Sem máscara ou agendamento: alguns salões de beleza sequer conhecem novas regras

Porém, maioria respeita regras sanitárias, assim como academias de ginástica 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 12 de agosto de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

São mais de 30 mil estabelecimentos - entre bares, restaurantes, salões de beleza e academias de ginástica - que voltaram a funcionar em Salvador desde a última segunda-feira (10), após a Prefeitura autorizar a ativação da segunda fase da retomada. Na teoria, todos eles tinham que cumprir rígidos protocolos sanitários para garantir a segurança dos funcionários e clientes. Na prática, uma minoria não o faz e teve lugar que nem sabia que tinha protocolo para seguir. 

O CORREIO visitou, na manhã desta terça-feira (11), academias, salões de beleza e barbearias em cinco bairros da capital baiana - Pituba, Brotas, Boca do Rio, Imbuí e Nordeste de Amaralina - para acompanhar o cumprimento dessas regras, após a equipe de fiscalização da Sedur (Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo) não ter encontrado irregularidades nos espaços vistoriados.

“Não sabia que tinha protocolo não, não recebi nenhuma orientação” confessou Val Souza, que trabalha no salão da Mary, na rua Simões Filho, na Boca do Rio. A dona tinha viajado e as outras duas funcionárias também não faziam ideia de que havia um decreto a ser seguido, por isso que, inclusive, abriram a unidade às 8h30 da manhã, o que só pode ser feito às 10h no caso dos salões de beleza. Pelo menos, todas usavam máscara e somente uma cliente tinha sido atendida até às 12h, ou seja, não houve aglomeração.

Sem agendamento Naquela mesma rua, vários estabelecimentos não cumpriam as regras de distanciamento e, principalmente, o agendamento para fazer os serviços, que também se tornou obrigatório pelo decreto municipal para controlar o fluxo de pessoas. Na barbearia Bons de Navalha, por exemplo, seu Almir Ramos, que estava de máscara, não marcou horário para cortar o cabelo: “Passei, vi que estava aberto e entrei para cortar o cabelo. Tô desde de fevereiro sem cortar”. Já a barba, seu Almir faz em casa, uma vez que é proibido fazer qualquer tipo de procedimento que tire a máscara do rosto. “Fiquei com medo na pandemia e agora tem que ter cuidado”, disse o cliente. 

O gerente, Edinei Branco dos Santos, explica que não está agendando porque, como estava fechada durante quase cinco meses, não ia dar muita gente e o movimento não estava grande. “Poucos sabem que tá funcionando”, esclarece o barbeiro, que trabalha com isso há mais de 20 anos e assumiu a gestão do Bons de Navalha esta semana, com a reabertura. Ele fez também um ajuste no preço do corte com a tesoura: antes era 13, agora é 15 reais. Com a máquina, é 12. Havia álcool em gel e a distância correta entre as cadeiras. 

Dentre as sinuosas ruas do Nordeste de Amaralina, havia uma barbearia aberta com um cliente sem máscara. No bairro, que está com medidas restritivas pela terceira vez esta semana, só podem abrir os estabelecimentos de serviços essenciais, a exemplo de mercados e farmácias. Já em Brotas, no salão de dona Delma, que só atende mulheres, nada de depilação do buço por enquanto. Nem sobrancelha, que está autorizado pela prefeitura, ela quer fazer. “Nada que se aproxime do rosto a gente tá fazendo”, preveniu a proprietária, usando duas máscaras ao mesmo tempo. Ela também tirou as cadeiras e, segundo ela, só atende quem agendar. 

"Não cumprir o protocolo é se expor muito ao risco de contágio. Os salões pela própria atividade já não permitem um distanciamento adequado, porque a pessoa vai para fazer a unha, ou cortar o cabelo, então é atendido de perto, de frente as vezes. Se a máscara é retirada, e tem alguem com covid no ambiente é muito provavél a contaminação. O certo é nem servir água e café para que as pessoas não tirem a máscara em nenhum momento", aconselha a infectologista Clarissa Ramos. 

No salão Villa 55, no Imbuí, foi o primeiro dia de funcionamento nesta terça-feira (11) após quase cinco meses. Foram instalados tapetes sanitizantes, divisórias entre os lavatórios e cadeiras e todos usavam os EPI’s necessários. De acordo com a gerente Valdete Teixeira, a aplicação e aceitação dos clientes aos protocolos não está dando problemas. “Eles entendem que a gente está se protegendo e priorizando a segurança dos funcionários e clientes”, diz Valdete. 

