Ser-no-mundo da bola junto aos entes figurinhas

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  • Paulo Leandro

Publicado em 2 de novembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Ser-no-mundo ao modo de um jogador laureado é alegria dada a poucos, como Ricky, Osni, Emo, Sapatão e o herói André, aos 73 anos, com todo seu entusiasmo: capacidade de dialogar com os deuses.

O encontro destes ídolos de verdade, ó Sócrates, fez do lançamento do álbum “A História do Futebol Baiano – Tem Peleja no Campo da Pólvora” um banquete olimpiano, causando impacto na existência de cada um dos presentes.

Se coube a Santos Dumont inventar o avião e a Edison, a lâmpada, entre outros cabeças-pensantes, reservará a história a este ser-escrevinhador o mérito e as lacunas de assinar a autoria do álbum da editora Panini, junto a uma plêiade de craques baianos da pesquisa.

Ser-no-mundo-do-futilball impõe escolhas contínuas, e cada efeito, desde o primeiro encontro com a luz, nos alegra ou entristece. O álbum, um simples álbum, pode ter batido todos os recordes de alegria por milênios.

O modo de como existimos depende de nossas escolhas, diferente dos entes, os “intramundanos”. Porque o ser está sempre em jogo, como num imenso campo da vida, nas suas diferentes relações. Se o álbum apenas é, nossos ídolos existem e re-existem.

Ricky, o deus da velocidade; Osni, o esteta, capaz de reescrever com a bola “o Nascimento da Tragédia”, tabelando com Dioniso e Apolo; Emo, reencarnação do veloz Hermes; Sapato Grande, o escudo do Olimpo contra o Monstro Tifão... são seres alados!

E o que dizer de André, sempre ativo e presente em cada um de seus seguidores, graças aos infinitos efeitos de sua raça em campo, nas suas diversas aparições no mundo da bola, o ser-Vitória em devir constante de um septuagenário em estado de graça?

Ao retomar, em linha do tempo, os entes capazes de inspirar uma interpretação do nosso futilball, damos nova vida a Popó, primeiro ídolo; aos “matches” do Campo da Pólvora, origem de tudo; e atualizamos a rica história de teams esquecidos.

Do pioneiro cricket do Victoria às boas-vindas à geração novel, representada no Centro Universitário Unirb, nosso caçula, o passeio completo tem o condão da pluralidade e contribui para recuperarmos a estima.

Vencidos pelos sudestinos, em orçamento, arbitragem, influência da CBF etc, não são poucos os que cedem ao encanto de escolher ser um deles, renegando a Bahia ungida no óleo derramado da maldade.

A condição de coisa ou “ente”, que é a figurinha, permitiria acessar um novo mundo de possibilidades de ser? Ao menos, retiramos de jazigos e covas rasas os nossos heróis, cuja temporalidade esgotou-se e haviam deixado de existir.

Assim, desenterramos os campeões da seleção baiana de 1934, capaz de derrubar o poderio Rio-São Paulo; exumamos os vencedores da I Taça Brasil e aplaudimos os bicampeões de 1988, na medida do que foi possível. Nosso álbum reverencia e eterniza, em cromos auto-colantes, os torcedores invadindo o campo para comemorar títulos, paletando até o Bonfim, junto a dirigentes e jogadores, arriando ebós e lendo a Bíblia, na geleia de convívio própria dos sotero-africanos.

À Panini, à Federação Bahiana e às parcerias multigêneros, eles, elas, elxs, ao repaginar nossa melhor razão de viver, o fútil desporto, deixo aquele abraço, ao modo da aquisição dos pacotes de figurinha pelo ser-torcedor-na-Bahia.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.