Super guia do vinho em casa

Beber no seu lar doce lar é confortável, mais barato e despojado; confira dicas

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  • Paula Theotonio

Publicado em 30 de agosto de 2020 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto/Shutterstock

Se, nesta pandemia, você passou a se render mais frequentemente ao charme de uma boa garrafa de vinho, este momento é seu. Certamente percebeu que beber em casa é confortável, mais barato e até mesmo mais despojado, sem as pompas dos restaurantes requintados. No lar doce lar as regras são suas e o aprendizado é constante, porque você quer beber melhor e aproveitar ao máximo aquele investimento feito na garrafa. Confira as dicas e sugestões deste guia do vinho em casa para aproveitar ainda mais este pequeno prazer.

Escolhendo o Vinho Até o mais entendidos, os enófilos e enólogos, precisam de referência. Acompanhe resultados de concursos (como a Grande Prova de Vinhos do Brasil), além de listas e pontuações como as de James Suckling, Robert Parker, Jancis Robinson, Tim Atkin, Descorchados, Wine Spectator, Wine & Spirits e Wine Enthusiast. Não quer dizer que vinhos sem premiações são ruins, só não entraram nestes radares por uma infinidade de motivos. 

Usar apps, como Vivino e Delectable, também ajuda bastante averiguar a qualidade de um vinho no mercado. Mas, cuidado: as notas e os comentários de alguns usuários podem trazer mais confusão do que uma verdade, pois muitos compartilham percepções muito particulares – baseadas mais no seu próprio paladar que na ciência da degustação. Há, inclusive, quem copie e cole exatamente o descritivo das fichas técnicas disponibilizadas pelas vinícolas. Um desserviço! 

E, não menos importante, siga influencers de vinho no Instagram e salve os rótulos com descritivos que, normalmente, agradam ao seu paladar. Dê preferência a sommeliers, enófilos, estudiosos e professores. Dica: @escrivinhos, @chorodavideira e @didurusso

Comprando o Vinho É interessante dar preferência a lojas especializadas que, em geral, têm uma boa seleção e fazem o armazenamento adequado das garrafas. Isso não significa que você não corra riscos de más compras nas adegas ou que recorrer ao supermercado seja uma ideia ruim, ok? Eu, inclusive, compro sempre que encontro uma boa oferta. Você só precisa ter um pouco mais de atenção. 

Nos mercados,  com vinhos mais expostos, aproveite para adquirir a bebida do dia-a-dia: de rótulos famosos com bom giro, do tipo mais jovens e por preços mais em conta. E pra que esse critério todo? Além da luz branca e forte que incide sobre as prateleiras e que pode vir prejudicar a bebida, não sabemos por quanto tempo ou como aquele vinho ficou armazenado antes da venda. Não tem errada: Concha Y Toro, Trapiche, Rio Sol, Salton e Aurora.

Lojas especializadas:  Enoteca Decanter -| R. Alexandre Herculano, 18, Loja 02, Pituba | Enoteca Salvador - Praça Alexandre Fernandes, 90, Garcia | Salvador Wines - Loja Virtual

E comprar online? Preste atenção às safras! Evite brancos ou tintos com mais de 5 anos de idade que não tenham passagem por barricas de carvalho. Compare preços e, sempre, considere fazer uma compra do mês em situações de frete grátis.

 Os clubes de assinatura  são excelentes para os que ainda não se sentem seguros nas suas compras, mas não tão interessante para quem já tem mais autonomia. Os mais versados no assunto, no entanto, podem se beneficiar de curadorias mais específicas e de empresas que dispõem de rótulos raros, naturais, orgânicos, etc. 

Pode tampa de rosca? Muita gente torce o nariz injustamente para os vinhos com tampa de rosca. As screw-caps, como também são conhecidas as vedações metalizadas, são práticas, recicláveis, sustentáveis e o melhor: vedam perfeitamente a garrafa. 

Isso quer dizer que até os grandes vinhos, com potencial de envelhecimento, podem vir com esse estilo de engarrafamento. Entretanto, é preciso dizer que eles são exceções. Por ser um vedante mais barato, os produtores tendem a usá-lo em seus vinhos jovens e deixam a cortiça para os rótulos mais premium.

A verdade é que o tipo de vedação tem pouco a ver com o potencial de sabor ou qualidade. O que vai definir a escolha da vinícola é a proposta do vinho e o perfil do consumidor final, mais conservador ou moderno. Rótulos de screw caps: Yali Wetland Reserva Pinot Noir, Argento Pinot Grigio e Marlborough Sun Sauvignon Blanc.

