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'Todos se Lavam no Sangue do Sol', um livro barril 

Romance de Paulo Raviere se passa em Salvador; conheça a história

  • D
  • Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2022 às 20:01

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Divulgação Dados preliminares: 1) 'Todos se Lavam no Sangue do Sol' é o primeiro romance de Paulo Raviere, experiente trabalhador das letras, cabra de Irecê, editor e ficcionista que já traduziu mais de 10 livros e escreve direto para as melhores revistas do país; 2) é um romance sobre, em, na, como, portanto, mas sobretudo da cidade de Salvador; 3) uma narrativa pulp de ação, suor, sangue, fogo e sol que não se parece com nada feito antes nestas plagas. 

Direto ao ponto: a história gira em torno de um assalto estabanado a uma joalheria na Rua Chile, violência executada pela manhã, enquanto a fauna do Centro ainda toma café e mordisca pão com manteiga nos balcões dos bares. Os tipos que participam do crime – na verdade, todo mundo – são talvez o que há de melhor nessas páginas: personagens construídas com o rigor do artista que sabe observar e ouvir os corpos suados que transitam pela cidade: estudantes da Facom narcotizados, donos de bar durões, madames do bairro da Barra, e muito outros tipos urbanos bastante reconhecíveis. Isso tudo escrito com a trilha sonora certa, à la Nick Hornby e Raven Leilani. 

Sobre as vozes do coro, seria insuficiente dizer que possuem sotaque marcado, pois o conjunto da obra propõe sintaxe, morfologia e léxico próprios ressintetizados na gramática das ruas de Salvador, na trama, inclusive. Tudo acontece o tempo todo numa agonia de eventos caudalosos. Tiro, porrada e bomba de mil. E se é verdade que a caneta de Quentin Tarantino aparece bastante por aqui – a cena final é um remix de uma sequência de Pulp Fiction – é bom também atentar para a atmosfera do cinema B napolitano oitentista. Rápido e pipocante; se fosse um filme teria aquela duração de 90 minutos friamente calculados para esculhambar a respiração do espectador. As pausas na leitura cobram seu preço: é melhor sentar e ler de uma vez só.

Outro ponto notável é como as coisas se dão a ver neste livro, pelo sentido da visão mesmo. O autor sabe aproveitar o espetáculo visual que acontece todos os dias na cidade e executa quadros em cores quentes super saturadas: Pelourinho fumegante, Carlos Gomes de lojas e barracas invadindo a rua, a luz fortíssima da Praça Castro Alves. E quem curte ilustrações, no sentido literal, pode ainda se deleitar com os desenhos que Alcimar Frazão fez para esta história cujo projeto editorial tem a assinatura da Darkside, casa que nos últimos anos vem se destacando no mercado, principalmente no segmento de horror e crime.  

Comentário final: é com muito engenho e arte que Paulo Raviere combina crônica histórica – desta velha pólis –, erudição e maloqueiragem em citações abundantes, somando a isso uma voluptuosa habilidade para amarrar todos os fios narrativos em direção a um desfecho surpreendente. Todos se lavam no sangue do sol é barril.