Terceiro dia de vacinação começa por pessoas com deficiência em Salvador

Os 17 homens e mulheres que foram escolhidos vivem ou trabalham em um abrigo na Capelinha de São Caetano

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  • Gil Santos

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 10:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Gil Santos/CORREIO

O terceiro dia de vacinação em Salvador começou por um lugar que esbanja simpatia e bom humor. As pessoas com deficiência severa que estão abrigadas no Lar Fonte da Fraternidade, na Capelinha de São Caetano, única instituição desse tipo na capital, foram imunizadas na manhã desta quinta-feira (21). Um após o outro, os dez moradores e os sete trabalhadores foram se protegendo contra a doença mais temida da atualidade. 

A instituição abriga pessoas com deficiência grave, como é a caso de Giliane Gomes, 25 anos. Originária de uma tribo Pataxó, em Porto Seguro, ela nasceu com deficiência mental e foi rejeitada pela comunidade em que vivia. Chegou ao abrigo quando tinha sete anos e não saiu mais. Ela foi a primeira a ser vacinada nesta quinta-feira. Depois foi a vez de João Carlos Teixeira, 60, e Luciana Reis, 31 anos.  Giliane foi a primeira a ser vacinada no Lar Fonte da Fraternidade (Foto: Gil Santos/CORREIO) A fundadora e presidente do Lar Fonte da Fraternidade, irmã Maria Lúcia Gomes, contou que ficou alegre com a ação. "Esse é um momento muito importante e ficamos muito felizes pela oportunidade de poder nos vacinarmos. Diante desse inimigo oculto a gente começa a ter a esperança de poder, brevemente, estar voltado às atividades e ao convívio social", disse. 

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que fará a vacinação em outros 18 locais no decorrer do dia, incluindo instituições de longa permanência e unidades de saúde, como já aconteceu com os idosos das Obras Sociais Irmã Dulce e do Abrigo Dom Pedro II, e com profissionais de saúde do Hospital Municipal e do Hospital Martagão Gesteira. 

O prefeito Bruno Reis acompanhou a ação e disse que essa primeira etapa da campanha será concluída nos próximos dias. "A previsão é de que até o final dessa semana, possivelmente no sábado, a gente possa concluir o processo de imunização na nossa cidade. E aí estamos na expectativa da produção de mais doses, da liberação da Anvisa, para que a gente possa seguir dando continuidade ao processo de vacinação", afirmou. João Carlos foi o segundo a ser vacinado nesta quinta-feira (21) (Foto: Gil Santos/CORREIO) A meta desta quinta-feira é imunizar cerca de 4 mil pessoas. Ontem foram vacinados 3.922 profissionais de saúde e idosos, sendo que desde o início da vacinação 5.319 pessoas foram protegidas. Serão 21 mil até o final do processo. Por enquanto, as mulheres são maioria representando 65% do público atingido.

Nessa primeira etapa estão sendo contemplados profissionais de saúde que atuam na linha de frente da pandemia e idosos que vivem em instituições de longa permanência. O secretário municipal de Saúde, Léo Prates, explicou que o planejamento nacional classifica as pessoas com deficiência grave como parte dos grupo prioritário.  

“Nenhum estado é livre para decidir quem é vacinado e quem não é vacinado. Não somos nós que decidimos qual o público alvo da vacina. O Programa Nacional de Imunização estabelece que a coordenação geral é do Ministério da Saúde. Está na primeira etapa às pessoas com deficiência severa, e essa é a única instituição de Salvador que tem pessoas com deficiência severa”, afirmou.

Prioridade O Ministério da Saúde estabeleceu uma série de grupos prioritários para receber a vacina. Em Salvador, eles somam 570 mil pessoas e tinham sido divididos em quatro fases, porém, a quantidade pequena de doses da CoronaVac recebida, cerca de 42 mil, provocou algumas alterações no planejamento.

Dos 103 mil profissionais de saúde que deveriam ser imunizados de imediato, por exemplo, estão tendo prioridade apenas aqueles que trabalham na linha de frente. Já a vacinação que deveria acontecer nos postos para os idosos acima de 75 anos está suspensa até a chegada de novas doses. Confira como estavam divididos os grupos:Na primeira fase: profissionais da saúde, população idosa com 75 anos ou mais, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em Instituições de Longa Permanência (asilos e clínicas psiquiátricas) e indígenas/aldeados/povos e comunidades ribeirinhas. Ao todo, são 168.355. Na segunda fase: idosos de 60 a 74 anos, que somam 185.556 pessoas. Na terceira fase: pessoas com comorbidades crônicas, obesidade e transplantados. São 149.068 indivíduos. Na quarta fase: trabalhadores de educação, pessoas com deficiência severa, membros das forças e salvamento, funcionários do sistema de privação de liberdade, trabalhadores do transporte coletivo, transportadores rodoviários de carga, e população privada de liberdade. Ao todo, 35.969 pessoas. Impacto positivo As 42 mil doses da CoronaVac que desembarcaram em Salvador essa semana serão suficientes para imunizar menos de 1% da população da cidade. Parece pouco, mas os médicos afirmam que há impactos positivos. A infectologista pediátrica Anne Galastri é especialista em Vacinas e Medicina de Viagens, e fez uma leitura do cenário atual.

Ela destacou que o início da vacinação tem dois impactos imediatos. Um deles é a redução dos custos econômicos. Começar a vacinação pelo público mais velho diminui as chances de internamento porque a vacina tem eficácia de 100% para casos graves, o que ajuda a desocupar leitos da Unidade de Terapia Intensiva, liberando espaço para pacientes com outras doenças. Em média, uma pessoa leva de sete a 15 dias ocupando uma UTI.

“O outro impacto imediato é sobre o número de vidas perdidas. O que mostram os estudos, tanto da CoronaVac como da vacina de Oxford, é que o paciente não vai evoluir para a forma grave da doença, ou isso será minimizado bastante. Então, não apenas diminui custos econômicos, mas também custo de vidas, o que não dá para ser mensurado”, disse.

No caso dos profissionais de saúde ela frisou que quando eles adoecem precisam ser afastados das atividades, o que significa ter uma pessoa a menos na linha de frente e maior sobrecarrega para aqueles que estão trabalhando.

A assessoria do Hospital Martagão Gesteira, por exemplo, onde ela atua, informou que 315 profissionais precisaram ser afastados em algum momento durante a pandemia.

“É preciso deixar claro que mesmo quem já tomou a vacina ainda pode transmitir a doença, e que a pandemia ainda não acabou. Então, é preciso continuar adotando as medidas necessárias como evitar a contaminação, como evitar aglomeração, higienizar as mãos com frequência, e usar máscara. Essas ações ainda não necessárias”, afirmou.