'Tiraram um pedaço de mim', diz familiar de líder comunitário morto em São Cristóvão 

Rapaz foi assassinado na porta de casa por indivíduos desconhecidos 

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 4 de março de 2020 às 10:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Pai de dois meninos, segundo mais velho de cinco irmãos. As circunstâncias da morte de Jackson Meireles Pereira, de 38 anos, assassinado a tiros na porta de casa na sexta-feira (28), no bairro de São Cristovão, ainda deixa o sentimento de medo e insegurança para os familiares do rapaz, que alegam não poderem sair de casa.

Ele, que trabalhava no bairro como líder comunitário, já atuou também como assessor parlamentar de políticos da capital baiana. O crime ocorreu por volta das 19h, na Rua Yolanda Pires.

Em condição de anonimato, um dos familiares de Jackson conversou com o CORREIO sobre a morte dele e contou como tudo aconteceu. Segundo o parente, no dia do assassinato, ele não havia ido trabalhar e se preparava para sair de casa em seu carro quando foi abordado por cinco indivíduos desconhecidos, todos armados, que pediram que ele saísse de dentro do veículo senão matava ele e a família. 

Antes mesmo de abrir completamente a porta para sair, os homens o retiraram à força de dentro do veículo e atiraram contra ele. Jackson ainda chegou a ser socorrido por policiais militares para o Hospital Menandro de Farias, mas não resistiu aos ferimentos. Os criminosos não levaram o carro de Jackson. Segundo a família, "foram só para matar".

"Ele estava se arrumando para sair de casa. Então, foi até o carro, deu partida e do nada apareceram uns cinco homens a pé e pediram para que ele descesse. Depois, só ouvimos os disparos. Mataram ele na saída do carro mesmo. Não levaram nada. Foram só para matar ele. Estamos arrasados ainda. Tiraram um pedaço de mim, um pedaço da minha vida", contou o parente. 

Ainda segundo o familiar, Jackson era um rapaz conhecido no bairro, costumava a se envolver com política e ajudar as pessoas do bairro que precisavam de algum serviço público. A família suspeita que a morte dele tenha sido por motivações políticas, pois o rapaz não tinha inimigos, nem envolvimento com o tráfico de drogas no bairro.  

"Ele era atuante na comunidade, ajudava todo mundo do bairro. Se alguém precisasse dele, ele sempre estava diaposto a ajudar. A minha suspeita é que tenha sido por causa de política mesmo, ele era muito envolvido nessas coisas. Gostava de fazer campanha, trabalhar com políticos, ajudar as pessoas. A vida dele era essa", disse. 

Tristeza e medo Jackson deixa dois filhos: um de 12 anos e o mais novo de 9, que segundo a família, ainda ficam de prontidão na porta de casa aguardando o pai retornar da rua. 

"Eu não entendo porque fizeram isso com ele. Um rapaz bom, bom pai e bom filho. A família está com medo de sair de casa, medo de acontecer alguma coisa com alguém. Ele nunca se misturou com nada de errado. Não bebia, não fumava. Somos de uma família cristã. Muita gente não gostava dele por causa de política. Os filhos dele ficam na porta perguntando que horas o pai volta para casa. Como vamos explicar isso para eles, que o pai não vai voltar?", contou.

O familiar contou ainda que a morte de Jackson ainda deixa marcas e muita dor no coração de todos. "Como fazem isso com um trabalhador? Os filhos deles estão em choque ainda, sem conseguir dormir. Nunca pensamos  que uma mãe iria enterrar um filho, como a dele fez. Ele deixou dois filhos para a família criar. Como eles vão crescer sabendo da forma que o pai foi morto? A mulher dele está arrasada", afirmou.   De acordo com a Polícia Militar, uma equipe da 49ª Companhia da PM (CIPM/São Cristovão) foi acionada pelo Cicom com a informação de disparos de arma de fogo na Rua da Adutora, bairro de São Cristóvão, na tarde do dia 28 de fevereiro. Os policiais foram imediatamente até o local, onde socorreram a vítima para o Hospital Menandro de Farias, mas ele não resistiu aos ferimentos.

A Polícia Civil investiga a autoria e motivação do crime, através do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier