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Carolina Cerqueira
Publicado em 27 de agosto de 2021 às 04:30
- Atualizado há 2 anos
Os estudos clínicos da vacina baiana contra a covid-19 terão início em setembro, em Salvador, com a participação de mais de 30 pesquisadores locais. Os testes serão realizados no Hospital da Bahia e, a princípio, contarão com a participação de 90 voluntários ainda não vacinados. Ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o ensaio da RNA MCTI CIMATEC HDT, que utiliza a tecnologia RNA replicon, que se autorreproduz e gera anticorpos. Atualmente, apenas vacinas em fase de estudo seguem esse esquema. >
A vacina está sendo desenvolvida pelo laboratório HDT Bio Corp (EUA), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai - Cimatec) da Bahia, e a Gennova Biopharmaceuticals Ltd (Índia). A previsão é de que em um ano, ela esteja disponível.>
Os estudos pré-clínicos foram desenvolvidos nos EUA desde o ano passado em camundongos e primatas, com colaboração do Cimatec. Os documentos da primeira etapa concluíram que, mesmo com pequenas doses, foram obtidas respostas significativas e duradouras. “Diante da plataforma tecnológica da vacina, o que a gente espera é que seja de dose única, já que pequenas concentrações se mostraram capazes de promover alta resposta imune”, afirma a líder técnica do projeto no Senai – Cimatec, e PhD em Biotecnologia, Bruna Machado.Nos EUA, o ensaio clínico da fase I foi aprovado em julho, com previsão de início para este mês, com 78 voluntários. No Brasil, foi aprovada agora a fase I do estudo clínico, que prevê 90 adultos saudáveis, dos gêneros feminino e masculino, entre 18 e 55 anos. A previsão é de que, nos próximos dias, tenha início o recrutamento de voluntários e o Cimatec receba as doses.>
Fase da segurança>
Segundo o médico infectologista e professor titular do Senai - Cimatec, PhD em Imunologia e Doenças Infecciosas, Roberto Badaró, o objetivo principal desta etapa é avaliar a segurança e a reatogenicidade, ou seja, a capacidade da vacina gerar reação adversa (ou colateral) local ou sistêmica. “Serão testadas três diferentes concentrações de dose, verificando-se qual delas se mostrará mais promissora na produção de resposta imune humoral e celular contra o vírus”.>
A vacina será avaliada em cronograma de dose única e também de duas doses com intervalos diferentes. O primeiro grupo receberá duas doses com intervalo de 29 dias. Já o segundo, receberá duas com intervalo de 57 dias. O terceiro receberá dose única. Serão avaliados três níveis de dose (1 μg, 5 μg ou 25 μg) no ensaio clínico aprovado. >
Os estudos incluem ainda as fases 2 e 3, até que o imunizante seja aprovado para registro e produção no Brasil. Uma vez comprovada a segurança na fase 1, terá início a fase 2, com a participação de 400 indivíduos. A etapa 3 dependerá dos resultados da anterior. Para essa, estão previstos de três a cinco mil participantes. Os testes custarão R$ 6 milhões. Equipe que atua na pesquisa da nova vacina (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Como funciona a vacina?>
A vacina usa tecnologia de RNA de terceira geração: molécula de replicon de RNA, que, em contato com o organismo tem capacidade de se autorreproduzir, gerando o RNA mensageiro, que ensina o corpo a produzir anticorpos. Entre as vantagens, é uma vacina com grande possibilidade de ser aplicada em dose única, capaz de promover resposta robusta e duradoura, inclusive contra as diferentes cepas>
A candidata à vacina consiste na formulação de nanocarreador lipídica chamada de LION (do inglês, Lipid InOrganic hybridized Nanoparticle) e uma molécula de repRNA que codifica a proteína spike (S) do SARS-CoV-2. >
“Até então, no mundo não tem nenhuma vacina aprovada que utilize RNA replicon. No Brasil, é o primeiro estudo clínico com um imunizante do tipo. Mas a tecnologia vem sendo utilizada para desenvolver vacina contra HIV e para medicamentos de tratamento oncológico. É uma tecnologia promissora que pode permitir desenvolvimentos futuros de vacinas para leishmaniose, malária e chikungunya, por exemplo”, afirma Bruna Machado. >
Entenda como um imunizante é aprovado>
Atualmente, existem quatro formas de uma vacina contra a covid-19 ter aprovação no país: registro, uso emergencial, importação excepcional e importação pelo consórcio Covax Facility.>
A aprovação regulatória de uma vacina contra o vírus Sars-CoV-2 exige a demonstração de segurança e benefício clínico em um estudo de eficácia controlado por placebo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Food and Drugs Administration (FDA, agência regulatória norte-americana equivalente à Anvisa) exigem que as vacinas mostrem pelo menos 50% de eficácia.>
Nos testes de uma vacina, normalmente divididos em fases 1, 2 e 3, os cientistas tentam identificar efeitos adversos graves e se a inoculação é capaz de induzir uma resposta imunológica (ou seja, do sistema de defesa do corpo).>
Os testes de fase 1 costumam envolver dezenas de voluntários; os de fase 2, centenas; e os de fase 3, milhares. Antes de começar os testes em humanos, as vacinas são testadas em animais, normalmente em camundongos e, depois, em macacos.>
Os estudos clínicos de vacinas são conduzidos pelos laboratórios farmacêuticos e instituições de pesquisa. Como agência reguladora, o papel da Anvisa é definir a regulamentação do setor e avaliar os processos e dados recebidos do ponto de vista de sua comprovação de qualidade, eficácia e segurança. A partir da submissão de documentos após a conclusão da fase clínica, a vacina poderá receber o registro para ser, então, aplicada na população. >
SITUAÇÃO DAS VACINAS:>
Vacinas já aprovadas pela Anvisa: Pfizer, Astrazeneca, Coronavac, Janssen.>
Vacinas com autorização para importação excepcional: Sputnik e Covaxin (suspensa). >
Vacinas com estudos clínicos aprovados: Butanvac, INO-4800, AZD2816, COVLP, Inativada contra Sars-CoV-2, SBC-2019, Vacina de RNAm para Sars-CoV-2 e Vacina de RNA MCTI Cimatec HDT.>
Vacinas com estudos clínicos em análise: SpiNTec (UFMG), Versamune (USP), S-UFRJvac (UFRJ), Ad26.COV2.S e Vacina da Universidade Estadual do Ceará.>
*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>