Seleção pra gringo ver

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Miro Palma
  • Miro Palma

Publicado em 13 de setembro de 2019 às 05:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Se teve uma coisa difícil na derrota do Brasil de 1x0 para o Peru, na madrugada de quarta, foi eleger o pior elemento da partida. Pra começo de conversa, ter que esperar até meia-noite, em meio de semana, para ver a bola rolar é um desrespeito com quem pega no batente no dia seguinte. E ter que aguentar até 2 horas da manhã para ouvir o apito final foi castigo ou masoquismo.

Um jogo da Seleção, mandante da partida, que começa à meia-noite do horário de Brasília, não foi feito para a torcida brasileira. Não sei nem se foi pensado para a torcida rival. No entanto, graças ao fuso horário de duas horas a menos que o nosso, os peruanos começaram a assistir ao jogo às 22h. Bom mesmo foi para os americanos que não tinham nada a ver com essa ciranda, mas como a disputa foi sediada em Los Angeles, com fuso horário de quatro horas a menos que no Brasil, tiveram a sorte de dormir cedo.

O campo foi um acontecimento a parte. Sabe-se lá porque, escolheram a casa do Los Angeles Rams, time de futebol americano. Não bastassem as linhas visíveis das marcações das jardas rabiscando o campo todo, a grama baixa e dura atrapalhou demais o desempenho dos atletas dos dois lados. Parecia um baba. Agora, imagine uma confederação pegar os seus melhores atletas, jogadores que figuram nas listas de mais bem pagos do mundo, para jogar um babinha sem vergonha. Impensável? Não para a CBF.

Aliás, a culpada disso é a própria entidade. Sem entrar no mérito da escolha dos adversários, que ela tem total [ir]responsabilidade. Afinal, como bem disse o colega André Rizek, a Seleção Brasileira vive uma eterna Copa América, disputando a maioria dos amistosos contra times sul-americanos. Por enquanto, vamos focar só nessas escolhas absurdas dos lugares que sediam os jogos. Trocando em miúdos, tudo não passa de mais uma herança maldita de Ricardo Teixeira.

O cartola e ex-presidente da CBF por mais de duas décadas, cuja gestão foi marcada por escândalos e denúncias de corrupção, fechou um contrato com uma empresa de fachada sediada nas Ilhas Cayman, a ISE. Aliás, empresa de fachada é bondade minha, porque fachada, fachada mesmo, a empresa sequer tinha. Segundo reportagem do Estadão, a ISE é uma mera caixa postal em Grand Cayman.

A tal empresa é uma subsidiária de um dos maiores conglomerados do Oriente Médio, o grupo Dallah Al Baraka. O tal contrato conferiu à ISE “os direitos exclusivos para organizar, hospedar, realizar, administrar, comercializar e produzir as partidas que serão disputadas em qualquer país ao redor do mundo, inclusive no Brasil”, como informa uma das minutas do contrato ao qual o Estadão teve acesso. Em 2011, poucos meses antes de renunciar ao cargo, Teixeira renovou o contrato por mais dez anos. Ou seja, vale até 2022.

Com isso, a ISE e a Pitch International, que em 2012 sublicenciou a operação, podem fazer o que quiserem com os jogos da seleção pentacampeã mundial. E fazem o que querem baseadas, exclusivamente, em seus interesses mercadológicos. Então, taca-lhe partida nos Estados Unidos ou no Kuwait, como deverão ser as próximas, nos dias 11 e 15 de outubro. E escolhe campo de futebol americano mesmo, se reclamar vai em campo de golfe. Se a partida invadir a madrugada, e daí? Até parece que cartola precisa acordar cedo no dia seguinte. Lotearam a Seleção Brasileira de futebol, meus caros. Já podiam até mudar o nome. Porque se futebol é o menos importante, que batizem de “Seleção Brasileira do merchandising”.