Sem aglomeração: 15 festas de réveillon canceladas na Bahia

Eventos privados, por exemplo, chegavam a atrair até 4,5 mil pessoas com ingressos que passavam de R$ 1 mil

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  • Priscila Natividade

Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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“Assim que a gente termina uma festa de réveillon já começa a preparar a outra. Mas nós entendemos a gravidade do coronavírus Não podíamos causar nenhum dano à comunidade. Foi uma decisão difícil, mas muito responsável. Não é sobre fazer festa, mas sobre ter consciência coletiva”. A afirmação é da sócia e diretora de Novos Negócios da Holding Clube, Juliana Ferraz. O grupo é um dos organizadores de uma das festas de virada de ano mais badaladas do estado. Em 2020, a primeira edição da N1, em Itacaré, agitou a região durante cinco noites levando quatro mil turistas para a cidade, responsáveis por movimentar mais de R$ 50 milhões na economia local. Cerca de 850 pessoas foram contratadas na última edição da festa para serviços diretos e indiretos.

A Holding Clube já começou a preparação para o réveillon de 2022. “Vamos lançá-lo logo no início de 2021 e temos certeza que faremos uma festa linda. O que não podemos agora é fazer uma coisa contra a saúde das pessoas e a comunidade”, completa. O Réveillon N1 é um dos 15 eventos de grande porte listados pelo CORREIO que foram cancelados por conta da pandemia (confira a lista abaixo). Todos os cancelamentos estão confirmados nas redes sociais e sites oficiais das festas ou produtoras. 

A Bahia tem um decreto que determina a proibição de festas em todo território baiano até o dia 4 de janeiro de 2021, a fim de evitar aglomerações que possa facilitar a contaminação pelo vírus. O governo do estado, inclusive, está monitorando as redes sociais de organizações de evento para coibir a realização das festas.

“É preciso estabelecer e cumprir os protocolos sanitários definidos pelas autoridades competentes. Infelizmente, existe uma parte do setor que é irresponsável e está forçando a realização de eventos, de grande porte, de maneira desordenada e ignorando os protocolos de segurança”, ressalta o presidente da Associação Baiana das Produtoras de Evento (ABAPE), Moacyr Villas Boas.

Na lista das festas canceladas tem ainda o Réveillon Celebre, em Salvador. A festa que aconteceu na Bahia Marina na virada de 2019 para 2020  gerou 400 empregos diretos no dia, entre a contratação de músicos, seguranças, serviço de buffet e bar, fora os fornecedores que trabalham na montagem do evento.

“É toda uma cadeia produtiva que deixou de faturar. Porém, a saúde está em primeiro lugar. Temos que pensar fora da caixa e saber que se trata de uma festa de celebração. Assim que tudo isso acabar, faremos uma grande festa de Réveillon que Salvador merece para celebrar o fim da pandemia. Isso e um compromisso nosso com a cidade”, garante o empresário e um dos sócios da Oquei Entretenimento, Rafael Cal. 

Alternativas Com investimento de R$ 4 milhões para realizar a festa e ingressos que custavam R$ 1,2 mil, o Réveillon Simplesmente Luxo, em Praia do Forte, é outro que foi cancelado. De acordo com o sócio da 2GB, da Guto Ulm, festas de fim de ano nessa dimensão costumam atrair um público médio de 3 mil pessoas.“O investimento nessas festas depende do local, do conteúdo artístico e estrutura da festa. Não consigo estimar ainda o prejuízo direto ou indireto, mas o cancelamento do Simplesmente Luxo foi necessário, diante do momento em que estamos vivendo”. O cenário favoreceu que os organizadores de eventos buscassem alternativas para compensar o impacto da pandemia na realização das festas. No lugar do Nanö Réveillon 2021, o clube recreativo localizado na praia de Subaúma, no Litoral Norte da Bahia, apostou no serviço do Day Use que segue durante o verão e conta com toda infraestrutura de respeito aos protocolos sanitários e  com a oferta de lounges separados.

