Trabalhando em casa: dicas para montar seu home office

Nova lei trabalhista dá novo fôlego para contratos de trabalho remotos

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  • Victor Lahiri

Publicado em 5 de julho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

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A designer gráfica Renata Nunes trocou a mudança para São Paulo por um home office em Salvador. (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Um importante ensinamento da crise financeira enfrentada pelo Brasil nos últimos anos, principalemente aos pequenos empresários e profissionais liberais, foi separar o que é fundamental do dispensável. E a sala comercial, espaço que antes era considerado a materialização da solidez da empresa, passou a representar perdas no orçamento. A solução para o equilíbrio das contas veio batizada em inglês, com um termo que, apesar de não ser tão novo aos ouvidos brasileiros, se tornou mais familiar ao longo desse período: home office O conceito da nomeclatura é autoexplicativo, “escritório em casa”, que foi, inclusive, regulamentado pela nova reforma trabalhista. Reservar um cômodo da sua residência para tocar as demandas profissionais virou a opção principal para quem tem pouco dinheiro para começar um negócio ou quer diminuir os gastos. A economia foi o argumento para a designer gráfica Renata Nunes que, junto com a sócia Érica Kolbe, montou toda a estrutura de trabalho na própria residência, em Brotas. “Quando concluímos a faculdade, o plano era ir para São Paulo, o objetivo inicial era trabalhar para empresas, carteira assinada, mas, por trabalharmos em um segmento que permite a atividade a distância, resolvemos permanecer em Salvador e montar o home office”, diz."O plano era ir para São Paulo, o objetivo inicial era trabalhar para empresas, carteira assinada, mas, por trabalharmos em um segmento que permite a atividade a distância, resolvemos permanecer em Salvador e montar o home office” - Renata Nunes, designer gráfica. O escritório de  Renata e Érica fica em um quarto. Não é muito espaçoso, mas concentra todas as ferramentas necessárias: cadeiras ergonômicas, mesas, computadores, impressora, estantes. A decoração é personalizada e inclui um quadro de datas para marcar os prazos. “Aqui resolvemos todas as demandas, trabalhando de maneira remota. Quando precisamos nos reunir com os clientes, agendamos em espaços públicos como cafés ou shoppings. É um modelo que tem dado certo, o cuidado só precisa ser redobrado em relação às regras da rotina, se não atrasamos as responsabilidades”, relata.  Levar a produção profissional para o ambiente doméstico é uma tendência mundial, de acordo com o técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), José Soares. Ele destaca que esse cenário se consolidou em meio aos profissionais liberais e empreendedores em geral, mas com a regulamentação da nova lei trabalhista, empresas passaram a adotar a possibilidade pela vantagem com os gastos. “O maior medo das empresas antes eram possíveis implicações jurídicas. Agora, com a nova lei, o espaço se tornou vantagem pois, com o home office,  se gasta menos com a estrutura comercial e a perda de tempo com deslocamento. A produtividade  pode melhorar com o home office”. José explica, porém, que o método deve ser bem planejado para evitar que a rotina doméstica exerça um impacto negativo no resultado do trabalho. “Quem vai montar um home office deve escolher um cômodo adequado e que conte com características do ambiente de trabalho para que a capacidade de autogestão do profissional seja beneficiada”, recomenda. O projeto da arquiteta Cynthia Pitangueira contempla busca atingir o máximo de funcionalidade em um espaço pequeno. (Foto: Divulgação) Mão na Massa Por mais simples que pareça, posicionar uma mesa e uma cadeira no quarto para trabalhar não é sinônimo de home office. De acordo com a arquiteta e designer de interiores Cynthia Pitangueira, antes de mobiliar o cômodo escolhido, é preciso entender as necessidades de quem vai trabalhar lá. “Diversos tipos de profissional trabalham em casa e cada um tem uma necessidade, contudo, alguns equipamentos sempre estão presentes nos projetos, bancada, cadeira ergonômica, prateleiras de apoio e suporte para impressoras”, comenta.   Aos que estão na briga com o espaço em apartamentos pequenos, o arquiteto Rodrigo Rodrigues diz que nem tudo está perdido, já que o home office pode ser montado em um cômodo maior, como a sala. Todavia, para minimizar as distrações naturais de uma área de trânsito de pessoas, uma divisória móvel pode ser uma grande aliada.  Na hora de definir iluminação e pintura, Rodrigo ressalta a importância de se evitar cores agitadas e luzes diretas. “Os tons neutros, como bege ou branco, são as opções mais indicadas. A mesma regra se aplica se sua opção for o papel de parede, evite as cores vibrantes”, aponta. No esquema de iluminação, ele recomenda as luzes indiretas sobre a bancada. “À noite, essa função pode ser cumprida com um pendente com luz focal ou uma luminária sobre a mesa”, diz.“Recentemente, fiz um projeto que contava com uma ‘poltrona da criatividade’, que é o espaço para oxigenar as ideias, afinal, apesar de ser o local de trabalho, não podemos deixar de aproveitar o conforto de estar em casa” - Rodrigo Rodrigues, arquiteto.Em  relação à escolha dos móveis, Cynthia ressalta a importância da ergonomia, principalmente a altura da bancada e o tipo de cadeira escolhida, pois o profissional que passará muitas horas sentado pode sofrer com desconfortos se os móveis não forem apropriados. “Além do conforto com os móveis, nos meus projetos também procuro priorizar lugares arejados”, diz a arquiteta. “Uma boa alternativa é colocar a mesa próxima à janela para que, em alguns momentos, a pessoa que está trabalhando ali possa espairecer e relaxar realmente”, completa. Adaptar um espaço para relaxar no ambiente de trabalho, segundo Rodrigo, é fundamental. “Recentemente, fiz um projeto que contava com uma ‘poltrona da criatividade’, que é o espaço para oxigenar as ideias, afinal, apesar de ser o local de trabalho, não podemos deixar de aproveitar o conforto de estar em casa”, comenta.   Espaços como o Coworking Salvador reduzem custos com aluguel. (Foto: Divulgação) Escritório compartilhado também é opção barata

