Setor mineral discute os desafios e oportunidades para crescimento na Bahia

Evento reúne empresários, técnicos e representantes dos governos federal e estadual

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 04:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

Uma vez por mês o auditório da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) se transforma em uma espécie de laboratório de boas práticas. Desde o final de 2019, representantes dos governos federal e estadual se reúnem com empresários e profissionais para mostrar o que têm feito para superar os desafios do setor no Brasil. Ontem pela manhã, durante um encontro concorrido formalizou um acordo com o Instituto Brasileiro da Mineração (Ibram) para a realização de eventos e capacitações em conjunto. 

Com o crescimento da atividade no estado e boas perspectivas para os próximos anos, o fórum CBPM e Ibram convidam se tornou um espaço para a disseminação de boas práticas na área de gestão, inovação e sustentabilidade. Ontem, o presidente da RHI Magnesita, Francisco Carrara, e o presidente da Galvani, Ricardo Neves, mostraram o que tem sido feito para garantir o crescimento das unidades implantadas em municípios baianos. 

O presidente do Ibram, Flávio Penido, destacou que a Bahia tem um grande potencial para expandir a atividade mineral. Para o representando do setor, a característica mais marcante do estado é a diversidade da sua produção mineral. “Há projetos relacionados a muitos minérios, como cobre, vanádio, minério de ferro, cobre, zinco, níquel, fosfato, calcário e até urânio. O estado demonstra pujança no setor de mineração”, afirmou.

Penido acredita que a mineração na Bahia já é uma realidade. “A Bahia é o 4º maior estado produtor de minérios. Cerca de 180 municípios têm atividade mineral regular e legal e geram emprego, distribuição de renda e recolhem impostos e encargos”, diz. No ano passado, os municípios baianos recolheram quase R$ 60 milhões em Cfem, o royalty da atividade mineral, lembrou. 

O dirigente fez questão de reforçar que as mineradoras estão tomando providências para aperfeiçoar a segurança operacional de seus empreendimentos, inclusive, a segurança ocupacional, que envolve trabalhadores e prestadores de serviços. Além disso, as mineradoras buscam maior aproximação com as comunidades nos municípios onde a atividade é desenvolvida e junto a sociedade em geral.

“A população dos municípios onde a mineração ocorre já sente isso de perto, como na geração de empregos. Na Bahia, o setor gera 187 mil empregos diretos e indiretos e isso é muito positivo”, afirma.  Desafios Além de conversar sobre as oportunidades, o fórum apresenta também os desafios que o setor vem enfrentando. Neste sentido, o maior destaque, acredita Flávio Penido, são as questões de natureza regulatória. Ele lembra que há estudos em andamento no Congresso Nacional que podem aumentar a tributação do setor. “Tem alguns projetos em andamento que se aprovados podem criar obstáculos e tornar a atividade insustentável no Brasil”, acredita. Ele cita também como exemplo dos desafios a morosidade em processos de licenciamentos. 

“O nosso grande objetivo é aproximar a mineração da Bahia da CBPM e ter a nossa empresa cada vez mais entrosada. Para chegar a isso, vamos investir sempre em novas ações como esta”, afirma o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm. “Nosso estado tem um potencial muito grande nesta área e para ajuda-lo a atingir esse potencial, queremos mostrar que a mineração é uma atividade que vai muito além da criação de buracos no solo”, complementa. 

Para o presidente da CBPM, o caminho para a mineração é se tornar conhecida pelo conjunto da sociedade. “Tem muito o que mostrar porque contribui de maneira decisiva para o desenvolvimento com inovação e sustentabilidade. Nossos eventos mostram que existe muita coisa boa para mostrar e falar no setor”, aponta. 

O presidente da RHI Magnesita, Francisco Carrara, apresentou projetos de expansão que estão sendo estudados pela empresa. Três deles estão na Bahia. Segundo ele, ainda não há confirmação da realização dos investimentos, mas ele cita como exemplo um dos que estão em estudos para a unidade em Brumado, que deverá demandar recursos da ordem dos R$ 160 milhões. Segundo Carrara, a unidade baiana da empresa que fabrica estruturas refratárias (que suportam altíssimas temperaturas e são usadas para a fabricação de fornos industriais) é o “coração” da companhia, que tem um total de sete minas espalhadas pelo mundo. 

