Telefone fixo perde espaço e serviço encolhe em todo o país

Só na Bahia são dez celulares para cada telefone fixo

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  • Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2018 às 04:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: A aposentada Waldivia Reis, 83 anos, afirma que não abre mão do telefone fixo

O serviço de telefonia fixa está caindo em desuso em todo o país. Para se ter uma ideia, a Bahia encerrou o mês de junho com 1.389.985 linhas ativas - 81.270 a menos em relação a igual mês do ano passado. Em 2007, o número chegava a 3.398.293, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Enquanto o telefone fixo está sendo deixado de lado pelos consumidores, o uso do móvel, por sua vez, tem crescido. Só na Bahia são 14.313.737 celulares, o que representa mais de dez telefones móveis para cada fixo. Na casa da  aposentada Waldivia Reis, 83 anos, a dona Diva, o  telefone fixo fica em uma bancada da sala. Ela não abre mão dele, embora tenha um aparelho celular com sistema operacional que comporta aplicativos como o WhatsApp. Mesmo que a linha da operadora de telefonia apresente problemas frequentemente, fazendo com que a aposentada fique até três meses com o aparelho mudo, o apego ao aparelho fixo é grande, até porque são mais de 30 anos utilizando o mesmo número. “Há tanto tempo com o mesmo contato e três agendas lotadas de números, seria muito complicado”, explica Diva, ao abrir mão do fixo. O celular, diz ela, também costuma contrariar. Nem sempre o aparelho móvel está disponível para realizar e receber chamadas: “Problemas desses aparelhos mais novos”, acredita. “Eu não quero me desfazer da linha. O número do celular eu já mudei algumas vezes, uns sabem; outros não. Mas do fixo todo mundo tem conhecimento”, conta a aposentada. O também aposentado Antônio Alves Rocha, 86, possui a mesma linha de telefone fixo há quase 50 anos. Desde então, só tem trocado de aparelho, claro, mas o número continua o mesmo. Mudar, a essa altura, diz Antônio, já não vale a pena.  Na casa há um aparelho móvel mais simples que apenas faz, recebe ligações e manda mensagens. Antônio divide com a esposa, a também aposentada Salvelina Santos Rocha, 87,  prefere usar o fixo por ter mais “afinidade”. Nele, a família recebe ligações de alguns amigos que moram em outros estados, dos filhos e do neto: “Só liga para saber se o almoço está pronto”, brinca o avô Antônio. Já o  publicitário Alan Abreu, 40, ainda tem um aparelho fixo em casa porque a empresa que dispõe o plano de internet dá “descontos” para aqueles clientes que têm uma linha da mesma operadora. “São as artimanhas. Eu já cheguei a ter duas linhas - uma eu não usava, obviamente - porque era mais barata. Tinha um desconto maior na internet”, revela. Alan Abreu ainda tem um aparelho fixo em casa porque a operadora  dá ‘descontos’ (Foto: Marina Silva/CORREIO) O outro fator que faz com que Alan não abra mão do fixo é o fato de o número ser o mesmo da sua mãe, falecida há 15 anos. Nele, alguns advogados dela entram em contato para resolver pendências, mesmo tendo o contato do celular do filho. Celular  Na conta dos telefones  móveis   entram também as linhas usadas só para troca de dados entre máquinas, por meio do sistema de telemetria, o qual permite, por exemplo, um agricultor monitorar a irrigação da lavoura a distância.  Mas a quantidade de chips para linhas móveis e conexão por voz também tem diminuído na Bahia – assim como no Brasil – graças ao barateamento das ligações entre operadoras. A redução do custo entre operadoras foi possível depois que a Anatel publicou em 1º de julho de 2014 a Resolução nº 639. Em 2014, as operadoras pagavam R$ 0,23 para completar uma chamada usando a linha concorrente, hoje esse custo na Bahia está em R$ 0,02, segundo  a Anatel.  Na prática, os usuários de linhas móveis passaram a sentir a diferença no preço em 2016, quando as próprias operadoras começaram a oferecer planos mais baratos de ligações, seja por meio de minutos ou de quantidades ilimitadas de telefonemas para celulares e fixos de qualquer operadora do Brasil.

Planos oferecem ligações ilimitadas Apesar da forte redução do serviço em todo o país, as companhias de telecomunicações    seguem oferecendo  uma série de pacotes e planos de telefonia fixa. O plano fixo da Oi, por exemplo, custa R$ 69,90  e disponibiliza para o consumidor ligações ilimitadas locais e para celular de qualquer operadora, além de chamada de espera, identificador de chamadas e suporte técnico virtual 24 horas. A Claro oferece, junto com a NET,   “planos convergentes que contemplam telefonia fixa e móvel, banda larga fixa e móvel e TV por assinatura, com canais em alta definição, vídeo sob demanda. "Há  ainda pacotes individuais e ofertas combinadas, com vantagens e benefícios, de acordo com a necessidade e interesse de cada cliente”, diz a empresa. A contratação de serviços fixos, destaca a Vivo, pode ser feita de forma independente de qualquer outro serviço ou produto comercializado pela empresa. Ao todo, na Bahia, a empresa tem 34,4% do mercado nos serviços fixos e 28,43% nos serviços móveis no estado. A TIM, por sua vez, tem planos a partir de R$ 39,90, que asseguram ao consumidor ligações ilimitadas para fixo e móvel local de qualquer operadora, identificador de chamadas, caixa postal  e conferência. Pagando um pouco mais - R$ 59,90 - o consumidor tem direito ainda a 150 minutos de ligações internacionais.Procon  e Anatel  orientam consumidores baianos O diretor de fiscalização do Procon, Iratan Vilas Boas, orienta os usuários a quando contratarem um serviço de telefonia e internet  observar bem o que diz o contrato e ficar com uma cópia do documento. “Mesmo que a pessoa tenha contratado  dois ou mais serviços, ela pode, após assinar o contrato,  cancelar o que ela não quer mais, porém terá de pagar multas. Mas não é obrigado a continuar, e a empresa tem de dar opção de continuar com o serviço que o usuário deseja”, disse Vilas Boas. “Não é proibido oferecer tudo num pacote só, mas tem de ter a opção para a venda separada dos serviços. É preciso ter as opções de cada serviço de forma individual”, acrescentou  o gerente de Universalização e Ampliação do Acesso da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),  Eduardo Jacomassi. Segundo ele, a agência  acompanha e fiscaliza se essas formas de comercialização estão  seguindo o Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações, da Anatel. As empresas de telecomunicações, por outro lado, garantem que a linha fixa ainda é um serviço importante. A rede fixa está sendo usada para transporte de dados de internet. O grande crescimento está previsto em cima de internet das coisas.