Armazenando o vinho É bem capaz que você, assim como eu, não tenha uma adega em casa. Então, para armazenar bem suas preciosidades, escolha um local que não bata sol e nem entre luz artificial, de preferência um armário onde você não mexa muito. Uma exposição contínua à iluminação acelera a oxidação da bebida, como já falamos. Ou seja: nada de expor a garrafa na decoração!

Além disso, guarde o produto deitado para manter a rolha hidratada. Garrafas vedadas com rosca e espumantes podem ser mantidas em pé. 

Esquentou demais? Pode recorrer à geladeira, mas mantenha as garrafas sozinhas na gaveta das verduras, nunca na porta. E não deixe o vinho de rolha lá por muito tempo: o ambiente interno do eletrodoméstico é seco e muito gelado para a bebida. Com isso, a cortiça pode contrair e permitir entrada de oxigênio, além de sabores e odores indesejáveis de outros alimentos. Imagine um tinto com notas de cebola? Temperatura de serviço Repita comigo: moradores de lugares quentes jamais devem beber um vinho em temperatura ambiente. Quando estão mais cálidos, tintos, brancos, rosés e espumantes aparentam ter mais açúcares residuais e maior teor alcoólico, principalmente nos aromas. Ou seja: parecem desequilibrados.  

Mas também não devemos partir para o outro extremo: vinhos gelados em demasia dessensibilizam suas papilas gustativas e você deixa de sentir não apenas os aspectos de sabor, mas também as nuances de aroma. A sensação de álcool também diminui e os taninos parecem ainda mais adstringentes. Nada agradável.

Guarde os vinhos fora da geladeira e para acertar na temperatura, siga esse “bizu”: 10 a 15 minutos no freezer pra tintos; 20 a 30 minutos no freezer para brancos e rosés e 30 a 40 minutos no freezer para espumantes. Assim você vai saborear um vinho no ponto ideal. 

Taças e quantidade Para brancos e rosés, indica-se uma taça de corpo médio para que você não se demore, pois são vinhos feitos para serem apreciados um pouco mais gelados. A estrutura menor também realça os aromas frutados. Espumantes, por sua vez, podem ser bebidos na taça flûte ou, na falta dela, utilize a de vinho branco.  

Já entre tintos, temos dois formatos clássicos: Bordeaux e a Borgonha. Possuindo bojo grande, alongado e borda mais fechada, o primeiro favorece a evolução dos aromas e os preserva na taça. É ideal para vinhos encorpados, como os que são feitos à base de Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Tannat, entre outros.

 Já o segundo, também conhecido como Balão, foi desenvolvido para destacar as melhores características de uvas delicadas – como Pinot Noir e Gamay. O bojo mais arredondado proporciona maior contato com ar e dispersão dos aromas. 

Também precisamos ser cuidadosos com a quantidade servida: deve-se preencher apenas 1/3 da taça, o que evitará que a bebida esquente e permitirá aeração (com exceção dos espumantes), liberando melhor os compostos voláteis.

Conservando seu vinho Assim que a garrafa é aberta, o vinho entra em contato com oxigênio e começa vagarosamente a degradar. Caso sobre um pouco da bebida, fique atento às médias de validade: brancos e rosés jovens e leves duram bem 24h na geladeira após abertos, quando bem lacrados. Espumantes seguram até 48h quando bem armazenados na geladeira, mas já podem ficar mais flácidos. Tintos jovens, de dois a três dias nas mesmas condições acima. Tintos estruturados, até 5 dias. Além disso, mantenha a garrafa em pé para reduzir o contato do ar com a bebida. 

Se você realmente não costuma tomar uma garrafa completa no mesmo dia, sugiro comprar bag-in-boxes (vinhos em caixas), que mantém as características do produto por mais tempo. Também é interessante apostar em rótulos de 375 ml ou, até mesmo, usá-los para guardar os vinhos que sobram.

Para além do saca-rolhas O mais importante dos acessórios é o clássico saca-rolhas de dois estágios. Barato, requer somente um pouco de prática – e que você posicione a ponta da espiral bem no centro da rolha, girando até que falte uma volta completa.

Você também pode apostar no charme dos elétricos, que funcionam a pilha e removem a cortiça sem sofrimento; ou na modernidade dos wine poppers, que injetam um gás inerte dentro da garrafa e expulsam a rolha.

Utensílios que ajudam: o corta-lacre é prático, ideal para quem não tem prática ao usar a lâmina do saca-rolhas. O corta-gotas evita desperdícios e pingos na toalha da mesa. O aerador é bom para vinhos mais estruturados e aromas fechados. O decanter também pode ser usado para este fim, mas é essencial para separar sedimentos de vinhos mais envelhecidos. 

Uma tampa especial para espumantes ajuda na conservação, bem como as famosas bombas a vácuo – que retiram o ar de dentro da garrafa.