Uma Olimpíada ainda muito desigual

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  • Da Redação

Publicado em 10 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O Comitê Olímpico Internacional (COI) reafirmou essa semana sua previsão de que em Tóquio-2020 teremos mais atletas homens do que mulheres, com um total de 5.704 homens (52%) e 5.386 (48%) mulheres participando do evento. 

Em comparação com Olimpíadas passadas, o número apresenta percentualmente o maior número de mulheres da história. Só que em tempos em que justiça e reparação histórica devem pautar entidades como o COI, sobretudo em eventos dessa magnitude, não há justificativa plausível para que não haja igualdade na quantidade de atletas de ambos os sexos.

Os Jogos têm o total de 35 esportes e 50 modalidades, mas oito delas terão mais homens que mulheres (atletismo, futebol, boxe, ciclismo estrada, ciclismo de pista, polo aquático, luta greco-romana e beisebol/softbol). E mesmo sabendo que a ginástica rítmica e o nado artístico não contam com homens (ao passo que as mulheres só não estão na luta greco-romana), não é possível encontrar um motivo justo para o boxe ter 206 homens x 80 mulheres, ou para o ciclismo de estrada ter 130 x 67.

A desculpa de esses esportes ou modalidades serem majoritariamente masculinos é simplista demais, confirmando apenas mais uma vez o machismo estrutural que rege nossa sociedade e que está presente com muita força no esporte. 

O exemplo tem que vir de cima mesmo, do COI, do mesmo jeito como a entidade agora espera que todos os países tenham um casal de porta-bandeiras em Tóquio. A regra, contudo, não é obrigatória, mas é um grande passo para a igualdade de gênero nos Jogos. O COI também confirmou que todas as 206 nações que participarão da Olímpiada deverão ter pelo menos um homem e uma mulher nas competições. 

São passos importantes, que ajudam a minimizar as diferenças gritantes de como o mundo dos esportes trata homens e mulheres. Como os esportes masculinos são mais populares, devido a mais de um século de ‘monopólio’ nas vitrines esportivas, as premiações para cada sexo também possuem discrepâncias absurdas. No último estudo publicado sobre o assunto, em 2014, 30% das federações internacionais pagavam menos em bonificações a atletas mulheres do que a homens na mesma modalidade. Não vamos nem entrar no que cada um recebe individualmente de patrocinadores e fornecedores de material esportivo.

Localmente, vivemos no Brasil um momento em que o esporte feminino ganha prestígio, podendo, pela primeira vez na história, ir mais vezes ao pódio que os homens na Olimpíada. Uma matéria do Globoesporte.com, publicada no último domingo (8), mostra que, com base nos Campeonatos Mundiais das modalidades que estarão em Tóquio, o Brasil conquistou 21 medalhas: dez femininas, dez masculinas e uma mista (judô por equipes).

Dentre as brasileiras com chances reais de pódio, destaque para as baianas Ana Marcela Cunha (maratona aquática) e Bia Ferreira (boxe), superfavoritas a saírem do Japão com uma medalha no peito. Além delas, Formiga, do futebol feminino, deve ir a sua 7ª Olimpíada e se tornar a mulher com mais participações em Jogos (igualada apenas pelo velejador Robert Scheidt). Será também recordista geral em esportes coletivos, contando ambos os sexos. 

Na história olímpica, o Brasil conquistou 129 medalhas, 101 com os homens e apenas 28 com as mulheres. Apenas em 1996, com a dobradinha do vôlei de praia feminino com Jaqueline/Sandra (campeãs) e Adriana/Mônica (prata) as brasileiras conquistaram suas primeiras medalhas nos Jogos. Vai demorar muito ainda para a gente ver uma mudança significativa nesses números, mas é preciso dar um passo forte nessa direção.

Luiz Teles é jornalista e escreve às terças