Tá bombando! Fantasias voltam com tudo aos circuitos soteropolitanos

Especialista analisa o movimento de volta das fantasias para o Carnaval de Salvador

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  • Kalven Figueiredo

Publicado em 23 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Após longos anos de tensionamentos com os abadás e mortalhas do Carnaval, as fantasias parecem ter encontrado seu espaço para conviver com estes dois elementos na folia. Cada vez mais frequentes nos circuitos do Carnaval soteropolitano, a ideia de viver a fantasia de uma pessoa famosa, personagens ou mesmo situações do cotidiano voltaram com força total para o Carnaval de Salvador, que por muito tempo foi sinônimo de micareta e blocos com corda.

O pesquisador Luis Fernando Lisboa avalia que este movimento é o resultado do declínio de um modelo de Carnaval que passava longe da pluralidade e democratização que a festa tem buscado atingir. “A potência da festa está em sua espontaneidade e nesta nova de pensar o Carnaval de forma mais democratizada. Porque quando se tem mais pessoas conseguindo frequentar estes espaços em mais dias de festa, as pessoas querem estar ali e brincar e viver outras experiências que não necessariamente a do bloco de abadá.” 

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Outro fator apontado por Lisboa é a diversidade musical que tem tomado conta da festa. “Claro que sempre tivemos isso, mas é diferente dos tempos em que o axé era o ritmo oficial do nosso carnaval”, ressalta e conclui: “Por mais que tenhamos o mercado e indústria  musical querendo formatar o Carnaval. A fantasia é a expressão na roupa, da espontaneidade dessa festa e o recado de que ninguém nunca vai conseguir coordená-la”. 

Embora tenha nascido junto com a festa, Luis explica que o sumiço das vestimentas que por muito tempo foram ícones da festa foi devido a dois fatores: primeiramente a popularização das mortalhas e em seguida a dominação dos abadás na maioria dos circuitos nas décadas de 80 e 90.“O tempo vai passando e a mortalha começa a conviver com a fantasia e em algum momento acaba substituindo a fantasia. Entre os 80 e 90 a massificação dos abadás quase que extermina as fantasias do carnaval de Salvador. Obviamente que neste novo mercado dos abadás, alguns brincava com a fantasia como abadá. Além disso a customização das camisas eram outra maneira de se destacar na brincadeira”, pontua. Luis ainda ressalta a existência de alguns movimentos de resistência que nunca deixaram a fantasia de lado. Mas na análise do especialista, a retomada das fantasias dentro do circuito aconteceram mesmo em 1999, quando o bloco Mascarados desfilou pela primeira vez. O que era pra ser uma comemoração dos 450 anos de Salvador, resiste até os dias de hoje e carrega essa imagem de centralização da fantasia no carnaval da cidade. 

A tradição dos Mascarados para os amantes de viver uma fantasia e incorporar novas personas guardadas durante o ano se mantém viva. Este é o caso do psicólogo Eduardo Barreto Filho, 33, que há pelos menos 8 anos sai no bloco e faz questão de dedicar boa parte de seu tempo à fantasia. “Eu e mais dois amigos nos encontramos meses antes para definir nossa fantasia. Então pedimos pra minha irmã para fazer a parte de costura e cuidamos do resto nós mesmos”, explica.  Foto: Acervo Pessoal O psicólogo ainda disse ter notado o reaparecimento das fantasias no carnaval entre os foliões. “O Carnaval tem se voltado para esse pensamento de ser uma festa pública e popular. E acho isso muito bacana porque reforça a ideia de uma festa mais simples, com fantasias e sem cordas”, avalia.  Foto: Acervo Pessoal Frequentemente elogiado, inclusive nas ruas, pelo empenho na produção das fantasias ele diz que o segredo é deixar a imaginação fluir, mas sem deixar de lado o bom senso para não acabar ofendendo alguém com fantasias já polêmicas como as de índio, mulheres, travestis, nega maluca e etc. porque normalmente reforçam preconceitos contra minorias sociais. “Eu acho muito problemático também quando as pessoas pensam em se fantasiar de minorias, grupos que passaram por diversas opressões, muitas vezes realmente não têm intenção de ofender, mas é interessante prestarmos atenção em como somos lidos pelo mundo”, aconselha.