Segundo Carrara, o esforço da RHI Magnesita tem trabalhado para verticalizar cada vez mais a sua estrutura de produção. Atualmente, contou ele, a empresa domina 70% do processo, mas o objetivo é chegar a 100% até 2025. “Nós temos a ideia de cada vez menos oferecer uma commoditie para nossos clientes e passar a oferecer uma performance. Queremos vender o resultado, a economia de energia e a garantia da qualidade do produto dele”, explica. 

O presidente da Galvani, Ricardo Neves, destacou a preocupação continua da empresa em inovar. “Existe uma cultura que faz parte da história da empresa, que é de buscar soluções inovadoras e novos processos”, destacou. 

Mineração cresceu 12% em 2019 O engenheiro de minas Paulo Misk, presidente do Sindicato das Mineradoras da Bahia (Sindimiba) e da Vanádio de Maracás, destacou ontem o desempenho da mineração baiana em 2019. O estado encerrou o ano com crescimento da Produção Mineral Baiana Comercializada (PMBC) de 12,33%. Isso representou um valor de comercialização de  R$ 3,6 bilhões. Ocorreu também um aumento de 9,04%, em relação a 2018 na arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), chegando à R$ 57,9 milhões. 

Os principais bens responsáveis por este quadro positivo foram o ouro, com 31%, da exploração, nos municípios de Jacobina e Barrocas e o cobre, que representou 11%, explorado em Jaguarari, Juazeiro e Curaçá. Estes dados fazem parte do Informe e Balanço de Mineração de 2019, divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), ontem.

“É muito importante mostrar para a sociedade o que está sendo feito pelo setor. Crescemos 12% em 2019, mas já tínhamos crescendo 24% em 2018. É uma sequência muito positiva, principalmente se compararmos com o desempenho do Brasil”, afirma. Para o dirigente empresarial, é importante mostrar para a sociedade a relevância do setor e que se continui estimulando o desenvolvimento da atividade. 

“Quase metade das autorizações para pesquisas no país ano passado saíram da Bahia. Se tivermos incentivos, vamos contribuir cada vez mais para o desenvolvimento do estado”, acredita. 

Para o vice-governador e secretário do Desenvolvimento Econômico, João Leão, os números são um estímulo para o estado continuar em busca do desenvolvimento da atividade. “Os números positivos, que o setor apresentou em 2019, refletem a potência que o Estado possui na exploração de bens minerais, especialmente presentes no semiárido baiano”, avalia. 

No ano passado, o campeão em exportação também foi ouro, destinado a Bélgica, Canadá, Índia e Suíça e em segundo lugar, o vanádio, exportado para a África do Sul, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e Holanda.

O balanço da SDE também mostra que o estado ocupa a primeira posição nacional na produção de cromo, vanádio, diamante, urânio, talco, magnesita, salgema, bentonita e a segunda posição na produção de grafita e quartzo. É também o terceiro maior produtor nacional de água mineral, cobre e rochas ornamentais, tendo destaque ainda na comercialização de molibdenita.

Para ter uma ideia do valor distribuído da CFEM, o impacto positivo fica com município onde ocorreu a produção, 60% do valor total. Os municípios afetados ficam com 15% (por onde escoa a produção, desde o trajeto ferroviário, rodoviário, dutoviário até onde ocorreu operações portuárias de embarque e onde se localizam as demais instalações do beneficiamento da produção), outros 15 %  fica com o Estado e 10% restantes vão para União.

O Informe de Mineração da SDE, traz ainda curiosidades:  Caetité é o único município do Brasil a produzir urânio e o município de Nordestina é o único a produzir diamantes em kimberlitos (rocha matriz do diamante), o que elevou o valor das exportações nacionais em mais de dez vezes, em apenas 3 anos, recolocando o Brasil no seleto grupo mundial de grandes produtores de diamantes.