Um a cada cinco baianos vive em Salvador ou em Feira de Santana

Dados foram divulgados pelo IBGE

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  • Nilson Marinho

Publicado em 29 de agosto de 2018 às 15:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Vindo do interior, quem procura um grande centro ou uma cidade referência, chega sobretudo com a intenção – ou a falsa ilusão em alguns casos - de que cidades maiores podem proporcionar oportunidades que parecem não existir nos grotões do Brasil.

Nos grandes centros urbanos da Bahia, os migrantes somam-se aos habitantes locais, aumentando ainda mais as estatísticas: metade da população baiana se concentra em apenas 35 dos 417 municípios, fazendo com que o estado tenha uma grande concentração populacional em poucas cidades. 

De acordo com dados de um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada nesta quarta-feira (29), 7 milhões de pessoas fazem moradas em apenas 35 municípios. O número representa mais da metade da população do estado que é de 14 milhões. 

As cidades com altos índices populacionais são também as maiores: Salvador e Feira de Santana, as duas com a população acima de 500 mil habitantes, diferente dos outros 33 municípios, todos abaixo de 350 mil. O levantamento revela também que um em cada cinco baianos mora em Salvador ou Feira. 

A comunicadora Maria do Amparo, 61 anos, deixou a cidade de Alagoinhas, no Nordeste do estado, no início dos anos 70. Veio aninhada nos braços dos pais que lhes prometeram um futuro mais próspero, além de uma boa educação. Coisa que a sua cidade natal, à época, lembra, não oferecia.

Quando deixou sua terra, com os pais e os seis irmãos, Alagoinhas ainda começava a galgar os primeiros passos rumo ao desenvolvimento. Hoje, a cidade está no ranking das mais populosas, ocupando a 12° posição, com 150 mil habitantes.

Na capital baiana, a princípio, tudo era muito grandioso. Dos prédios à distância que separavam os destinos. Em plena ditadura, o sentimento era de segurança - para aqueles que não conspiravam contra o Estado. 

Aqui, diz, se tornou “moça-feita”, casou e teve uma filha que está prestes a se formar em Direito. Conseguiu crescer, criar e educar em terras alheias. Dos seus seis irmãos, três deles tomaram outros rumos e procuraram outros grandes centros urbanos brasileiros. Outros três permaneceram em Salvador.“Foram vários fatores que trouxeram meus pais para cá, entre eles uma educação melhor. Mas chegar aqui foi um impacto. Você sai de um círculo de tranquilidade e vem para uma zona urbana com muita agitação, mas sou grata pela acolhida”, comenta a comunicadora. Educação Quase quatro décadas depois, as pessoas que chegam nas grandes cidades carregam consigo o mesmo propósito que os pais da Maria. A estudante Katyara Barcelar, 20, trilhou os cerca de 300 km que separam sua terra natal, Várzea da Roça, no Centro-norte do estado, e Salvador. A jovem mora na capital baiana desde o começo deste ano quando resolveu procurar por um pré-vestibular que lhe preparasse para enfrentar a concorrência para ingressar no curso de Direito.

Várzea da Roça, com 13 mil habitantes, fica longe de integrar a lista das 35 cidades mais populosas, de acordo com o levantamento do IBGE. A última a entrar na lista, Cruz das Almas, no Recôncavo, possui pouco mais de 60 mil. Quase 6 em cada 10 cidades baianas (59,0% ou 246 das 417) têm menos de 20 mil moradores cada uma.

“Foi em busca de um futuro melhor. Lá, não tinha oportunidades, como Salvador pode me dar. Não tem, por exemplo, um bom ensino”, disse.  Sem instituições de ensino superior, tampouco preparatórios, só restou enfrentar a agitação e os contrastes da capital. Difícil de ser entendido pelos seus munícipes e por aqueles que vêm de fora.  

A também estudante Maria Fernanda Dourado, 18, veio da cidade de Irecê, também no Centro-norte, em busca de um ensino melhor. A cidade dela, diferente da amiga Katyara, possui instituições de ensino superior. É, inclusive, a 27° colocada com 72 mil habitantes. “Eu gosto do lazer e da estrutura que a cidade pode oferecer, esporte, ensino, cinema...”, lista. 

Pesquisa Mariana Viveiros, analista de informações do IBGE, explica que os números populacionais das cidades foram apontados tendo como base a tendência de crescimento dos municípios constatado nos dois últimos censos populacionais realizados em 2000 e 2010. Com isso foi possível chegar ao resultado final, com ajuda também de dados. Um novo levantamento deve ser feito, possivelmente, entre os meses de novembro e outubro de 2020. 

Sendo assim, nenhuma pessoa foi ouvida pelos pesquisadores do instituto. O que dificulta entender, por exemplo, o que as levaram realizar a migração para os grandes centros. Mas, segundo a analista, é possível levantar algumas hipóteses como a de que a maioria das cidades baianas possui menos de 20 mil habitantes e, consequentemente, menos receita e menos investimentos na área da educação e emprego. 

“É um processo que a gente sabe que acontece em todo o estado e que tem a ver com o fato de uma série de municípios serem pequenos, sem um dinamismo econômico que segure sua população. Muitos deles inclusive foram criados recentemente de 1988 para cá, quando a constituição permitiu uma criação maior de municípios. É uma questão que aflige muito o estado, porque por um lado temos uma pressão demográfica e, por outro, um grande vazio”, explica Mariana.

Por falar nisso, mais de 70 municípios baianos não geram receitas suficientes para pagar suas próprias contas, de acordo com um estudo divulgado pela Criação de Municípios: Mais Impostos e Menos Serviços à População, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). 

A pesquisa do IBGE, explica ainda a analista, serve inclusive para análise de repasse de verbas federais, como a do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

População Com a revisão da Projeção de População realizada em 2018, e divulgada em 25 de julho pelo IBGE, a estimativa de população para a Bahia, neste ano, foi ajustada para baixo e ficou em 14.812.617 pessoas. Esse total foi 3,5% menor que a estimativa de 2017, que havia sido de 15.344.447 habitantes (menos 531.830 pessoas).

A revisão do cálculo para baixo ocorreu em consequência, sobretudo, de uma redução no componente natalidade, uma vez que o número de nascimentos registrados no estado, entre 2000 e 2016, foi menor do que previa a projeção anterior, de 2013.

Ainda assim, em 2018, a Bahia continua a ter a quarta maior população entre as unidades da Federação, abaixo apenas de São Paulo (45.538.936 pessoas), Minas Gerais (21.040.662 habitantes) e Rio de Janeiro (17.159.960 pessoas).

A revisão para baixo na projeção da população da Bahia para 2018 repercutiu nas estimativas populacionais de todos os municípios do estado, inclusive Salvador. A capital teve sua população estimada em 2.857.329 pessoas neste ano, 3,3% menor que a de 2017 (que havia sido de 2.953.986 pessoas).

Apesar disso, Salvador também se manteve como a quarta maior cidade do país, em termos populacionais, embora tenha aumentado sua distância em relação à terceira colocada, Brasília (com 2.974.703 moradores estimados em 2018) e reduzido em relação a Fortaleza, quinta colocada (com 2.643.247 pessoas).

Dos 417 municípios baianos, apenas Luís Eduardo Magalhães, no Oeste do estado, não teve sua população reduzida entre 2017 e 2018: passando de 83.557 habitantes para 84.753, o que equivale a um aumento de 1,43% (mais 1.196 pessoas). Todos os demais sofreram ajustes para se adequar ao novo patamar populacional do estado.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier