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Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Fiz uma pesquisa aqui para ver se este vislumbre que me ocorreu já existia, afinal de contas, não há idéia inédita no mundo da cozinha; a infinitude reside sim na subjetividade da leitura pessoal e no traquejo da assinatura, mas inventar roda... difícil. Porém isso de crise ou até falência de processos criativos, propriedade intelectual e etcetera, que também acontece na Arte, já é assunto para outro artigo.>
A idéia que me ocorreu foi a de um restaurante educativo voltado especificamente para o público infantil, uma vez que a História da Alimentação pode educar para muito além da paleta amarelo-padrão da maioria das escolas quadradas, mega conteudistas e quase sempre rasteiras no sentido de (não) proporcionar à meninada a perspectiva fundamental de uma cosmovisão descolada da cultura de mercado (obrigada de novo, Krenak). (Foto: Divulgação) Pela minha pesquisa só existe no mundo um restaurante voltado para este público, em Dubai (fica a dica para as empreendedoras criativas), mas ao que parece ele tem um compromisso muito mais voltado ao que se pode lucrar com o encantamento dos pais do que com o processo de desenvolvimento humano à partir do que se come (ô! o que esperar de um empreendimento em Dubai?)>
Porque veja bem o tanto de coisa que uma criança pode aprender num restaurante: origem e versatilidade dos alimentos num menu degustação à base de mandioca, por exemplo; a identidade e diversidade cultural de um prato etíope que se come com as mãos; a biodiversidade numa banana split com frutas amazônicas e crocante de saúva; a filosofia japonesa e a sofisticação técnica de um pequeno sushi. E por aí vai a lista que não termina nunca mais.>
O recorte de todos os biomas do planeta, sua climatologia, geografia, biologia, física, química, ciência, cultura e história de cada canto do mundo cabe num prato de criança. Que outra “matéria” falta a esta mesa?>
Ancestralidade, ciclos da natureza (sazonalidade), os cinco elementos; evolução (ou involução) humana, desde o fogo até as consequências desastrosas dos hábitos de consumo. Fauna, flora, medicina ancestral, indústria farmacêutica e todos os subsídios para escolhas conscientes desde a primeira infância. Come-se de tudo isso.>
A comida de fé, de santo, de cura física e espiritual falando sobre diversidade religiosa. A gratidão, o respeito e entendimento do lugar e importância de cada pessoa que compõe a cadeia produtiva dos alimentos, desde aquela que enfiou a semente na terra até a que as serve à mesa; comportamento, socialização, arte, estética, ética, bons modos, gentileza; percepção do que não vemos, mas sentimos; pelo impalpável, invisível e indivisível, porque também a abstração deve caber na refeição das crianças (de preferência na sobremesa!). >
Quem precisaria de escola formal, hein? Fala para mim! Conscientes da necessidade de equilíbrio de toda essa teia complexa mas completamente integrada, assim apresentada pelo viés fundamental à vida da comida, as chances dos nossos pequenos estarem aptos para as escolhas certas, especialmente de voto, seriam bem mais promissoras, não?>
No entanto, o que temos para hoje são restaurantes com cercadinhos e brinquedinhos imbecis para distrair crianças subestimadas, criadas por pobres babás infelizes, com cardápios restritos a macarrão e fritas. >
E eu lhes pergunto:>
“Como será o amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser. Mas a cigana...” Deixe Deus e a cigana fora disso. A responsabilidade é sua. Beijo, K. >