Uma das marcas do Afro Fashion Day, Meninos Rei vai participar do próximo SPFW

A baiana Ateliê Mão de Mãe também integra o time de criadores racializados que, com suporte do Projeto Sankofa, vão estrear no evento

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  • Do Estúdio

Publicado em 6 de março de 2021 às 21:12

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Genilson Coutinho

Presente no Afro Fashion Day desde sua primeira edição, há seis anos, a Meninos Rei, dos irmãos Céu e Júnior Rocha, fará em breve sua estreia em um dos mais significativos eventos de moda da América Latina. É que a dupla de estilistas, junto com mais outras sete marcas do país, desfilará suas criações na próxima edição da São Paulo Fashion Week, em abril. O convite veio através do Projeto Sankofa*, iniciativa dos coletivos Pretos na Moda e da startup de inovação social VAMO (Vetro Afro Indígena na Moda) junto com o SPFW, que vai abrir espaço para marcas idealizadas por negros ou indígenas mostrem seu trabalho.“Tudo começou para nós quando o modelo baiano Carlos Cruz indicou a Meninos Rei para participar do projeto”, explica Júnior Rocha. “A gente, como marca preta, está muito feliz. Somos dois afroempreendedores que vêm lutando em um mercado difícil como o de Salvador, em que só temos o Afro Fashion Day como espaço de moda para mostrar nosso trabalho”, afirma. “Sermos reconhecidos no SPFW é incrível. Estamos colhendo o que plantamos há seis anos”, completa Céu.Além da Meninos Rei, as marcas Ateliê Mão de Mãe (também da Bahia, especializada em moda hand made em crochê), AZ Marias, Mile Lab, Naya Violeta, Santa Resistência, Silvério e TA Studios vão participar das próximas três edições do SPFW, começando com fashion filmes na próxima temporada, em abril. “Já produzimos cinco looks que traduzem nosso DNA. Criamos as roupas e acessórios e contamos com a parceria com a Melissa nos calçados. Íamos para São Paulo no dia 13 para gravar, mas com as novas restrições por conta da pandemia, essa data foi adiada”, explica Júnior Rocha. Polyana Fraga com o biquíni “Tropical” da Ateliê Mão de Mãe (Foto: Jayme João) Apoio Em abril, também será lançada uma web série com três capítulos de dez minutos. O documento audiovisual vai mostrar a concepção e desenvolvimento do projeto, o processo seletivo das marcas e os bastidores da produção dos fashion filmes.

As marcas terão por um ano o apoio de advogados, publicitários, contadores e psicólogos (que trabalham de maneira voluntária), além de uma grife ou estilista veterano do SPFW que servirá como “madrinha”, dividindo tempo e expertise. Essa escolha foi feita a partir da estética e valores de cada marca. A da Meninos Rei é o mestre da alfaiataria João Pimenta. “A gente quase enlouqueceu quando soube que seria ele. Tivemos um bate-papo e ele se colocou superaberto em ajudar”, conta Júnior. “Estamos desenvolvendo uma coleção linda, tudo com muito conceito, reverenciando Exu. Vamos contar uma história muito bonita, muito rica”, adianta Céu.  Os irmão Júnior e Céu Rocha, criadores da  marca Meninos Rei (Foto: divulgação) As outras marcas “madrinhas” são: Patricia Viera, Projeto Ponto Firme, de Gustavo Silvestre; Juliana Jabour; UMA por Raquel Davidowicz; Angela Brito; e os baianos Vitorino Campos e Isaac Silva. Publicações de renome, como a Vogue, também abraçaram o projeto como uma de suas parceiras de mídia.

Mais espaço Uma das idealizadoras do Projeto Sankofa, a Pretos na Moda também esteve à frente da discussão sobre a presença de negros na passarela. “Quando a gente gerou o tratado, sabia da necessidade de incluir estilistas, porque não fazia sentido só a capa do SPFW ser preta”, afirmou Natasha Soares, fundadora do movimento, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. “É nosso compromisso acolher e potencializar projetos assim dentro da maior plataforma de moda do país”, disse Paulo Borges, fundador e diretor criativo da SPFW, ao jornal.

Afro Fashion Day A Meninos Rei está no Afro Fashion Day desde sua primeira edição, em 2015. O projeto de moda criado pelo Jornal Correio celebra o Mês da Consciência Negra, em novembro, destacando o trabalho das marcas baianas e o talento dos modelos pretos. Durante as seis edições de projeto, 367 modelos passaram pelo Afro, que contou com a colaboração de 243 coleções de marcas e, na edição de 2019, chegou a colocar 104 pessoas desfilando na passarela montada no Terreiro de Jesus.

A sexta edição do evento, realizada em 2020, não teve o calor das ruas, mas nem por isso a passarela mais preta do Brasil foi menos criativa. O evento se reinventou e foi transformado em um curta-metragem, lançando no Dia de Consciência Negra, 20 de novembro, com transmissão ao vivo no site e nas redes sociais do CORREIO. 

Assista:

 

*Sankofa é um ideograma presente no adinkra, conjunto de símbolos ideográficos dos povos acã, grupo linguístico da África Ocidental. Significa retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro.