Suspeito de organizar show de Belo diz que eventos precisam de autorização do tráfico

Cantor chegou a ser preso dias após apresentação em pátio de escola que foi invadida no Complexo da Maré, no Rio

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  • Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 15:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Apresentado como um dos organizadores do show do cantor Belo, no pátio de uma escola no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Célio Caetano afirmou em depoimento à polícia, no dia 13, que foi contratado por um dos DJs que tocaria no evento e que é apenas um prestador de serviço, sem nenhum vínculo com o pagodeiro.

Ele confirmou ainda que nenhum evento acontece na favela sem consentimento do tráfico de drogas da região. As informações são do jornal O Globo e do portal Uol. 

O advogado Walter Marcelino de Araújo Neto disse que Célio, seu cliente, recebeu R$ 5,5 mil de um dos DJs para fornecer e montar o equipamento de som no local e negou que ele seja um dos organizadores do show.

"A contratação do Belo foi feita pela Leleco Produções. Meu cliente é um prestador de serviço e não tem nenhum vínculo com o cantor, tanto é que os R$ 65 mil [valor do show] foram pagos à Belo's Music [empresa do cantor], nem passou pelo Célio que recebeu os R$ 5.500 direto de um dos DJs", disse o advogado ao Uol.

Ainda de acordo com a defesa, Célio não teve nenhum contrato com traficantes nem viu homens armados no local do evento.

No depoimento à polícia, Célio disse que o cantor Belo tem uma equipe particular contratada pelo artista, o que mostra a ausência de vínculo entre as partes.

Célio Caetano, o cantor Belo e Joaquim Henrique Marques Oliveira, outro acusado de organizar o evento, ficaram presos por pouco mais de 24 horas e foram liberados da prisão após conseguirem um habeas corpus no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).  O traficante Jorge Luiz Moura Barbosa, que controla o tráfico de drogas na região, também tem a participação investigada na contratação do evento. Ele é considerado foragido desde 2006.

Todos são investigados pelos crimes de infração de medida sanitária preventiva, crime de epidemia, invasão de prédio público e organização criminosa.

Procurado, o advogado de Belo, Jefferson de Carvalho Gomes, informou que não conhece nenhum dos personagens mencionados no depoimento de Célio Caetano, "sendo impossível afirmar sobre qualquer eventual autorização de qualquer chefe do tráfico local, uma vez que a contratação do show se deu entre uma empresa com CNPJ ativo e a empresa que gerencia a sua carreira musical".

Segundo Gomes, só coube ao cantor se dirigir ao local, previamente ajustado em contrato de prestação de serviços, subir ao palco e cantar, como sempre fez.

"É absolutamente temerário atribuir qualquer responsabilidade ao cantor por qualquer aglomeração, ou querer ligá-lo a qualquer organização criminosa", sustentou Gomes.

Protocolos e invasão de colégio No dia 18, horas após deixar a Cadeia Pública José Frederico Marques, onde ficou preso, Belo jogou a culpa do evento clandestino durante a pandemia de covid-19 na produtora e se eximiu de responsabilidade.

"A responsabilidade sobre os protocolos sanitários de eventos em que eu me apresento, assim como todos os artistas, é exclusiva dos contratantes. E? o mesmo caso da escolha do local em que as apresentações ocorrem. Garanto a segurança do meu staff e me preocupo com a proteção do público, mas quem responde por ela, nesse caso, era a produtora que me chamou para cantar", argumentou o músico, em texto publicado no Instagram, na ocasião.

O cantor foi solto depois de o desembargador Milton Fernandes de Souza entender que o pagodeiro pode responder em liberdade e que não terá influência no caso. De acordo com a Polícia Civil do Rio, o principal motivo para os pedidos de prisão de Belo e dos outros suspeitos foi a "invasão de um colégio". 

A apresentação aconteceu dentro de um Ciep, na Maré, sem qualquer autorização da Secretaria de Educação.