Temas sociais dominam redações do Enem; veja dicas para se sair bem

Temática dos Direitos Humanos esteve presente no exame dos últimos 4 anos

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  • Gil Santos

Publicado em 25 de julho de 2018 às 06:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr/CORREIO

Faz quase 70 anos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unida. Era dezembro de 1948 e o mundo ainda estava se recuperando das atrocidades da 2ª Guerra Mundial. Não por acaso, o documento que estabeleceu as regras para a garantia da dignidade humana tem sido fonte para os temas da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Desde que foi criado, em 1998, o Enem já aplicou 20 temas de redação para os estudantes no Brasil, sendo que mais da metade deles  estava ligada à área dos direitos humanos ou de minorias. Nos últimos quatro anos, todas as provas trataram dessa temática.

Segundo o consultor pedagógico do SAS Plataforma de Educação, Vinicius Beltrão, o exame convida os candidatos a refletirem sobre demandas atuais e a pensarem soluções para os problemas do país.

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“Fazendo uma análise dos últimos anos, percebemos que o Enem tratava, principalmente, de temas ligados à  cidadania, meio ambiente e questões sociais. A partir de 2009, o meio ambiente desapareceu enquanto as questões sociais e de cidadania dominaram a pauta. São temas ligados aos direitos humanos e que precisam ser discutidos”, disse.

Beltrão acredita que o tema da última edição ‘Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil’ foi o mais surpreendente e difícil de todos, por exigir dos alunos  escrever sobre um problema que a grande maioria nunca havia refletido. Ele disse que a dificuldade apontada pelos candidatos é provocada pela falta de preparação.“Os estudantes deveriam ser preparados para pensar essas questões durante toda a vida escolar, mas isso só acontece nos três últimos anos da escola. Direitos humanos é uma questão fundamental e que interessa a todos”, disse.Ele apontou como discrepante apenas o exame de 2010 ‘O trabalho na construção da dignidade humana’. Para o especialista, ele fugiu da regra do Enem de não tratar de política diretamente e induziu os candidatos a tomarem partido em um momento delicado da política nacional.

Temas Gabriel Meireles, 17 anos, está cursando o 3º ano do ensino médio no Villa Campus de Educação, na Paralela, e se prepara para concorrer a uma das vagas do curso de Medicina. No ano passado, ele fez o Enem e quase tirou a nota máxima. Ficou com 980 pontos.“O tema foi surpreendente, ninguém imaginava. O que me salvou foi o conhecimento em outras áreas. Eu sempre relaciono minhas redações com outros conteúdos, como história, por exemplo. Fiz o mesmo no Enem”, disse.Ele contou que faz uma redação por semana e pede para os professores corrigirem. O estudante acredita que o hábito de leitura e de relacionar conhecimentos ajudou na hora da prova. Perguntado sobre uma aposta para o tema deste ano, ele desconversou e sorriu. “A gente sempre se prepara para alguma coisa ligada ao meio ambiente ou a política, mas o do ano passado foi o mais diferente, então, é difícil saber”, disse.

Em 2016, o tema foi ‘ Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil’. Em 2015, ‘A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira’ fez os estudantes correrem com as canetas. Mas foi em 2007 que os critérios do Enem foram sintetizados no tema da redação com ‘O desafio de se conviver com as diferenças’.

Outro ponto recorrente são as crianças e os adolescentes. Eles foram temas para a redação, ao menos, em três edições. A primeira vez foi em 2000. Os estudantes que estavam participando da terceira edição do Enem tiveram que escrever sobre os ‘Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional’.

O tema voltaria em 2005 com ‘O trabalho infantil na sociedade brasileira’ e novamente, em 2014, quando a redação tratou da ‘Publicidade infantil em questão no Brasil’. Questões ambientais e ligadas à violência urbana também se repetiram e apareceram por duas vezes cada nas provas de redação.  

O Enem também tratou de política em algumas edições, não exatamente como os noticiários, mas elevou a discussão para um campo mais profundo. Em 2002, ‘O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita?’ fez muitos estudantes coçarem a cabeça.

Sete anos depois, em 2009, a prova, que falaria dos direitos dos idosos, foi cancelada após um vazamento. O novo tema escolhido foi bastante sugestivo: ‘O indivíduo frente à ética nacional’, e deu pano pra manga em um momento em que o país discutia roubalheiras e falcatrua feitas com o dinheiro público.

Erros A professora de redação Rozana Pires, 61 anos, passa os dias ensinando os estudantes a como escrever bem e disse que os erros mais comuns cometidos pelos alunos são resultado de uma falha maior: a falta de leitura.