 “Sabemos que o impacto negativo é inestimável, não apenas para o empreendimento para toda o trade turístico de Subaúma. Porém, o Beach Club não precisa de festas para sobreviver. Por isso, todas as ações agora estão voltadas para o Day Use”, afirma a secretaria executiva do Nano Beach Club, Magdala Costa.

O Réveillon do Nanö durava seis dias com uma geração de 200 empregos diretos por dia de evento. “Cada evento contava com público médio de 1 mil pessoas. O preço dos ingressos variava de R$ 700 a R$ 800 (por festa). O público, basicamente, vinha do Rio de Janeiro, São Paulo e do exterior”, completa.

Já o empresário e sócio do Grupo Mil Sorrisos, Omar Maluf decidiu não demitir nenhum funcionário, mesmo com a suspensão do Réveillon Mil Sorrisos, que marcava presença em Barra Grande, na Península de Maraú. O grupo chegava a produzir 10 festas da virada por ano pelo país com uma média de público de 4,5 mil pessoas. Todos os eventos de passagem de ano costumam esgotar em cinco meses antes das festas.“Empregamos mais de 400 pessoas diretamente. Criamos diversos projetos sociais para ajudar as famílias que viviam indiretamente dos eventos e que perderam seus ganhos por conta dessa pandemia”.Rigor Desde o dia 24 de novembro, o governador Rui Costa havia dito que as festas de fim de ano não seriam permitidas visando inibir a aglomeração de pessoas e o contato pelo coronavírus. Em dezembro, ele aumentou o tom do discurso e afirmou, inclusive, que o governo iria monitorar redes sociais de organizações de evento para coibir a realização das festas.

“Vamos fazer um monitoramento rigoroso inclusive em redes sociais para que qualquer estabelecimento que esteja fazendo festa seja fiscalizado e até interditado pela polícia se desrespeitar as regras e fazer festas no réveillon”, disse. 

Outros eventos de luxo como Mareh Nye , em Boipeba chegaram até a travar uma batalha judicial para manter a realização da festa. A organização, no entanto, confirmou a suspensão, em cumprimento à decisão emitida pelo Poder Judiciário. A festa que aconteceria na ilha localizada na região do Baixo Sul ficou para a virada de 2021/ 2022.

Quem brigou pela autorização também foi o Réveillon da Vila, em Santa Cruz de Cabrália, Porto Seguro. “Acreditamos que o nosso conceito seria perfeito para o momento atual, uma pausa em meio à loucura para depositarmos nossas melhores energias e esperanças no próximo ano que está para chegar. Lutamos até o final, mas hoje, com enorme pesar e sabendo que a situação está acima do nosso controle, anunciamos a postergação do Réveillon da Vila para 2022”, disse o comunicado feito no perfil do Instagram @reveilliondavila.

No início da semana (28), o governador Rui Costa voltou a criticar quem insistisse na promoção das festas de réveillon. “Já perdemos mais de 9 mil pessoas para a covid em nosso estado. Chega! Mais do que nunca é preciso sensatez”, escreveu em seu perfil no Twitter. CONFIRA 15 FESTAS DE RÉVELLION CANCELADAS NO ESTADO

1. Réveillon N1, em Itacaré A Holding Clube, responsável pela organização da festa comunicou no mês de agosto que havia optado por não realizar o evento em sua edição 2020/2021. Em sua primeira edição, na virada de 2019 para 2020, a festa contou com shows de Ivete Sangalo, Durval Lelys, Alok, Kevinho e Jorge & Mateus. O agito de cinco dias e cinco noites em Itacaré foi o local escolhido por celebridades Sabrina Sato, Thaynara OG e Mari Gonzalez. Primeira edição do Réveillon N1 atraiu 5 mil turistas para Itacaré (Foto: Reprodução)  2. Réveillon Celebre Idealizado por nomes conhecidos do entretenimento baiano como os irmãos Ricardo Cal e Rafael Cal, da Oquei Entretenimento, Licia Fábio e Lucas Queiroz, a festa all inclusive premium, que aconteceu na Bahia Marina na virada é mais uma das que foram suspensas. Entre as atrações que marcaram presença na última edição estavam a Timbalada, Alexandre Peixe, Batifun, Forró do Tico.

