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Defesa pediu liberdade provisória de barbeiro que matou capoeirista em discussão por política
Bruno Wendel
Publicado em 25 de fevereiro de 2019 às 16:30
- Atualizado há um ano
Parentes do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, o Moa do Katendê, deixaram o Fórum de Sussuarana amedrontados na manhã desta segunda-feira (25). Na audiência de instrução do processo, quando são ouvidas testemunhas de defesa e acusação, a Defensoria Pública do Estado (DPE) pediu a liberdade provisória do acusado de assassinar o capoeirista, o barbeiro Paulo Sérgio. O crime ocorreu no dia 8 de outubro do ano passado na comunidade do Dique Pequeno, Engenho Velho de Brotas.
“Temos medo. Ele é uma pessoa violenta. Da mesa forma que ele fez com o meu tio e com o meu primo, ele pode fazer com qualquer um da família. A justiça não pode permitir que ele saia. Ele tem que ficar preso”, disse a sobrinha de Mestre Moa do Katendê, Renilda Costa, 41. O capoeirista foi morto com 12 facadas após uma discussão por política na comunidade próxima ao Dique do Tororó.
Além do capoeirista, o primo dele, Germínio do Amor Divino, 51, também foi esfaqueado na ocasião. Ele foi atingindo no braço direito. Exibindo as cicatrizes no braço direito – ele levou 23 pontos –, Germínio falou também do medo.“Poderia ter sido a segunda vítima fatal dele. Nossa família está amedrontada com a possibilidade de ele responder pelo crime em liberdade”, declarou Germínio, uma das cinco testemunhas de acusação ouvidas no 1º Juízo da 1ª Vara do Júri – apenas uma testemunha de defesa foi ouvida. Procurado, o TJ-BA informou, por meio de nota, que outras sete testemunhas de acusação também foram ouvidas, além do próprio acusado. “Apesar do pedido da Defensoria Pública pela liberdade provisória do acusado, vamos pedir à Justiça a manutenção da prisão preventiva dele. As duas situações cabem análise do Ministério Público e da Justiça”, explicou o advogado da família, Alonso Guimarães.
A DPE pediu também à Justiça a retirada das qualificadoras: impossibilidade de defesa e futilidade. “Acredito que a Justiça não atenda porque os laudos dizem ao contrário. Que houve intenção de matar. O cadavérico por exemplo aponta golpes em locais vitais como coração e nuca”, explicou o advogado.
Ainda na audiência o juiz interrogou o acusado, que confessou o crime. Agora, caberá ao juiz a decidir se o caso vai ou não a júri popular. A reportagem questionou à corte sobre o prazo para a decisão de juiz, mas não obteve a informação. Em nota enviada ao CORREIO, a DPE informou que o defensor público responsável pela defesa do barceiro Paulo Sérgio optou por não se manifestar sobre o caso.
Crime O crime foi testemunhado por várias pessoas, entre elas o irmão de Moa, Reginaldo Rosário, 68. Ele contou que bebia com as vítimas, no Bar do João, quando o autor da facada começou a defender ideias do então candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), ouvindo críticas do capoeirista que era um eleitor do Partido dos Trabalhadores (PT). Nove dia depois, o inquérito policial concluiu que Moa do Katendê foi morto por briga política.
O barbeiro Paulo Sérgio foi denunciado pelo Ministério Público estadual pelo assassinato de Moa do Katendê - homicídio por motivo fútil e sem possibilitar defesa à vítima. Ele ainda foi denunciado pela tentativa de homicídio contra Germino do Amor Divino Pereira, que tentou defender o capoeirista e também foi ferido. "Moa ponderou que era negro e que o cara ainda era muito jovem e não sabia nada da história. Moa disse ainda que ele tinha consciência do quanto o negro lutou para chegar onde chegou e o quanto Bolsonaro poderia tirar essas conquistas se chegasse ao poder", disse Reginaldo na ocasião.Ainda de acordo com o irmão das vítimas, após a discussão acalorada, um dos irmãos pediu que Moa ficasse calmo, no entanto, após a situação ter sido contornada, o autor da facada teria ido em casa, retornou com uma peixeira e atacou a vítima nas costas.
(Arquivo CORREIO)
"Foi tudo muito rápido. O cara foi em casa e voltou portando a arma. Chegou 'voando', atingindo meu irmão pelas costas. Foi muito difícil ver meu irmão naquela situação sem poder fazer nada", disse.
Prisão O barbeiro Paulo Sérgio foi preso no mesmo dia. Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada pelo Centro Integrado de Comunicações (Cicom), com informações de que dois homens tinham sido atingidos por golpes de faca e deslocou uma equipe para o local. Lá, os policiais receberam a denúncia de que o autor do crime teria fugido para um beco próximo e iniciaram as buscas. Barbeiro chega escoltado por policiais na sede do DHPP, na Pituba (Foto: Marina Silva/CORREIO) "Os policiais avistaram um rastro de sangue que levava até uma casa e prenderam em flagrante o homicida escondido no banheiro. Ele já estava com uma mochila com roupas no intuito de fugir", informou a nota da PM.
O barbeiro, ainda de acordo com a polícia, foi levado para o HGE para ser medicado - pois estava com um corte no dedo, e depois foi apresentado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. De acordo com a delegada Milena Calmon, responsável pelo caso, o agressor vivia há cerca de dois meses no bairro. Em depoimento à polícia, Paulo Sérgio disse que estava discutindo com o dono do bar, quando Moa e o primo se envolveram na conversa. Leia nota do TJ-BA na íntegra"A audiência de instrução ocorreu e agora as partes devem aguardar a Decisão se o acusado vai ou não ser submetido a júri. Foram ouvidas 7 testemunhas de acusação (incluindo a vitima) e 1 de defesa. O acusado também foi ouvido".