“Não existe uma fórmula de como se sair bem em uma redação, mas o que se espera é que o estudante seja mais que um observador, que tenha uma opinião formada sobre os assuntos, e para ter uma opinião ele tem que ler. Além disso, a leitura ensina a pontuar, a acentuar e a refletir. Quem não lê, não escreve”, afirmou. A professora de redação Rozana Pires aconselha os estudantes a intensificarem e diversificarem a leitura (Foto: Betto Jr/CORREIO) Ela leciona para turmas do ensino médio no Colégio Vitória-Régia, no Cabula, e contou que é comum os estudantes se aproximarem do tema, mas não conseguem se aprofundar no assunto. Ela afirmou que isso também é reflexo da falta de leitura. A estratégia adotada pela professora foi discutir o assunto em sala de aula.

Temas ligados a questões sociais, comportamentais e políticas dominam as discussões entre os futuros universitários. Os debates vão desde direitos fundamentais até temas espinhosos, como prostituição infantil.“De todos os temas da redação do Enem, o único que eu não tinha trabalhado com os alunos antes da prova foi o da educação de surdos, no ano passado. Todos os outros já tínhamos discutido antes da prova”, disse.As provas do Enem serão aplicadas nos dias 4 e 11 de novembro. A redação será exigida no primeiro dia, junto com as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, e de Ciências Humanas e suas Tecnologias.  No domingo seguinte será a vez das provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, e de Matemática e suas Tecnologias. 

Estudante deve ler jornais e sites, recomenda professora A professora Rozana Pires aconselha os estudantes a intensificarem e diversificarem as leituras, principalmente através de livros, jornais e sites de notícias. A professora disse que lendo textos com estruturas diferentes o aluno amplia o olhar e aprende outras formas de construção textual.

Ela afirmou que a redação do Enem exige um texto dissertativo, por isso, não deve ser escrito em primeira pessoa e é preciso ter atenção com o tempo verbal usado ao longo do texto. Os elementos de coesão precisam ser valorizados para dar ritmo e lógica ao texto, correlacionando e organizando as ideias.“Por isso, conhecer o texto jornalístico é importante, porque ele apresenta esses elementos”, diz. 

A recomendação é de que os estudantes façam duas redações por semana e peçam a pessoas de confiança, como professores ou outros adultos, para fazer a correção. O tempo em que estiver fazendo a produção deve ser cronometrado e os erros devem ser reescritos para aprimorar a construção.

Quando chegar na hora H não existe regra. Cada estudante deve adotar o modelo que sentir mais confortável. Alguns preferem fazer a redação primeiro e deixar a prova objetiva para o final. Rozana  disse que nem sempre isso é uma boa ideia. “Às vezes, alguma questão da prova objetiva apresenta uma informação que pode ser trabalhada junto com o tema da redação”. 

‘A dica é ler bastante e se informar muito’, diz estudante

O estudante Mateus Anjos, 17 anos, conseguiu 880 pontos na redação do Enem do ano passado. Na época, ele estava cursando o 2º ano do Ensino Médio. O futuro comunicador social conversou com o CORREIO e contou como fez para se sair bem na avaliação. Confira!

"Foi a primeira vez que fiz o Enem. O tema do ano passado me pegou de surpresa e o que me salvou foi minha leitura de mundo, as leituras que eu fiz. Acho que não existe uma regra, a dica é ler bastante e se informar muito. No ano passado eu chegava da escola, estudava as matérias do dia e lia as notícias, e pensava: ‘E se esse fosse o tema do Enem? Qual proposta de solução eu apresentaria’. 

Criei um planejamento. Toda semana eu escrevia uma redação e entregava para algum professor corrigir. Quando eles me devolviam, eu observava o que estava errado e reescrevia. 

No dia da prova eu tentei manter a calma. Li o tema e refleti um pouco para organizar as ideias. Levei uns 20 minutos pensando em como iria escrever, depois fiz o rascunho. Em seguida, fui para a prova objetiva. Respondi 15 questões e voltei para a folha de redação para escrever a introdução. Respondi mais 15 questões, e fiz o desenvolvimento, depois mais 15 questões e a conclusão.

Manter o controle emocional nessa hora é fundamental. Não podemos esquecer que a força está na tranquilidade". Estudante conta como foi a sua preparação para a redação do Enem (Foto: Betto Jr/CORREIO) Confira as cinco competências exigidas na redação do Enem

Domínio  Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

Compreensão   Compreender a proposta  e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

Augumentos   Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Conhecimento  Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. 

Intervenção  Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Revisão Enem O CORREIO está na 12ª edição do projeto Revisão Enem. A cada quarta-feira, são disponibilizadas, no site do jornal, videoaulas e questões para serem respondidas pelos estudantes até o dia 7 de novembro. O candidato acessa o site www.correio24horas.com.br/enem, faz o cadastro e tem acesso a todo o conteúdo de forma gratuita. A entrada também será possível através do link disponibilizado na parte superior da home do jornal (correio24horas.com.br). As questões são elaboradas por professores  da SAS Plataforma de Educação, uma plataforma de educação que desenvolve conteúdo, tecnologia e serviços para mais de 700 escolas e 230 mil alunos. Este ano, o resultado é imediato. Caso a resposta esteja errada, ele também informa qual era a resposta correta e o porquê. A pontuação final também é calculada automaticamente.