3. Simplesmente Luxo

Depois de cinco anos, o Réveillon Simplesmente Luxo, retornou para o calendário de festas em um dos destinos mais badalados do Litoral Norte: a Praia do Forte. A edição de retomada da festa produzida pela 2GB Entretenimento e Forte Produções contou Ivete Sangalo e Timbalada entre as atrações. A pandemia, no entanto, fez com que a festa sofresse agora uma nova pausa. “Em média, os grandes eventos de réveillon na Bahia recebem 3 mil pessoas”, pontua Guto Ulm, da 2GB.

4. Festival da Virada 2020 Setenta horas de música, 49 atrações em cinco dias de festa, de graça. No último ano, o Festival Virada Salvador recebeu cerca de 500 mil turistas, na Arena Daniela Mercury, instalada na orla da Boca do Rio. 600 ambulantes trabalharam credenciados. Segundo dados da Prefeitura de Salvador, em sua última edição, o evento injetou na economia da cidade, algo em torno de R$ 407 milhões. Neto chegou até a anunciar em 23 de novembro uma live, sem público e com transmissão pela televisão aberta e internet dos shows de Ivete Sangalo e Gusttavo Lima, que aconteceriam no Forte de São Marcelo, no Comércio. Porém, no dia 7 de dezembro, o prefeito ACM Neto comunicou o cancelamento da transmissão da festa diante do aumento de casos de contaminação pela covid-19. A Barra será interditada no dia 31. “É hora de dar choque de realidade em todo mundo. Estamos sacrificando um projeto que a prefeitura desenvolveu para mostrar que nada poderá atrapalhar nosso compromisso de lutar pela saúde pública", disse o prefeito.   Festival Virada Salvador registrou recorde de público no dia 31, com quase 1 milhão de pessoas (Foto: Valter Pontes/Secom) 5. Réveillon Costa do Sol O evento teve sua última edição na virada do ano de 2019 para 2020 no Clube Espanhol, na Barra. Inclusive, o clube já informou no seu perfil nas redes sociais @clubeespanhol, que o horário de funcionamento no dia 31 é de 7h às 14h. No dia 1 de janeiro, o Espanhol está fechado.

6. Nanö Beach Club, Subaúma Após as determinações do governo do estado, a organização do evento cancelou a festa que  tinha começado a venda de ingressos. “Havíamos idealizado uma experiência de réveillon de uma semana no paraíso, com conforto e segurança, e exaltando tudo o que a Bahia tem de mais especial. Nosso compromisso sempre foi com o entretenimento com saúde e segurança. Por isso com a decisão do governador Rui Costa, nós preferimos cancelar o evento”, justificou   o sócio-diretor do Nanö, Mathias Theerens.  Virada no Nanö tinha uma programação com seis dias de festa (Foto: Divulgação) 7. Réveillon Mil Sorrisos, Barra Grande Outro evento que também costumava atrair muitos turistas para a região e que não vai acontecer na virada de 2020 para 2021. No perfil do Instagram da festa @reveillonmilsorrisos, também tem um comunicado: “já vivenciamos cinco anos do nosso réveillon com diversas histórias para contar. Nesse ano, com a falta do Mil Sorrisos em Barra Grande, tivemos uma surpresa! Recebemos alguns depoimentos dos moradores, que observam de perto o impacto da decisão tomada pelo bem Barra Grande e de todas as pessoas envolvidas. Para nós, foi gratificante receber palavras que transmitem tanto apoio e nos dão certeza todos os dias que tomamos a decisão correta. Sem dúvidas essa é a melhor motivação para produzir o melhor Mil Sorrisos no ano que vem”, diz a postagem.    Réveillon Mil Sorrisos retorna a Barra Grande só em 2022 (Foto: Divulgação) 8. Réveillon da Vila, Santa Cruz de Cabrália A festa de luxo que aconteceria em no pacato vilarejo de Santo André foi cancelada. Com ingressos que custando R$ 1,6 mil, a organização do evento acabou emitindo um comunicado no seu perfil no Instagram. “Temos certeza que venceremos essa fase juntos e nos encontraremos  em pouco mais de 365 dias, ao pôr do sol, brindando a chegada de 2022”. A realização da festa recebeu inúmeras críticas dos moradores da localidade onde vive menos de mil habitantes, que ficou conhecida por hospedar a seleção da Alemanha durante a Copa de 2014.

