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Gabriel Galo
Publicado em 23 de setembro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Perder de maneira consecutiva para os lanternas do campeonato fez mais estragos no Vitória. Carlos Amadeu não resistiu a mais duas apresentações ruins, desta feita sem poder botar na conta da falta de tempo para treinamento. Na sequência, a contratação de Geninho foi divulgada no Twitter oficial do rubro-negro: o perfil pessoal do presidente.
A apresentação do novo técnico, o quinto neste ano, o terceiro a assinar contrato sob a batuta de PC, veio, como de costume, com agressões à torcida. Agora, diz Paulo Carneiro, que a arquibancada “torce muito e entende pouco”. Intui-se, pois, que quem entende é ele, senhor da ideia do jogo.
Não se trata, no cerne, apesar da postura egóica do mandatário, de alimentar seu ego. As frequentes cruzadas contra a torcida se dão por um projeto de retomada de poder absoluto. Pense: que sentido há alimentar conflito entre o clube e sua massa? Nenhum, a não ser cortar a voz interna de questionamento, de cobrança, de oposição.
Para quem opera no limite da civilidade, é fundamental manter o debate público em tom de conflito. Neste cenário, a razão é deixada de lado para que o sistema digestório tome conta.
O livro-base do autoritarismo tem três construções principais. A primeira delas é a projeção de força. Encaixam-se nesta linha frases como “O adversário voltará a temer.” O segundo passo é a fabricação de inimigos, estas entidades fantásticas que existem apenas para minar o desenvolvimento altruísta do pretenso ditador. Surge a extrema imprensa para uns, o torcedor de boleto para outros. O terceiro agrupamento é o ataque que destrói instituições. Se você pensou no golpe da AGE cancelada, parabéns, estamos falando a mesma língua.
A torcida consegue a façanha de estar tanto no segundo quanto no terceiro item. Quando se quebra a torcida como agente participante da política do clube, ataca-se por dentro a democracia. Ao fazer-se combativo a quem é rubro-negro, visa-se, no extremo, calar a discordância.
Então, não é que a gente torce muito e não entende nada. É que, na verdade, a gente entende exatamente o que está acontecendo e escolhe não se calar. A gente entende exatamente as intenções e se amontoa em brados de resistência para que a voz da arquibancada permaneça ativa e, mais do que isso, respeitada.
Diante do absurdo, tendemos a normalizar as situações, trazendo o horror para perto, tornando-o mais palatável. O que não se compreende se simplifica artificialmente. Assim, nos vemos diante de um espetáculo que testa a capacidade de entendimento do real e do fictício. Com isso, ficam todos perdidos, cansados. Resiliência é dom que não se vende. E na desistência de tantos, o autoritário prospera.
Enquanto isso, a equipe cambaleia, se esforçando para voltar ao lugar onde estava no expurgo de 2005. Afinal, não se prometeu deixar o Vitória de volta ao lugar onde ele havia deixado?
Mas, sim, Geninho. Bem-vindo. A torcida, acossada diuturnamente, ainda mantém vivo um fiapo de esperança, apesar de tantos maus-tratos. Já vimos que na base da organização não vai. Apelemos, então, ao caos e à total falta de sentido. Dá um jeito, meu amigo Eugênio?
Gabriel Galo é escritor.