'Sem água e comida há meses', 50 animais são encontrados em casa abandonada

Acorrentados, doentes e em ambientes sujos, animais foram encontrados em Vila de Abrantes

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Amorim
  • Gabriel Amorim

Publicado em 19 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Comandante França/Brigada K9
. por Fotos: Brigada K9

Se as medidas de isolamento e a impossibilidade de sair de casa e seguir as atividades normais do dia a dia causam estranhamento e trazem sensações ruins, imagine ficar preso em um lugar sujo, sem comida, água, ou até mesmo acesso direto à luz do sol. Foram essas as condições em que foram encontrados 50 animais resgatados nesta segunda-feira (18) pela Brigada K9, especialista em ocorrências envolvendo os bichos.  

O grupo, do Corpo de Bombeiros Voluntários de Salvador, realizou o resgate em um imóvel abandonado na região de Vilas de Abrantes. Ao todo, 30 cachorros e 20 gatos foram resgatados depois de meses presos em canis improvisados dentro e fora do imóvel. A casa não tinha limpeza e os animais - alguns inclusive doentes - conviviam com sujeira, dormindo entre as próprias fezes e urina. 

[[galeria]]

“A denúncia já tinha chegado há uns meses. Por conta da pandemia, a gente acabou ocupado com outras ações e foi necessário um tempo para operacionalizar a logística de caminhões, a equipe, local apropriado de transporte desses animais, e os abrigos voluntários que os receberiam. Nunca nesses anos todos de brigada nunca vi nada igual a essa cena que a gente viu aqui. O lugar cheio de fezes, lama, os animais doentes, todos sujos”, relata o comandante Emerson França, que esteve à frente da operação.

O resgate durou cerca de 11 horas. Os trabalhos começaram às 10 da manhã e só foram finalizados por volta das 21h. A operação contou com o apoio de equipes das polícias Civil e Militar. “Foi comprovado crime de maus tratos e abandono. Os animais todos com fome, em local muito sujo, cheio de lama, trancados sem água nem comida há meses, segundo relatos da vizinhança. Antes do resgate ainda fizemos duas semanas de investigação, comprovando os crimes. A gente chegou a alimentar os animais para ver se alguém aparecia para darmos o flagrante”, diz França.

Segundo informações da Polícia Civil, o fato foi registrado na 26ª Delegacia (Vila de Abrantes), que instaurou um procedimento policial para apurar o caso. Como o local estava abandonado, ninguém foi conduzido durante a operação. 

Cuidados  Todos os animais resgatados foram encaminhados para consultas veterinárias e depois para abrigos parceiros da brigada. As condições relatadas pelos bombeiros causam preocupação em quem atende os bichos. “É um cenário que pode ter vários desdobramentos.

A concentração de animais em um mesmo lugar que não tem limpeza. Uma doença que acometa um animal desses vai ser disseminada muito rapidamente para todos os outros por conta da hiperconcentração”, explica o médico veterinário e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Rodrigo Bittencourt.

O médico aponta que doenças como leptospirose e leishmaniose são dois exemplos do que facilmente pode tomar conta do local. Além disso, os próprios animais podem acabar representando perigo uns para os outros.

“Num ambiente de estresse, quando os animais não são alimentados corretamente, começa a haver canibalismo, violências, agressões entre os animais. Tudo isso pode causar lesões e sem o devido cuidado isso se torna uma porta aberta para infecções. É um cenário de horror, de multiplicação de doenças”, explica. 

Apesar da pandemia, as adoções têm sido incentivadas pelos profissionais, desde que tomados todos os cuidados de proteção na hora de ir buscar o bichinho. “A gente tem até recomendado a adoção, porque o abandono aumentou muito. Então ao adotar de uma organização mais séria, você geralmente está adotando um animal vacinado, cuidado. Então adotando animais já sadios se torna uma ajuda para que o espaço seja liberado para receber um animal que precisa de cuidados”,detalha Bittencourt. 

Ajuda  Fundadora e gestora do Abrigo Doce Lar, Constança Costa conta que de fato o movimento de adoção acabou aumentando com o isolamento. “Com a pandemia os abandonos e as demandas pioraram muito. Ligações relatando abandonos. Mas também aumentaram as adoções, talvez pelas pessoas estarem se sentindo mais sozinhas. Ou por aproveitarem esse tempo em casa para poder adaptar o animal melhor. Tem gente que sempre quis ter um animal mas nunca tem o tempo de ensinar, fazer a adaptação e agora, no isolamento, consegue”, acredita ela.

A instituição que em média doava cinco animais por mês em adoção, soma cerca de 38 nos últimos dois meses. Em contrapartida, 21 animais foram abandonados na porta da instituição nos últimos dez dias e precisaram ser acolhidos 

O abrigo Doce Lar foi um dos destinos dos animais resgatados nesta segunda. “Eu gostaria de pegar todos, mesmo sem ter condições financeiras para manter, eu faria uma campanha, pediris ajuda, mas eu não tenho mais estrutura física para colocar, então eu só pude resgatar quatro, porque não coloco animais a mais do que cabe para não tirar o conforto deles”, conta.

Funcionando desde 2001, o abrigo hoje cuida de 311 cachorros e 53 gatos e conta com a ajuda de padrinhos e madrinhas que à distância escolhem um bichinho para acompanhar 

Sobre a experiência do resgate, a protetora relata com tristeza o que viu. “Foi muito difícil estar lá, um lugar imundo, os animais em uma situação triste. Os animais muito isolados em canis improvisados. Parecia uma solitária de prisão, sem nenhuma condição de habitação. Não consigo parar de pensar, só de imaginar que existem outros lugares desse jeito,que não foram descobertos”

Onde adotar ou ajudar 

Doce Lar - @docelar10 - 71 98767-8944 - ABPA - @abpabahia Instituto Patruska - @institutopatruska  Marcia Menezes- Para adoção de Gatinhos - Bairro Vasco da Gama @marciamariapetsitter (71) 98892-3032

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco