Superar o negacionismo para combater a violência

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Publicado em 24 de agosto de 2022 às 14:00

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Pesquisadores se baseiam em dados de consumo e renda para fazer projeções econômicas. Prefeituras e governos precisam de dados para fazer política pública. Uma campanha de vacinação depende de muitos dados: sobre a infecção, a adesão à vacina, o perfil da população. Companhias multinacionais, bancos, artistas, influenciadores: seja qual for o ofício, os números apontam uma direção. Poderia ser assim também na segurança pública, mas não é.

Os dados sobre violência na Bahia não têm qualidade, nem transparência necessárias, apesar da violência ser uma das maiores preocupações da população. Foi por isso que o Instituto Fogo Cruzado, numa parceria com a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, começou a atuar por aqui, em julho. 

Decidimos vir para a Bahia depois de um minucioso estudo que subsidia nossa expansão. O estado lida com confrontos entre facções criminosas oriundas de diversos estados e ocupa posto importante no tráfico internacional, condição produzida e ampliada pela continuidade da chamada "guerra às drogas". Era relevante aplicarmos o que já funciona há anos em dezenas de cidades no Rio de Janeiro e Pernambuco para Salvador e região metropolitana. E tem dado certo.

Temos pouco mais de um mês de trabalho, com uma equipe atenta às informações minuto a minuto. A coleta de informações  funciona através dos nossos usuários, que nos enviam dados pelo aplicativo e redes, ou através da imprensa, que divulga diariamente casos de violência. No mês de julho, tivemos 131 registros na Bahia, e 73% deles foram a partir da imprensa. Outros 27%, a partir dos usuários. A população baiana aderiu à ideia. 

Muitas vezes, a informação chega pelos cidadãos, mas só confirmamos após a divulgação em veículos de comunicação ou por meio de fontes governamentais e sociais. Mesclamos diferentes fontes, para confirmar, com convicção, toda a violência armada em Salvador e municípios vizinhos. Foi assim que recebemos, no dia 2, a informação de um tiro em frente ao Palácio da Aclamação. A vítima foi Cristal Rodrigues Pacheco, de 15 anos, morta durante assalto. Outras 108 pessoas já tinham sido vítimas de tiros em julho. Destas, 67 morreram na capital.

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) afirmou não ser possível atestar a veracidade das nossas informações. Mas é possível, sim. Elas estão disponíveis no primeiro banco de dados abertos sobre violência armada na América Latina, que pode ser acessado gratuitamente na nossa API, interface que possibilita esmiuçar e filtrar dados. Este banco é usado há anos pelo Instituto de Segurança Pública e Ministério Público do Rio. Cada tiro mapeado pelo Fogo Cruzado pode ser checado por qualquer um. A transparência não é apenas pilar do nosso trabalho, é imprescindível para políticas públicas.

Estamos em Salvador porque acreditamos que a segurança é um direito de todos, assim como o acesso à informação. Segurança pública se faz sim com ciência, participação social e transparência. Nosso objetivo é ver Salvador e a região metropolitana mais seguras. Por isso, temos certeza que podemos contribuir com todos, dos cidadãos e cidadãs, organizações da sociedade civil e poder público.

Cecília Olliveira é Diretora Executiva do Instituto Fogo Cruzado e Dudu Ribeiro é Diretor Executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas e Coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia.

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