'Trataram meu filho como um marginal. Que polícia é essa?', diz pai de menino morto por PMs

Hebert brincava na rua quando foi baleado; policiais foram presos

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 15 de março de 2019 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Em Aracaju (SE), o encanador José Carlos Silva, 70 anos, recebeu uma ligação de alguém da família, pedindo para que voltasse para Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, assim que pudesse. Como a pessoa do outro lado da linha insistia que só falaria quando chegasse, ele pegou o carro e veio às pressas. O coração já estava mais que apertado.

"Tava pra sair pela boca de tanta aflição. Quando cheguei nessa madrugada, tive a pior notícia de minha vida", disse aos prantos ao CORREIO o pai do estudante Hebert Felipe Souza Silva, 11, morto durante uma ação da Polícia Militar na noite de quinta-feira (14).

A mãe de Hebert, a auxiliar de limpeza Gilcinalva Santana Souza Silva, 51, chegou a dar algumas declarações à imprensa, mas, diante de tanta emoção, passou mal e precisou ser medicada. Ela foi atendida por uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e preferiu descansar para o enterro do filho, às 17h desta sexta-feira (15), no Cemitério Jardim da Eternidade, no bairro Lama Preta, em Camaçari. Garoto de 11 anos morre vítima de bala perdida; família diz que PM atirou (Foto: Acervo Pessoal) Segundo parentes e vizinhos do menino, Hebert brincava na rua quando foi baleado. "Como pode, meu Deus? É impressionante como uma criança não pode brincar na porta de casa. Trataram meu filho como se fosse um marginal. Ele era menino estudioso e cheio de sonhos. Que polícia é essa? Que segurança pública é essa, que mata inocentes ao invés de prender bandidos?", desabafou o pai de Hebert. O garoto era o filho caçula dele, fruto do segundo casamento. José Carlos tem outros cinco filhos, da primeira relação.O menino era o xodó de José Carlos. "Gosto de todos os filhos, mas ele era o mais chegado a mim. Eles o mataram e tiraram uma parte de mim, de minha família, dos vizinhos porque todos gostavam dele. A perícia vai dizer se o tiro foi acidental ou proposital. Não acredito que tenha sido", declarou.Um dos irmãos do estudante, Evaldo Silva, 35, disse que quatro policiais militares já foram presos acusados pelo crime. A PM confirmou. “Quando era ouvido lá na Corregedoria da Polícia Militar, nesta manhã, fui informado que quatro PMs já estavam presos. Eles não me disseram as patentes, só que a prisão tinha sido realizada”, declarou. José Carlos Silva, pai da vitima (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Luto Uma faixa preta no portão de entrada do Colégio Dom Pedro II, onde Hebert estudava, dava o tom: luto. Ele era aluno do 5º ano, na turma da tarde, numa das maiores instituições de ensino privadas de Camaçari. "Era seu primeiro ano na escola. A mãe estava feliz porque conseguiu um bom desconto para colocá-lo aqui. Era um aluno muito alegre, querido por todos. Estamos todos arrasados", declarou a diretora da escola, Adriana Marcele de Matos. 

Nesta sexta-feira (15), havia uma atividade extra para os alunos, mas foi suspensa. "Como hoje era o Dia da Escola, teríamos lanches e músicas para a criançada, mas suspendemos tudo. As crianças que chegaram a vir pela manhã, acolhemos elas e fizemos uma oração para Hebert. À tarde, turno que ele estudava, as aulas foram suspensas para que todos nós possamos ir ao velório", disse a diretora emocionada.  Foto: Evandro Veiga/CORREIO O caso é investigado pelas corregedorias da Secretaria de Segurança Pública e das polícias Civil e Militar. Apesar disso, o delegado José Bezerra, diretor do Departamento do Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), esteve no local do crime. “O delegado-geral pediu para a gente dar um apoio às investigações, por isso vim pessoalmente. Já recolhemos alguns vestígios de projéteis e estamos através de capturas de imagens de câmeras”, declarou o delegado.