ficar e onde morar. "Registramos nesse momento um aumento populacional significativo. Tudo isso, ao meu ver, impacta nas festas e antigas tradições", afirma.

Se, há 31 anos, a festa da Ribeira já andava minguando, hoje ela praticamente sumiu. Os trios elétricos já não fazem parte da programação e o festejo se resume a comidas e bebidas nas barracas do local. Foi o que aconteceu com muitas outras festas: "Nos séculos XVIII e XIX, tivemos festejos e procissões que marcaram a cidade... Mas que foram rareando... até sumir", finaliza.