Terreiro no Curuzu é o primeiro a ser tombado pela Lei de Preservação do Patrimônio Cultural de Salvador

Cerimônia de reconhecimento do valor histórico do templo aconteceu na tarde de sexta-feira (15)

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  • Luana Amaral

Publicado em 16 de janeiro de 2016 às 07:50

- Atualizado há um ano

O terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, no Curuzu, se tornou o primeiro a ser tombado com base na Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador. A cerimônia de reconhecimento do valor histórico do templo aconteceu na tarde de sexta-feira (15), no próprio local, e contou com a participação do prefeito ACM Neto.

“Aqui está o reconhecimento da nossa ancestralidade, cultura e religião africanas que nos influenciam e foram fundamentais na formação de cada ser dessa cidade”, comentou o prefeito durante a cerimônia.Sacerdote do templo, o doté Amilton Costa comemorou a concessão do título, que passa a proteger a integridade do espaço. “Nasci e cresci no candomblé. Sempre fiz tudo que pude para salvar as tradições”, afirmou, orgulhoso.(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)O presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro, também esteve presente e destacou os benefícios do tombamento. “A cultura é preservada, além do espaço. Aqui é o último pulmão da Liberdade”, declarou Guerreiro, se referindo à imensa área verde do templo.

Também chamado de Vodun Zô, é um dos poucos da nação Jeje Savalu no Brasil e único da Bahia. Sua tradição mantém originais os ritos da linhagem, como o dialeto africano ewe-fon, preservado nas expressões, cânticos, rezas e no cotidiano dos ritos. Segundo o doté Amilton, a etnia é mais rigorosa. Sua iniciação e trabalhos são mais prolongados. “Por isso, as pessoas não procuram tanto”, observou ele.O jeje se diferencia das outras linhas do candomblé. As entidades são chamadas de vodun e não de orixás. “O orixá é cultuado como um espírito personificado, com o caçador, o juiz, etc. O jeje cultua a força da natureza que irradia energia, o espírito da caça, da justiça”, explicou o mawo Adelson Silva.O pedido de preservação do terreiro partiu da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA). Entre os critérios usados para o tombamento estão questões como especulação imobiliária, dificuldade de manutenção das instalações e invasão de terreno. A área verde de 2.408 m² é a única remanescente do Curuzu. Com a decisão, além da preservação, o templo fica livre do pagamento de impostos, já que sua finalidade religiosa foi reconhecida.Na cerimônia, em que foi assinada a certidão oficial de tombamento, o prefeito adiantou que, na quinta-feira, um ato na prefeitura vai oficializar 300 terreiros. “Esse dia vai entrar para a história da cidade. Eles vão contar com imunidade tributária. Além disso, perdoaremos todas a dívidas do passado”, adiantou.