'Terror do Pelô': líder do tráfico no Centro Histórico vive em imóvel de luxo na Orla

Suspeito de 8 homicídios, Jau foi preso ao chegar em apartamento no Jardim de Alah

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  • Thais Borges

Publicado em 20 de dezembro de 2018 às 16:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: SSP e Evandro Veiga/CORREIO

Jadson, o Jau, estava sendo seguido pela polícia (Foto: SSP e Evandro Veiga/CORREIO)  Um apartamento de alto padrão na Orla do Jardim de Alah, uma casa de luxo com piscina e área verde em Stella Maris e pelo menos dois carros particulares. Quem usufruía de tudo isso era Jadson Gramacho dos Santos, 30 anos, apontado pela polícia como o líder do tráfico de drogas no Centro Histórico, suspeito de envolvimento em pelo menos oito homicídios e pela ocultação de cadáveres de parte desses mortos.

Com tatuagens nos dois braços e evitando mostrar o rosto, Jadson, que é mais conhecido como Jau, foi apresentado à imprensa pela Polícia Civil nesta quinta-feira (20), na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. Ele foi preso no fim da tarde de terça-feira (18), nas proximidades do Jardim de Alah, quando tentava chegar em casa. “Ele atua com crueldade, inclusive com ocultação de cadáver”, afirmou a delegada Patrícia Brito, da 3ª Delegacia de Homicídios (Baía de Todos os Santos).Um dos crimes atribuídos ao 'Terror do Pelô' foi a morte de um homem encontrado esquartejado dentro de sacos de lixo na Ladeira do Taboão, no dia 26 de outubro. Identificada posteriormente como Luiz Filipe Costa Vieira, a vítima seria integrante de uma facção rival.

O modus operandi era quase sempre assim: ou deixar os corpos em sacos de lixo ou enterrá-los. A suspeita é de que pelo menos outras duas pessoas que desapareceram no Centro Histórico tenham sido mortas por ou a mando de Jadson, em condições como essas. “Temos as informações, mas é importante também que as famílias procurem seus entes, porque pode haver mais desaparecidos”, completou Patrícia. 

Segundo a delegada, os primeiros registros de crimes de Jadson são de 2009, com porte ilegal de arma. Só que, depois desse ano, ele teria se desenvolvido no crime. “A força dele aumentou, o poder de fogo dele cresceu”. Atuava, principalmente, na região onde nasceu: Pelourinho, Barbalho, Saúde e Baixa dos Sapateiros, onde sua mãe mora até hoje. 

O criminoso é acusado de participar dos assassinatos de Nivaldo Silva de Jesus, Jamilton Dias Oliveira da Silva, Alessandro Santana da Silva Ramos, Paulo Vitor Amorim Dantas, Maurício Aquino dos Santos Filho, Juvenal Pereira Silva e Clerisson de Jesus Queiroz. A polícia, no entanto, suspeita que ele tenha envolvimento em cerca de 20 homicídios.

Morte de parceiros No caminho do crime, Jadson não teria sido responsável apenas pela morte de rivais, mas também de parceiros – ou seja, integrantes da mesma facção, o Bonde do Maluco (BDM). Um deles era um homem conhecido como Piva, morto no início deste ano. “Piva era um executor contumaz, sempre a mando de Jau, que tanto executava quanto matava. Eles tiveram algum desentendimento e Piva foi morto”. 

Jadson estava preso, mas, em outubro de 2017, ganhou liberdade condicional. O problema é que teria continuado cometendo crimes. Por isso, de acordo com a delegada Pilly Dantas, titular da 3ª DH, Jadson era considerado “um alvo muito importante” para a polícia. “Pedimos ao juiz da Vara de Execuções Penais que revisse isso, até porque ele foi encontrado (na terça-feira) com uma certa quantidade de drogas. Agora, ele vai voltar para o regime fechado, na Penitenciária Lemos de Brito (PLB)”, disse a delegada Pilly Dantas. Além das drogas, a polícia encontrou anotações relacionadas ao tráfico de drogas. 

Jadson já vinha sendo acompanhado pela polícia há 20 dias. Investigadores faziam campana no Jardim de Alah, aguardando o momento certo para a prisão. Na terça-feira, os policiais o seguiam desde Nazaré. Jadson estava em um táxi com a esposa e a sogra, indo em direção ao Jardim de Alah, onde mora. 

Já nas proximidades do Costa Azul, o carro foi parado por policiais. “Parecia que até desconfiaram, em um momento, porque o carro começou a andar mais rápido. Eles estavam chegando no apartamento, que é uma morada de primeira linha”, afirmou o investigador Paulo Portela, chefe do Serviço de Investigação da 7ª Delegacia (Rio Vermelho). 

Câmeras na rua Há três meses, Jadson foi avistado em Stella Maris, região da 12ª Delegacia (Itapuã). Circulava pelo bairro, usando dois carros – um táxi, Cobalt, e um Saveiro. Para fugir da polícia, Jadson chegou a instalar duas câmeras na rua do condomínio onde estava morando em Stella Maris, segundo o delegado Nilton Tormes, titular da 12ª Delegacia (Itapuã). “Era uma casa de alto padrão. Estávamos monitorando, esperando o momento certo de fazer a prisão, mas nunca forçamos a entrada na residência”, contou Tormes. 

Há pouco menos de 30 dias, mudou de endereço: foi morar em um apartamento alugado no Jardim de Alah, na Orla. “Ele ficava circulando entre o flat e a casa da mãe, na Baixa dos Sapateiros”, explicou a delegada Lúcia Jansen, titular da 7ª Delegacia. Jadson morava com a esposa e os dois filhos – um de 11 anos, outro de 4 -, frutos do mesmo relacionamento. 

Jadson não quis dar entrevista. Segundo a polícia, ele nega ter cometido os crimes. Durante a apresentação, manteve a camisa escondendo o rosto, com as duas mãos na frente da cabeça. Já na saída, mudou a posição. Erguendo os braços com as duas tatuagens – nas quais lia-se “Amor fraterno, amor de mãe” (no direito) e “Tudo posso naquele que me fortalece” (no esquerdo) –, Jadson deixou o auditório do DHPP mostrando o dedo médio aos jornalistas.