Urbanista cria startup de financiamento para mudar espaços públicos

Marcelo Rebelo: o boa praça

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Todos os dias, três anos atrás, ele batia o ponto, fazia o seu trabalho e ia embora. Era funcionário de uma repartição pública da Prefeitura de São Paulo. Mas, o urbanista Marcelo Rebelo não se contentou. Queria resolver os problemas da cidade. Curioso, inventivo, começou a pesquisar tecnologia e inovação voltadas para o planejamento urbano. Dentro da prefeitura, tentou aplicar sua pesquisa.  

“O problema é que, dentro do governo, isso era impossível. O sistema público era travado para aplicar a inovação”, lembra Marcelo, que aguentou até o governo seguinte, na mesma prefeitura. “Claro, dá para criar projetos bons no estado, mas você sempre depende do prefeito seguinte. Vi projetos incríveis não terem continuidade sem qualquer explicação”.

Um dia, Marcelo se demitiu. Queria criar algo seu para mudar a realidade. Nesse momento, só tinha duas certezas: a primeira é que iria trabalhar com espaços públicos. A segunda é que criaria uma startup, ou seja, uma empresa com baixo custo de manutenção que criasse ideias inovadoras para gerar grandes resultados. Após testar diversos modelos, montou um sistema de adoção de praças públicas, muito comum em diversas cidades. 

Faltava o estalo. Como utilizar a tecnologia para financiar a reforma e a construção desses espaços? “Até porque, nenhuma empresa adota praças. Elas adotam, no máximo, canteiros centrais e rotatórias”, diz Marcelo, que semana passada esteve em Salvador para o seminário Cidades, do Fórum Agenda Bahia 2017, onde apresentou os resultados obtidos com o projeto que engaja as comunidades.

O urbanista percebeu então que as melhores experiências vinham de associações de moradores, que adotavam praças inteiras e pagavam do próprio bolso por isso. Aí é que teve a sacada. “Isso não passa de um financiamento coletivo, só que sem uma ferramenta de tecnologia”. 

Esses financiamentos coletivos, diz ele, não costumam se manter por muito tempo. “Ninguém quer ser o presidente da associação, ninguém quer ser o tesoureiro, ninguém quer ser o gestor”. Foi aí que Marcelo criou a CrowdPlaces, startup especializada na revitalização de áreas comuns de convivência através de financiamentos coletivos. Um dos projetos da empresa é o Praças.com, plataforma digital focada na reforma e construção desses espaços. 

Basicamente, o Praças.com simula as associações sem constituí-las formalmente. “Para a prefeitura, quem adota a praça é a nossa empresa. A gente empresta o nosso CNPJ, todo o sistema de pagamento é feito pela nossa plataforma, toda a parte chata é nossa”, explica Marcelo, apaixonado por espaços urbanos de convivência. “Com o Praças.com, os moradores só vivenciam o espaço mesmo. Dói o coração ver um local de convivência abandonado”. 

Há uma meta mínima para uma praça ser adotada: R$ 2 mil por mês. “Mas, quanto mais a comunidade for engajada, quanto mais gerar recursos, maiores os impactos”. Há também metas de R$ 4 mil, R$ 7 mil e R$ 10 mil. “Esse número sempre está flutuando, porque a plataforma é aberta”. Em alguns casos, empresas se interessam em contribuir. No projeto piloto do Praças.com, Villaboim, em São Paulo, a doação ultrapassou R$ 300 mil.  

“Nosso mecanismo de financiamento coletivo viabiliza principalmente a gestão e a manutenção: o zelador, a jardinagem. Mas muitas praças precisam de intervenção física porque estão muito destruídas. Para esses investimentos maiores a gente vai atrás de parceiros privados. Na Villaboim a gente conseguiu dois parceiros privados. Um doou R$ 300 mil e o outro R$ 46 mil”.

Lançada em dezembro do ano passado, a plataforma Praças.com atua somente em São Paulo. “Queremos crescer. Quem sabe as praças de Salvador possam melhorar com a nossa ajuda em breve”.

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.