A estudante de administração Bianca dos Reis aproveitou para fazer as unhas e acompanhar a mãe. Ela vinha ao salão toda semana, assim como a empresária Esther Coelho, que veio com o filho, para que ele cortasse o cabelo enquanto ela pintava os fios brancos e fazia a mão. Às vezes, ela vinha com a amiga, mas sabe que, por enquanto, não pode. Apesar das limitações, ela aprovou os protocolos. “Fica mais organizado, porque você só vem no horário que agendou. O difícil é se adaptar aos equipamentos e a máscara, que incomoda”, disse a empresária. O cabeleireiro Edinei de Oliveira, que trabalha na barbearia que faz parte do salão, gostou de voltar a trabalhar. “Para o que a gente tava, tá melhor. Melhor do que ficar sem atender ninguém. Vamos fazer o que tem ser feito”, relatou o barbeiro, que trabalha ali há 9 anos. 

Academias de ginástica No andar de cima do salão de beleza, fica a academia A Villa Fitness, que reabriu nesta segunda-feira. Dos 600 alunos matriculados, somente 39 podem malhar ao mesmo tempo, para que o limite de capacidade - 1 cliente a cada 6m² - seja respeitado. As salas de ginástica, onde acontecem as aulas de dança, forró, boxe e outras atividades aeróbicas, ainda não voltaram. Para controlar a permanência dos alunos, que deve ser de no máximo uma hora, a recepcionista anota o nome do aluno e monitora o tempo. Porém, não foi preciso expulsar nenhum “rato de academia” ainda, segundo a recepcionista. 

As orientações começam no telefone, por onde é feito o agendamento, assim como nas redes sociais. A garrafinha de água já tem que vir cheia, já que não pode usar bebedouro, a toalha tem que ser individual e não pode ter revezamento dos aparelhos. Alguns destes precisaram ser interditados, para garantir o espaçamento de 1,5 m entre eles. O funcionamento também mudou. Antes, a academia ficava aberta de 5h às 22h sem intervalo. Agora, há uma pausa de 12h às 14h para higienizar os equipamentos. 

A mesma lógica é usada na academia Well Prime, na avenida Octávio Mangabeira, na Orla da Pituba, que começou a funcionar nesta segunda. As aulas coletivas ainda não voltaram, só a de pilates. O spa permanece fechado, assim como a jacuzzi e a área gourmet, onde só é possível fazer a retirada de alimentos já que comer ali dentro está proibido. Também não é possível usar os banheiros para banho ou imprimir as fichas de exercício, que podem ser acessadas pelo celular. Quem não vem com o telefone, receber as instruções do instrutor. Cerca de 30 máquinas foram interditadas para garantir o distanciamento. A marcação de horário é feita pelo aplicativo e a entrada, após a medição da temperatura, é liberada na recepção, já que o acesso não pode ser feito pela biometria. 

Dos mais de mil alunos matriculados na unidade, somente 115 podem treinar no mesmo horário e cerca de 10% quiserem cancelar o plano. Mas teve gente, como a pediatra Márcia Tavares, que não via a hora de retornar para os treinos. “Estava ansiosa para voltar porque não consigo fazer exercício na rua, não tenho paciência”, desabafa Tavares. Como é médica, ela disse não ter dificuldade em se exercitar com a máscara: “Tô acostumada”. Por enquanto, Márcia só vai ficar na musculação, assim como Kelly Prates, que é nutricionista. 

Pelo celular, Kelly trouxe a personal trainer para orientá-la nos exercícios. As orientações das séries eram passadas pela chamada de vídeo com a instrutora. “Tá sendo diferente, mas a gente vai se adaptando. É difícil treinar de máscara, mas a vontade de querer se exercitar fala mais forte”, conta a nutricionista, que se exercita de 5 a 6 vezes por semana. 

Natália Ferreira, que também é nutricionista, manteve a mesma frequência de treinos. Assim como Márcia e Kelly, ela se ateve só à musculação e priorizou os exercícios de membros inferiores. “Tá melhor do que em casa”, diz a profissional de saúde, que vinha fazendo exercícios através da internet, pelas aulas online. O controle da permanência dos alunos, de uma hora no máximo, é feito por cronômetro, segundo o coordenador Lucas Macambira. 

A maior queixa dos alunos tem sido a máscara. “Em exercícios de alto rendimento dica complicado respirar com a máscara, acaba dificultando muito. Mas a galera tá cumprindo as regras”, relata o educador físico que coordena a unidade, Lucas Macambira. O fluxo de alunos, que era de 500 e 600 por dia, agora é de 200 a 300, em média. “Tem muita gente receosa ainda”, diz o professor. 

Para os médicos, é preciso tomar cuidado. "Se você estar fazendo um exercício que te faz suar, é preciso lembrar que a máscara não pode ficar úmida, você teria que trocar ela. Então, na realidade, o ideal seria optar pelos exercicios ao ar livre, sem o uso da máscara, que não é possível retirar na academia por conta da proximidade das pessoas", diz Clarissa Ramos 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro