Série 'Tiger King' é o escapismo louco ideal para o nosso momento

Documentário está disponível na Netflix

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  • Carol Neves

Publicado em 10 de abril de 2020 às 15:14

- Atualizado há um ano

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Em tempos de pandemia e quarentena, até se sentar para assistir e uma série e se distrair pode ser difícil. Desde quando o cenário atual começou a se desenhar, a ansiedade, as incertezas e o fluxo de notícias ainda mais intenso pareciam impossibilitar de fazer qualquer coisa até então corriqueira. 

Com tudo isso, confesso que demorei um tempo para conseguir me acalmar e uma das primeiras vítimas foram as séries. Não conseguia passar dez minutos assistindo, pensando nas implicações de tudo que está acontecendo.

Comecei a construir meu caminho de volta para a TV através da não ficção. E chegamos à grande estrela da coluna de hoje: a série documental "Tiger King" (A Máfia dos Tigres). (Foto: Divulgação) O resumo da história é um dono de um zoológico de animais exóticos, focado nos chamados grandes felinos, que é acusado de mandar matar uma protetora animal. Já parece uma loucura, mas essa sinopse nem começa a tocar em todas os personagens bizarros e reviravoltas que o documentário apresenta em sete episódios (como sempre a Netflix podia ter sido mais concisa na edição, mas em tempos de quarentena nem vou reclamar por ter mais conteúdo para assistir).

A série tem de tudo e os tigres e leões, coitados, acabam ficando em segundo plano diante dos personagens. Joe Exotic, o "rei dos tigres", é o protagonista dessa história bizarra. Um redneck americano gay que acaba entrando em um trisal com dois garotos mais novos (que dizem ser hetero). Transforma o zoológica em uma espécie de comunidade, ecoa suas ideias através de um programa on-line e chega até a se candidatar a governador de Oklahoma.

A antagonista de Joe é Carole Baskin, dona de uma ONG de proteção ambiental que é contra a exibição e comercialização dos animais selvagens. O passado dela também é explorado e o fato dela ter vários voluntários trabalhando de graça no seu santuário com animais resgatados é apontado pelo outro lado (dizem que ela não ficou muito satisfeita com a série). Outros personagens desse mundinho particular incluem Doc Antle, outro criador que vive em clima de culto em uma propriedade com suas quatro esposas, várias seguidoras-funcionárias e animais selvagens.

A cada novo episódio, um desdobramento ainda mais insano que o do anterior acontece, incluindo aí reviravoltas tristes e chocantes. O realizador Eric Goode teve um grande acesso a todos os personagens da história e vai elencando tudo até alegremente, sem parecer piscar diante dos episódios antiéticos e até criminosos que aparecem.

Não é bem um spoiler, pois já sabemos logo, mas Joe acaba a história atrás das grades, onde está até hoje. Em meio à pandemia, durante uma coletiva com o presidente Donald Trump um repórter perguntou sobre o caso de Joe Exotic, depois que um dos filhos do mandatário americano brincou que falaria com o pai sobre o assunto. "Vocês recomendam que eu o perdoe?", quer saber Trump, que em seguida diz que "vai dar uma olhada" no pedido de perdão para Joe, condenado a 22 anos de prisão.

"Tiger King" funciona como um true-crime exótico e camp e foi o que me ajudou a sair de certo torpor depois que a pandemia do coronavírus começou.