Segurança relata momentos de pânico antes de show do Harmonia do Samba

Dois dos três seguranças mortos no evento foram enterrados nesta terça-feira (7)

  • Foto do(a) author(a) Hilza Cordeiro
  • Hilza Cordeiro

Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 19:29

- Atualizado há um ano

Márcio era coordenador de seguranças (Foto: Reprodução)Dois dos três seguranças mortos nessa segunda-feira (6), no evento A Melhor Segunda-feira do Mundo, da banda Harmonia do Samba, foram enterrados hoje. Os corpos de Márcio Rogério Bandeira, 39, e Derivaldo Rocha dos Santos, 34, foram sepultados no Cemitério de Periperi e no Cemitério da Ordem Primeira de São Francisco, respectivamente. De acordo com familiares, o sepultamento do terceiro segurança, Geraldo Mota Cunha, está previsto para a tarde dessa quarta-feira (8), no Cemitério de Brotas.

Procurada para comentar o ocorrido, por telefone, a empresa Leal Segurança, para a qual o trio trabalhava durante a festa, disse que não tinha nada a declarar e que se pronunciaria através de nota.

Durante o sepultamento de Márcio Rogério, em Periperi, bairro em que ele morava, o colega de profissão Isaque Silveira, contou os minutos de pânico durante o tiroteio que provocou o triplo homicídio. “Eu ouvi os ‘pipocos’ e ficamos recuados, encurralados no portão batendo e gritando ‘abre aqui, abre aqui’. Quando voltei, ele estava agonizando e alguém tentava apagar o fogo com um extintor. Eu dizia: ‘ele vai viver’”, narrou.Ainda segundo Silveira, Márcio não trabalhou durante a festa na última segunda (30), em que o traficante Bolsa foi expulso e encontrado morto na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de São Rafael, com sinais de espancamento. Silveira conta que tanto ele quanto Márcio costumavam trabalhar como coordenadores de equipe de segurança. Segundo ele, no evento, sua equipe tinha cerca de 25 profissionais, mas não soube estimar quantos haviam na de Márcio.Márcio também trabalhava recrutando pessoal para atuar como cordeiros de blocos no Carnaval e fazia parte do Sindicato dos Trabalhadores Cordeiros da Bahia (Sindcorda). “Ele tinha conduta ilibada, era uma liderança forte para nós e ajudava nos treinamentos”, conta o presidente da associação, Matias dos Santos. “Quando ele via o folião em atrito com algum segurança, ele intervia e falava que não era assim que se agia. Era passivo, nunca o vi em confusão”, confirma Silveira.  

Uma tia, que preferiu não ser identificada, lamentou a morte do sobrinho. “Ele vivia para o trabalho. Ele malhava para ter condicionamento físico para essas festas”, lembra ela. Márcio era o filho mais velho dos irmãos, não tinha filhos e nem esposa. Ele morava com a mãe, que ficava aos seus cuidados. Muito abalada, ela não foi ao enterro do primogênito. “Ele dizia que não queria casar porque queria ficar tomando conta dela”, contou uma prima.Enterro reuniu amigos e familiares (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)Familiares tinham medo da profissãoUma amiga contou que a mãe não gostava que Márcio trabalhasse como segurança por causa do perigo da profissão. O irmão do segurança Derivaldo também tinha medo da função que ele exercía. “Eu sempre dizia: ‘rapaz, saia dessa vida. Você não tem segurança nem dentro e nem depois do show’. Às vezes, ele ia andando para casa de madrugada porque não tinha transporte para leva-lo”, contou ele, sem se identificar. Ele, que é irmão gêmeo de Derivaldo, relatou ao CORREIO que pressentiu a morte. “Entre as 15h30 para 16h, eu senti uma forte dor de cabeça. Foi o momento exato em que ele tinha sido baleado”, contou. Por volta das 19h, ele recebeu fotos do irmão morto pelo aplicativo de mensagens Whatsapp. Derivaldo deixou uma filha de 8 anos. A cunhada diz não entender o que aconteceu. "Ele estava trabalhando no lugar errado, na hora errada, não dá pra dizer o que aconteceu, estamos em choque", acrescentou.De acordo com os familiares, a Leal Segurança não cobriu os custos dos sepultamentos. Segundo um segurança, as vítimas não tinham vínculo empregatício. O Sindcorda pede que a banda Harmonia do Samba arque com o serviço funerário.