Tranquilo e infalível como Bruce Lee

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  • Kátia Borges

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Todos que conheço se dizem exaustos. O enredo do nosso cotidiano lembra a última cena de Fight Club. Às vezes, penso que seria bom ser do tipo que desiste. Conheço uma escritora que convive tranquilamente com seus projetos inacabados. “Não deu”, diz do mestrado em literatura nunca concluído. Um tema qualquer, à deriva, não perturba o seu sono, muito menos a obsessão por publicar um livro.

Um amigo dirige todas as noites, do trabalho para casa, com os faróis apagados. Só na garagem, quando desliga o automóvel, percebe a sorte e o erro. Outro me conta que, para se manter acordado no trajeto, liga o som bem alto e escuta algum clássico do Red Hot Chili Peppers. Penso nesses carros, zumbis zunindo nas curvas da cidade, enquanto ouço, pela enésima vez, uma playlist de mantras.

Uma amiga confessa que coleciona pen drivers perdidos, sempre esquece um deles conectado, rastros de seus arquivos – imagens, poemas, textos – andam espalhados por computadores de vários países. Como já sabe que irá perdê-los, ela registra em uma caderneta azul os seus números de série e reproduz os mesmos conteúdos em outros suportes. Virtualmente, também estamos cansados.

Diariamente, desabafos furiosos fincam bandeiras nos recônditos de alguma rede – imagens, textos, fotos. Seguem tremulando, ao sopro dos ventos como se sinalizassem o domínio de incerto território. Há também os histriônicos. Riem de nervoso quando mal sustentam os olhos abertos. Resta sempre algo por concluir ou conquistar, de todo modo, em algum canto, e é preciso ser rápido, preciso, criterioso.

Resta sempre algo por perder, por aprender, de todo modo, em algum canto, e é preciso ser rápido, preciso, criterioso. Não é um mistério (escreve, Bishop!). Mais rápido, com mais critério. Tranquilo e infalível como Bruce Lee, dizia uma colega de trabalho. E eu gostava de ouvir aquela frase assim, porque era música e porque meu pai me ensinou, desde a infância, a amar tudo que é luta e dança em Bruce Lee.

Mas, havia outra mensagem que me pegava ali, na canção de Caetano, na frase de autoafirmação, na incrível exaustão de um planeta inteiro. Era algo que soava para mim como uma paráfrase de Paulo Leminski. “Tranquilos venceremos”. E esse grilo no pensamento virou um clássico em minha playlist de mantras, substituindo aos poucos o culto à vitória dos distraídos – e sua inegável fama de cronópios.