Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Flavia Azevedo
Publicado em 31 de julho de 2021 às 07:40
- Atualizado há 2 anos
Zero ligada em esportes, porém Olimpíadas e acabei assistindo vôlei de praia feminino, aquele jogo contra as argentinas. Já avisada do tema "uniformes", das manifestações de mulheres contra a obrigatoriedade de exibir mais do que gostariam, olhei para a quadra com esse recorte, mais do que preocupada com os sets, pontos e tal. Anos de ficha caindo. Entendi, finalmente, todo o apreço (sempre meio irônico) dos homens às "meninas do vôlei de praia".>
Os cinegrafistas, evidentemente, entenderam bem antes, já que, a cada paradinha das jogadoras no fundo da quadra, naquela posição de mãos nos joelhos e bunda empinada, faziam uma panorâmica nas bundas e closes proctológicos/ginecológicos. Belas bundas, inclusive. Lindos corpos, claro. Mas a questão é que nem putas (que têm na exibição do físico a propaganda do negócio) deveriam ser obrigadas a mostrar o que não querem, se não quiserem. Que dirá atletas, cujo foco da atividade profissional nada tem a ver com provocar ereções e afins.>
Ou tem? Li que há muitas imagens de atletas, disponíveis em ambientes pornográficos da web, para uso de punheteiros. Nenhum problema, se essas mulheres autorizassem, vendessem, ganhassem dinheiro com isso. A questão é, justamente, a sensualização compulsória, a pessoa ser obrigada a performar erotismo quando quer apenas fazer a bola tocar no chão do outro lado da rede, ou cumprir uma sequência de movimentos pra ganhar uns pontos.>
Pela primeira vez na vida, fui observar o contraste entre uniformes masculinos e femininos, utilizados em cada modalidade. Fiquei besta, sem entender como isso existe até hoje. Uma coisa antiga, empoeirada, sexista nível absurdo. É maravilhoso que algumas atletas descumpram a obrigatoriedade da nudez que não desejam, um movimento bem-vindo, ainda que atrasado.>
Aí, um homem me diz "essas feministas não sabem o que querem, daqui a dez anos vão exigir o direito de mostrar os corpos". Como sempre, o "homem de bem tradicional" não entendendo absolutamente nada. Mas quer ver esse moço entender? Baixe uma lei de que todos os uniformes devem ser unissex e aí vamos ver o que ele acha ou não adequado.>
No futebol e nas lutas já é assim e veja se há constrangimento para as atletas. Nenhum. Porque o unissex segue os parâmetros dos uniformes masculinos que, em geral, não expõem os profissionais ao ridículo e à sensualização compulsória. Se homens e mulheres tiverem que se vestir da mesma maneira, voltemos ao exemplo do vôlei de praia: você acha que as equipes masculinas topariam jogar de sunguinha e levando closes nos rabos? Não, né? Claro. Então, por que as mulheres são obrigadas?>
Extrapolando: isso, em todas (todas!) as atividades. Se não há uniforme, que cada pessoa se vista como desejar. Se é para uniformizar, que sejam uniformizados os humanos, que estejam em igualdade e confortáveis em roupas que privilegiem segurança e funcionalidade. Acho o mundo mais civilizado, por exemplo, quando entro em um avião e vejo comissários e comissárias vestidos/as da mesma maneira.>
Desonestos verão moralismo neste texto. Logo eu, praticante de topless, defensora da moça de corpo lindo que uma ex-chefa queria, por pura inveja, ver toda tapada. Não tinha uniforme, ela trabalhasse como quisesse, mostrasse o que tivesse vontade. Mas é isso. Por vontade. Não por ser obrigada. Em nenhuma área, em qualquer atividade. Uniforme tem que ser unissex - inclusive nas escolas - e ponto final.>