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Ivan Dias Marques
Publicado em 11 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Domingo parecia ser um dia comum, mas não foi. Aliás, nem o sábado foi comum, já que a ansiedade já batia desde a noite: “Não posso dormir demais e perder. Vou botar dois alarmes”. Domingo era dia de ver a seleção feminina jogar. Seleção feminina não, Seleção.
A Copa do Mundo de 2019 não é a primeira vez que a seleção brasileira recebe atenção. Houve outras tentativas antes, a última delas nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Daquela vez, no entanto, senti que o apoio às mulheres era muito mais como uma espécie de crítica ao futebol ruim que os homens apresentavam àquela altura do que um sentimento de representatividade, como é agora.
A palavra é essa: representatividade. Nos últimos três anos, sobretudo, vivemos momentos de intensa demonstração de força feminina nas ruas, nas redes sociais e nas relações. Muitos homens, me incluo nisso, passaram a dar mais atenção ao que as mulheres falam, sentem e representam na busca por uma igualdade na nossa sociedade, historicamente machista e patriarcal.
Assim, ver a equipe de Marta, Cristiane, Formiga e cia. em campo, parando boa parte do país num domingo (os índices de audiência da TV Globo, que cresceram 200% em relação ao usual não me deixam mentir) é muito mais que torcer pelo país.
Amigas buscaram se reunir, analisaram o jogo e, ainda bem, meu medo de insucesso contra a Jamaica, por conta dos resultados anteriores da Seleção, foi por água abaixo. Ainda tenho muito receio de que a equipe não cumpra as expectativas gerais, mas a representatividade nunca vai se perder.
Quando mostrei a minha filha de 4 anos, que adora marcar as paredes de casa chutando bola, que as mulheres também jogavam na ‘tevelisão’, ela ficou radiante. Perguntou até o porquê do jogo tinha parado de repente (era só o intervalo). Espero – MUITO – que, esportivamente, o momento possa ser aproveitado como tantos outros não foram. O Brasil desperdiça, sim, uma baita geração por culpa da falta de estrutura, planejamento, política de gestão e investimento. Outra poderá vir, claro, mas tivemos a melhor jogadora da história no auge e não conseguimos um título de expressão unicamente por conta dos problemas citados.
Pedindo licença para a comparação, era muito mais possível a seleção brasileira com Marta conquistar uma Copa do que Portugal com Cristiano Ronaldo, só para fazer uma relação de qualidade de elenco, de estrela principal e de adversários.
Que a Copa do Mundo da França seja um momento para uma virada maior, em que as jornalistas passem a ser mais respeitadas e tenham mais espaço, que o futebol jogado pelas mulheres tenha uma cobertura maior e mais dedicada e que a sociedade possa entender a normalidade disso tudo, e não achar que é algo imposto, por quaisquer se sejam os motivos.
Por mais que possam faltar grande títulos, se a geração de Marta conseguir transformar a representatividade que possui nesse momento num sentimento concreto, natural e longo dentro da nossa sociedade, já terá cumprido uma grande missão.
Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às terças-feiras