Apesar do home office ser uma boa alternativa par fugir dos custos do aluguel ou da compra de uma sala, nem todo mundo tem espaço para montar o seu escritório em casa. Para essa turma, porém, nem tudo está perdido. Com um conceito ainda pouco conhecido, os escritórios colaborativos -  ou coworkings - têm se multiplicado rapidamente por Salvador, atraindo, principalmente, pequenas empresas e profissionais liberais pelo alívio que oferecem ao bolso.  A ideia do coworking se baseia no compartilhamento de espaço e recursos de escritório. Diferentes profissionais que não atuam necessariamente na mesma área ou empresa repartem o custo de uma mesma estrutura de trabalho, que em geral conta com salas de reunião, escritórios, segurança e localização privilegiada. Eu estava procurando uma solução para o espaço enorme que tínhamos e, depois de assistir a uma reportagem sobre o assunto na TV, resolvi trazer esse conceito que até então não existia aqui” - Sandra Damasceno, proprietária do Coworking Salvador Em Salvador, a tendência chegou em 2011, quando a empresária Sandra Damasceno transformou um showroom de móveis, na orla da Pituba, no Coworking Salvador. “Eu estava procurando uma solução para o espaço enorme que tínhamos e, depois de assistir a uma reportagem sobre o assunto na TV, resolvi trazer esse conceito que até então não existia aqui”. A escalada ao longo dos anos não foi fácil, porém a crise financeira deu visibilidade ao espaço. “Muitas empresas e profissionais entregaram as tradicionais salas e vieram para o coworking, pois os custos chegam a ser reduzidos em até 50%. Quem chega para conhecer não sai”, garante.  A maior parte dos coworkings ativos em Salvador funciona com pacotes e planos que garantem acesso a itens da estrutura de acordo com o valor pago mensalmente, alguns, porém, têm buscado inovar para tornar os espaços ainda mais atrativos e movimentados. Funcionando há pouco mais de uma semana no Rio Vermelho, o Eto Espaço Compartilhado, do casal Marina Soares e Daniel Talento, deve agregar uma lista de atividades sobreposta à função corporativa. “Vamos operar com um restaurante e café para oferecer mais conforto aos clientes. Também estamos montando parcerias para cursos e até aulas de ioga e meditação que serão realizadas após o horário comercial, pois, além de espaço de negócios, o coworking também é um espaço de convivência”, afirmam.