Traficante carioca que atuava como advogado em Salvador é preso

Anderson foi detido no restaurante que mantinha com a mãe no Pelourinho

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  • Bruno Wendel

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 17:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/CORREIO

O que dizer de um homem que se formou em Direito, passou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e se preparava para dar aulas em faculdades após concluir a pós-graduação em Ciências Criminais? Um exemplo a ser seguido, se não fosse o fato de ser um traficante foragido da Justiça do Rio de Janeiro.

Há dez anos escondido na Bahia, Anderson Luiz Moreira da Costa assumiu a identidade de Adson Moreira de Menezes. Entre a década de 1990 e início dos anos 2000, ele comandava o tráfico do Morro da Serrinha, na Zona Norte do Rio, e era conhecido como Espinha, por causa de uma cicatriz na barriga. Anderson antes de vir para a Bahia e se 'tornar' Adson  (Foto: Reprodução) Além de tráfico de drogas, ele responde pelos crimes de latrocínio e porte ilegal de armas, inquéritos instaurados pela polícia fluminense. Mas Anderson cansou de fugir da polícia no Rio e veio para Salvador, onde tem parentes.

Depois de sair do Rio, juntou dinheiro, providenciou documentos falsos e por mais de uma década estava radicado em Salvador, onde assumiu a identidade de Adson. E como Adson, ele não só investiu nos estudos – chegou a ser aprovado num concurso público como estagiário de uma penitenciária baiana –, como também abriu negócios, virou empresário, tornando-se sócio de um restaurante e dono de uma loja de instrumentos musicais e outra de peças de motos.

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Prisão Anderson foi preso na noite de segunda-feira (30), no Restaurante Tropicália, de propriedade dele e da mãe. Ele foi levado para a sede da Polícia Interestadual (Polinter), no Complexo Policial dos Barris, onde ficou custodiado até o embarque para o Rio, onde deve permanecer preso. 

A prisão foi realizada pela polícia do Rio, sob o comando da delegada Raíssa Celles, da 77ª Delegacia (Icaraí). O CORREIO tentou contato, mas até o momento não conseguiu falar com a delegada. Anderson tinha três mandados de prisão em aberto por latrocínio (roubo seguido de morte) e tráfico de entorpecentes. 

Aluno Com documentos em nome de Adson, Anderson se inscreveu no vestibular e passou no curso de Direito da Faculdade Dois de Julho. A direção da faculdade informou ao CORREIO que ele iniciou as aulas no ano letivo 2005.1 e que na matrícula apresentou documentos em nome de Adson, como título de eleitor, documento de identidade e atestado de alistamento militar, além do histórico escolar do Colégio Campos Sales, no Rio de Janeiro, expedido em 1990. 

A direção da faculdade informou ainda que Anderson, ou melhor, Adson, era um bom aluno, daqueles de tirar 8,0; 9,0 e até 10 com frequência. O aluno também era adepto das atividades extra-curriculares como palestras, seminários e eventos. Ele colou grau em 5 de março de 2010 e durante os quatro anos de faculdade, passou na prova final de apenas seis matérias. 

OAB O falso Adson passou no complicado Exame de Ordem. Em nota, a OAB da Bahia informou que “consta no Cadastro Nacional dos Advogados (CNA/OAB) a inscrição do advogado Adson Moreira de Menezes, com o número 37675. O mesmo ingressou na OAB-BA como advogado em outubro de 2012”.

A nota diz ainda que “o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-BA, por sua vez, não foi notificado por nenhuma autoridade em relação a uma suposta ligação do advogado com o uso de documento falso”.  Registro de Anderson no Cadastro Nacional de Advogados, da OAB (Foto: Reprodução) Restaurante Na manhã desta quinta-feira (2), o CORREIO esteve no Restaurante Tropicália, situado no Pelourinho, e que pertence a Anderson e à mãe dele, Sandra. "Não sei quem é Anderson, não sei quem é Adson. Só sei que a dona é Sandra, essa mulher aí, que foi quem me contratou", disse uma das funcionárias exaltadas, apontando para o cartaz com a foto da mãe de Anderson fixado na porta do estabelecimento.

Apesar de os funcionários se recusarem a falar sobre o assunto, o comerciante Valmir Gomes, 51, conhecido como Marrom, disse que o restaurante já era de Sandra. "Ela comprou há um tempo e o filho ajudava na manutenção. Ele sempre estava aí, inclusive ele foi preso dentro do restaurante. Quatro policiais do Rio efetuaram a prisão", contou Valmir, que em seguida declarou que ficou surpreso. Fachada de restaurante, no Pelourinho, onde Anderson foi preso (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) "Ninguém podia imaginar que ele é esse cara tão perigoso. Mas ninguém aqui tem o que falar dele. Sempre quando alguém precisava de comida, e ia no restaurante deles, ele dava comida. O que ele fez no passado, pra a gente não vigora nada", declarou. Valmir disse ainda que a esposa de Anderson, Fernanda, está grávida. "Ela vai ter o neném a qualquer momento", finalizou.