Serial thinkers: não podemos esquecer dos seriais pensadores baianos

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  • Nelson Cadena

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 05:01

- Atualizado há um ano

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Admiro os trabalhos seriais de pensadores que são também realizadores, produzem em série durante anos, décadas, são trabalhos monumentais, hoje indispensáveis em pesquisas específicas sobre tópicos do conhecimento. Algumas dessas obras construídas pacientemente, tijolo por tijolo, foram produzidas por baianos.

Dois nomes me vêm à memória do século XIX: Augusto Vitorino Sacramento Blake e João Nepomuceno Torres. O primeiro, nascido em Salvador em 1827,  deixou como legado o seu Dicionário Bibliográfico com milhares de verbetes, em sete volumes, obra construída por sugestão de Dom Pedro II e Ruy Barbosa. A sua obra é o correspondente ao Dicionário Bibliográfico Português elaborado em Lisboa e publicado em 1858 por Inocêncio Francisco Da Silva. Já Nepomuceno Torres, nascido em Nazaré das Farinhas, construiu, em parceria com o pernambucano Alfredo de Carvalho,  os Anais da Imprensa na Bahia, contendo a relação de 1.758 jornais e revistas editados no estado entre 1811 e 1911. Trabalho de fôlego, hoje indispensável para os pesquisadores da imprensa.

Outros dois nomes, serial thinkers do século XX, cabe lembrar aqui: Pedro Calmon e Afrânio Peixoto. O primeiro, nascido em Amargosa, em 1902, construiu a monumental obra intitulada “História do Brasil”, em sete volumes, publicada pela Editora José Olympio em 1959. Calmon  publicou meia centena de livros, a sua História do Brasil se destaca pelo volume de fontes documentais. Já Afrânio Coutinho, nascido em Salvador,  em 1911, empenhou muita energia no projeto da Enciclopédia da Literatura Brasileira, publicada em dois volumes em 1990. Vale lembrar outro serial thinker baiano do século em referência, já ia me passando: o crítico de arte Clarival do Prado Valladares, nascido em 1918, que nos legou a sua monumental obra Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros, em dois volumes publicados em 1972, contendo mais de 2.500 páginas. Hoje uma raridade bibliográfica.

Na Bahia contemporânea, três trabalhos seriais me chamam a atenção e espero que o resultado dessa persistência tenha no futuro o devido reconhecimento, preservando os ditos acervos sonoros e digitais. Destaco primeiro o trabalho de Perfilino Neto, com quase quatro mil programas gravados (Memórias do Rádio e Encontro com o Chorinho) e irradiados pela Rádio Cultura e Educadora, histórias e estórias, documentos sonoros valiosos. Destaco ainda o serial “Deixe o coração mandar”, criado pelo compositor Waltinho Queiroz, irradiado pela Rádio Metrópole há sete anos. Criação diferenciada, inteligente, produção impecável. Como não preservar, pergunto eu.

E, para finalizar,  não poderia deixar de destacar o serial do jornalista e pesquisador Gutemberg Cruz, que desde 2006, 12 anos,  portanto, publica com regularidade posts bem elaborados, conteúdo de qualidade, no Blog de Gutemberg, com foco em artes gráficas, histórias de quadrinhos, chargistas e cartunistas. Devo ter esquecido, com certeza, outros serial thinkers do passado e contemporâneos, me penitencio pelo lapso de memória. Um lapso que não deve acontecer com os guardiães da cultura da Bahia. Temos a obrigação de cuidar desses acervos, um centro de memória capitaneado pela sociedade, com o poder público apenas como apoiador, mas sem a responsabilidade da gestão, seria a melhor alternativa.