Tradição há 133 anos, Bembé do Mercado volta a ser celebrado em Santo Amaro

Manifestação cultural e religiosa acontece desde 1889 para celebrar o 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura

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  • Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2022 às 05:00

. Crédito: Redes sociais/Prefeitura de Santo Amaro

Maior candomblé de rua do mundo, o Bembé do Mercado está de volta no formato tradicional em Santo Amaro, cidade do Recôncavo Baiano. A manifestação cultural e religiosa acontece desde 1889 para celebrar o 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura. Neste ano, a festa acontece até esse domingo (15), e serão realizadas cerimônias do candomblé no largo municipal. No domingo, tem o ápice com a entrega de presente à Mãe d’Água.

O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) explica que a data foi celebrada pela primeira vez pela população negra que foi às ruas para comemorar o fim da escravidão. Segundo a história oral contada pelos santamarenses e reafirmada pelos participantes do evento, no dia 13 de maio de 1889, um africano de origem Malê, conhecido por João Obá, saiu com seus filhos de santo para comemorar a abolição. Naquele ano, foi armado no Largo do Xaréu, em Santo Amaro, um grande caramanchão, coberto com palha e por três dias foi realizado um grande candomblé que culminou com a entrega de um presente à mãe d’água.

O secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Santo Amaro (Secult), Moysés Neto, falou sobre a celebração. Segundo ele, o Bembé se caracteriza como uma obrigação religiosa destinada às divindades das águas para agradecer e propiciar o bem-estar da coletividade.

São três momentos cerimoniais: os ritos ligados ao fundamento da festa (as cerimônias para os ancestrais, o Padê de Exu, o Orô de Iemanjá e Oxum); o Xirê do Mercado; e a entrega dos presentes destinados a Iemanjá e a Oxum. 

“A programação dos festejos conta com mesas redondas, rituais do candomblé, manifestações culturais como capoeira, maculelê, samba de roda e dança afro. Além disso, serão realizados shows com Cortejo Afro, Gerônimo, Chula João do Boi, entre outras atrações. A celebração terá a presença do governador da Bahia, Rui Costa”, explicou o secretário. 

Segundo o titular da pasta, falar de Bembé é falar de identidade, pertencimento, religiosidade e ancestralidade. “Não há nada mais genuíno, mais representativo, que traduza melhor a nossa identidade que o Bembé do Mercado. O bembé começou em 1889 com João Obá, que saiu na rua não para comemorar um simples ato administrativo, que foi a assinatura da Lei Áurea, mas ele fez um ato de resistência, um ato heroico. Ele saiu para comemorar a liberdade religiosa, a liberdade de expressão, um ato de bravura, é a  liberdade como a gente diz na sua essência”, destacou o secretário. 

Moysés Neto ressaltou que este ano será a confirmação do Bembé como bem imaterial nacional. A celebração foi registrada como Patrimônio Cultural do Brasil em junho de 2019, sendo o título concedido pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No dia das celebrações religiosas, comparecem mais as pessoas adeptas à religião. No sábado, quando a celebração contará com shows de artistas, como Gerônimo, a expectativa é de 4 a 5 mil pessoas. 

“Este ano é decisivo para o nosso país [por conta das eleições] e precisamos, mais do que nunca, fazer a escolha certa. Acho que está na disputa a liberdade contra o autoritarismo, civilidade contra a barbárie e a democracia contra a tentativa do golpe. O bembé, diante dessa conjuntura, serve para uma nova libertação. Enquanto um de nós estiver acorrentado, nenhum de nós estará livre, resistir é liberdade. Viva o Bembé do Mercado, viva João Obá, viva a nossa ancestralidade”, finalizou o titular da Secult.