Seu cão fica sozinho em casa? Ele pode ter síndrome perigosa

Latidos frequentes, uivos e hipersalivação são alguns dos sintomas da Ansiedade de Separação

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 18 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shutterstock/Reprodução

O que seu cachorrinho faz quando você está fora de casa? Com certeza, essa pergunta já passou pela sua cabeça. Tem gente que até instala câmeras pela residência, para matar  a  curiosidade. Será que ele fica bagunçando? Brincando? Ou é mais tranquilo e passa o tempo só dormindo?Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração, tecnologia, pets, bem-estar e as melhores coisas de Salvador e da Bahia: Bom, se ele for do tipo que, quando você sai, fica latindo horrores, destruindo a casa e fazendo xixi fora do lugar, pode ser que tenha algo de errado. E que vai muito além da resposta simples - a falta de educação básica -, como muita gente pensa. Na realidade, ele pode estar desenvolvendo a Síndrome de Ansiedade de Separação (SAS). Latidos e xixis no lugar errado não significam, necessariamente, falta de educação básica (Foto: Shutterstock/Reprodução) “É um conjunto de sinais que pode acontecer quando o tutor se torna inacessível ao pet - seja por ter saído de casa e ter deixado-o sozinho, ou mesmo por estar em algum local da casa, mas que o pet não consiga acessá-lo”, explica Marcus Fróes, diretor médico do HPet - Hospital Veterinário. 

“O animal deixado sozinho não sabe identificar se o tutor volta. E isso pode fazer ele entrar em surto”, aponta o médico veterinário Stéfano Mendes Lima, que trabalha na área de Zoopsiquiatria. 

Uma das causas mais comuns está ligada a outra síndrome: a da hipervinculação - quando há uma relação de intensa dependência do animal em relação ao seu tutor. Os principais sinais são quando o cãozinho fica seguindo seu humano pela casa o tempo todo (inclusive, em lugares como banheiros), dormindo próximo a ele, buscando contato constantemente, entre outros.  Uma das causas para a SAS pode ser a hipervinculação (Foto: Shutterstock/Reprodução) “Isso reforça a companhia de um com o outro, com o tutor fazendo todas as vontades do animal, dando toda a atenção.  A dependência é tão grande que ele não sabe explorar o ambiente, só conhece a presença do tutor. E não aprende a ficar só”, diz Stéfano.

“É possível prevenir o surgimento dessa síndrome evitando uma relação de hipervinculação excessiva com o pet e estimulando comportamentos de autoconfiança nos mesmos”, afirma Marcus.Além disso, a SAS, segundo Marcus Fróes, pode ainda estar “ligada ao histórico de sucessivos abandonos e adoções de um cão”.

Como perceber? “O diagnóstico da Síndrome é clínico, e os sinais sempre vão estar relacionados aos momentos de ausência do tutor - mas não é necessário que o pet apresente todos eles. Em média, costumam surgir até 45 minutos depois que o pet ficou só”, fala Marcus.  Os sintomas estão relacionados com a ausência do tutor (Foto: Shutterstock/Reprodução) Entre esses sintomas está uma possível relação exagerada do cachorro com a via de entrada e saída da casa.

“Você consegue suspeitar que é a SAS quando aquele cãozinho não consegue sair de perto da porta. Vai ter bicho também que fica tão focado na entrada, esperando o dono chegar, que não suporta a ideia de sair dali. Se a pessoa deixa comida na casa, ele não come. Se deixa brinquedo, muitas vezes, não brinca”, comenta Paula Maiana, especialista em adestramento e modulação de comportamento animal. As suspeitas podem começar quando o cão passa a desenvolver uma relação maior com a porta (Foto: Shutterstock/Reprodução) “O que é muito comum - e  que muita gente acha que é de propósito - é quando tem muito xixi perto da porta. Se aquele cachorro acerta o lugar correto - ou até que faz  em outros espaços da casa, mas, nesse momento sozinho, só faz ali, grudado na porta -, eu vejo muito como sinal da SAS. O que passa na cabeça do cachorro: ‘ele (o tutor) vai chegar, vai chegar, vai chegar... Por que não está chegando? Ah, eu quero comer, quero fazer xixi, mas se eu for, vou perder o momento em que ele chega’... E então, acaba fazendo tudo ali”, segue. 

Latidos frequentes, uivos e hipersalivação também estão entre os sinais, além de arranhões na porta, provocados pelo bicho. A hipersalivação também está entre os sinais (Foto: Shutterstock/Reprodução) Pode ficar pior...  “Como a reação do pet é de tentar ir ao encontro ao tutor, neste momento, ele pode machucar-se ao arranhar exaustivamente uma porta de madeira, ferindo as patas. Além de poder ocorrer acidentes, caso um tutor desavisado deixe uma janela aberta e que seja acessível ao cão”, afirma Marcus.

E mais: “pode ser que ele saia correndo pela casa, se batendo nos lugares. Que também perca a consciência e começe a comer de tudo - incluindo as próprias fezes e até objetos da casa. Nessa destruição, uma mordida em uma porta de madeira, por exemplo, pode furar o intestino e levá-lo à morte”, completa Stéfano. A janela, se deixada aberta nestes casos, pode se tornar um perigo (Foto: Shutterstock/Reprodução) Soluções Se seu cão já tiver sido diagnosticado com a SAS, em alguns casos, dá para resolver com manejos simples. 

“Primeiro: um senhor enriquecimento ambiental. O que é: dar coisas para o meu cachorro fazer. Há muitos brinquedos interativos que valem a pena. Você pode construí-los - existem vários tutoriais na internet ensinando - ou comprá-los. Segundo: um cachorro cansado é um cachorro feliz, que dorme. Então rotinas de passeio, de treino, de brincadeira, têm que existir na vida de qualquer cãozinho”, indica Paula Maiana. O enriquecimento ambiental pode ajudar (Foto: Shutterstock/Reprodução) Ela segue: “terceiro: não faça da sua chegada em casa um grande evento. Não sigo a linha que acredita que você deve ignorar o animal neste momento, mas acho que você pode chegar e falar com ele tranquilamente, calmamente, de forma natural”.

Mas nem sempre essas soluções irão funcionar. “Em um grau elevado, é preciso entrar com medicamentos”, comenta Stéfano. O diagnóstico e tipo de tratamento, claro, devem ser passados pelo médico veterinário daquele cão.