 9. Mareh Nye, Boipeba Após partir para a disputa judicial, no site da festa foi publicado no dia 19 de dezembro um comunicado no site www.mareh.com.br, em que confirma o cancelamento do evento para a virada de 2020/ 2021. “Em cumprimento à decisão proferida pelo Poder Judiciário nos autos da ação proposta pelo Ministério Público, o evento Mareh Nye 2021 não será realizado. Infelizmente, devido ao aumento de casos de covid-19, tivemos nossa permissão suspensa, como todas demais festas e eventos”. O evento que em outros anos passou por São Miguel dos Milagres em Alagoas, Barra Grande do Piauí, Cumuruxatiba no extremo sul da Bahia, a Mareh retornaria esse ano a Boipeba, onde houve a primeira edição da festa que teve início na ilha há 15 anos. Mareh Nye recorreu à Justiça para manter a realização do evento em Boipeba (Foto: Reprodução) 10. Réveillon Maré Blu A festa que sempre aconteceu em uma das barracas mais conhecidas de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas não vai acontecer esse ano depois de 10 edições. Na virada do ano de 2020, o evento contou com shows de Saulo Fernandes e Durval Lélys.

11. Réveillon Axé Moi, Porto Seguro No site da festa que já acontece há 12 anos, antes mesmo de abrir a página www.reveillon-axemoi.com.br/2020, surge o aviso: “devido ao momento de pandemia que estamos vivendo nossos eventos estão temporariamente suspensos. Estamos no aguardo para a autorização de grandes eventos”. Na arena localizada de frente para a praia de Taperapuan, a festa de réveillon durava três noites. Na edição passada artistas como Leo Santana, Dilsinho, Harmonia do Samba, Turma do Pagode, Iza e Solange Almeida foram algumas das atrações.

 12. Batuba Beach Sound, Ilhéus A festa também foi suspensa. No perfil no Instagram @batubabeachsound, posts recentes com alguns momentos que marcaram as edições anteriores da festa: “a saudade é grande, mas não pode nos parar. Já soltamos o aviso – quem não organizou seu réveillon particular, já pode começar. Esse ano não tem Batuba Beach Sound”, diz uma das publicações. 

13. Réveillon Blessed, Vera Cruz  Vera Cruz Léo Santana, Unha Pintada, Jau, Lambassaia, BaianaSystem e Babado Novo foram algumas das atrações da última edição da festa gratuita promovida pela Prefeitura de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. Segundo as estimativas do poder público, mais de 100 mil pessoas passaram pela cidade nos dois dias do evento que está suspenso esse ano. A decisão da prefeitura foi publicada no dia 4 de dezembro no Diário Oficial do Município.

14. Réveillon da AABB, Salvador Promovido pela Associação Atlética Banco do Brasil, uma das festas mais tradicionais da virada, o Réveillon da AABB também foi cancelado. Porém, no site do clube, a AABB oferece como alternativa pacotes de cinco diárias para a hospedagem nos chalés.

 15. Réveillon Cepe Stella Maris, Salvador A festa que também acontece todos os anos no Clube dos Empregados da Petrobras é mais uma na lista das canceladas. Com base em informações publicadas nas redes sociais do clube, o mesmo vai permanecer fechado entre os dias 31 e 4 de janeiro. Os restaurantes ficam sem funcionar até o dia 6.