Torcedor de superclube é firme e forte

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  • Paulo Leandro

Publicado em 1 de setembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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É dever do torcedor de boa vontade participar do jogo de seu time como se dentro de campo estivesse. O corpo já não pertence ao legítimo fanático, quando ultrapassa a marca fatal da catraca eletrônica e adentra o recinto da praça esportiva.

Uma das formas de identificar o torcedor de verdade está na postura corporal. O torcedor jamais senta-se ou recosta-se, como se a cadeira de plástico ou o cimento da arquibancada fosse um acolchoado sofá ou a cama de delícias do motel da prof. Pinto de Aguiar.

Afinar as cordas vocais é recomendável antes do prélio. Há formas diversas de aquecer nossos instrumentos naturais de som: o torcedor à vera, para incentivar melhor o time, busca informar-se sobre como fazer eco a fim de passar axé aos seus guerreiros.

A consciência do torcedor manifestado dirige-se intencionalmente ao time para o compartilhamento necessário a fim de dar-lhe a moral, pois sabemos, desde o “Andarilho e sua sombra”, qual é “o melhor remédio da vida: a vitória”.

Com a vitória, sorrimos, curamos doenças, cicatrizamos feridas, subimos na pontuação, produzimos a sensação de superar a nós mesmos, tornando-nos o “superclube”. Mas, para a automedicação dar certo, não podemos ser uma torcida de pequenos.

Zaratustra, certa vez, aceitou levar ao ombro uma criatura menor, pois queria ter avisos precisos da campanha: o camarada, do alto, apontaria os adversários mais difíceis e aqueles fáceis de serem abatidos, como fazem as raposas às tenras ovelhinhas.

No entanto, Zaratustra frustrou-se com a companhia, pois dela ouvia apenas inúteis gritos de socorro e brados alucinados de perigos imaginários. Animaizinhos dóceis eram elevados a tiranossauros rex e velociraptors.

O miúdo ser, montado ao seu cangote, não controlava sua natureza de pernas curtas tomadas pelo pânico. Zaratustra não teve dúvida em desvencilhar-se daquele falso farol, cujas visões abestalhadas atrapalhavam a trilha pelo remédio: a vitória.

Torcedores fracos não combinam com agremiações cujas histórias de glórias são patrimônios imateriais de sociedades heroicas. O superclube os rejeita por falta da “energeia” grega: aquilo que garante vigor e ereção! 

Como alegra a nostalgia das grandes vitórias, quando a torcida firme e forte assume para si a responsa de ser o moto contínuo da busca pelo resultado, especialmente nos momentos de maior dificuldade.

Tanto quanto treinar o time, é preciso educar a torcida. O erro de um jogador não pode ser corrigido com vaia durante a liça. Ao contrário, a falha aplaudida é capaz de reabilitar o titular em momento hesitante.

Um gol sofrido precisa ser respondido com o “vamo virar”, em vez de provocar a zanga definitiva de deixar o estádio apressado e entristecido tendo à frente do rosto o mundo robusto da derrota reversível.

O torcedor modesto e mau-humorado é um derrotado por antecipação. Uma pugna de 90 minutos mais acréscimos não pode ser perdida nem com um, nem com dois, ou até três tentos, antes de toda areia da ampulheta descer.

Um superclube dispensa consumidores de resultado. São clientes sem moral para vestir o manto. Um superclube tem torcedores grandes, positivos. Mesmo sob temporal e incertezas, permanecem de pé, até o remédio da vitória.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.