Vacina para burrice e a revolta

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  • Jolivaldo Freitas

Publicado em 19 de novembro de 2019 às 10:40

- Atualizado há um ano

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Esta semana, embora esteja passando desapercebido pelos veículos de comunicação, é tempo de relembrar os 115 anos da Revolta da Vacina, um motim organizado pelo povo em novembro de 1904 no Rio de Janeiro e que chegou a se espalhar por outras cidades, como Recife e Salvador, mas por aqui sem intensidade. O motivo da convulsão foi a obrigatoriedade de se vacinar contra a varíola, que matava aos borbotões, determinada pelo presidente Rodrigues Alves que apoiava as pesquisas e planejamento do médico e cientista Oswaldo Cruz, que havia criado as Brigadas Mata-Mosquitos. Elas eram formadas por funcionários do Serviço Sanitário e também por policiais que na falta de receptividade da população invadiam os imóveis, derrubavam ou sitiavam. O povo tinha mesmo de tomar vacina. O país era conhecido no mundo inteiro por causa de doenças como febre amarela, e até peste bubônica.

Nas ruas do Rio de Janeiro, ratos e mosquitos tiravam o sono da população e principalmente de Oswaldo Cruz. Ele foi nomeado diretor de Saúde Pública e convenceu o presidente a tomar atitudes como acabar com  os casebres e cortiços. Só havia um jeito: demolir o que era velho e infecto, alargar ruas, criar serviços de esgoto e água potável e mandar vacinar. Quem não se vacinasse não poderia casar, viajar, colocar filhos nas escolas, conseguir empregos e recebia multas.

Foi quando passou a ser espalhado, até com a ajuda da imprensa, que a vacina matava mais do que as doenças. A população, que já estava revoltada com a expulsão do local de moradia e tendo que correr para os morros por falta de condições de pagar aluguel, foi criando um ambiente hostil. As falsas notícias sobre a vacina foram determinantes para a revolta. Sem falar que descobrir parte do corpo para a vacinação era considerada como coisa imoral. 

A Lei da Vacinação Obrigatória foi detonada pelos jornais que duvidada da eficácia do remédio. O povo se armou. Os militares que queriam derrubar o governo se aproveitaram da situação. No meado de novembro o Rio pegou fogo com carros queimados, bondes virados a polícia escorraçada e os mata-mosquitos sumindo de circulação.

A tentativa de derrubar o governo deu errada. Na Bahia, uma guarnição aderiu e foi neutralizada. Por causa de tanta celeuma a vacinação passou a ser  facultativa. Mas veja, que mais de  100 anos depois uma pesquisa mostra que sete em cada dez brasileiros acreditam em fake news sobre vacinas. O resultado preocupa a Sociedade Brasileira de Imunizações, que realizou o levantamento junto com o Ibope. Entre os entrevistados, apenas 22% conseguiram identificar que dez afirmações eram falsas. Outros 11% não souberam ou não responderam. Para 24% dos entrevistados existe a possibilidade de as vacinas causarem efeitos colaterais graves. 

A segunda afirmação falsa mais recorrente foi “há boa possibilidade de as vacinas causarem a doença que dizem prevenir”, com 20% de concordância. 13% assumiram que deixaram de se vacinar ou deixaram de vacinar uma criança sob seus cuidados. 

O Brasil mostra que está em uníssono com o movimento que grassa em todo o mundo criticando as vacinas, garantindo que as vacinas são prejudiciais e que ninguém precisa se vacinar, dentre outras coisas “por ser apenas um objeto de lucros dos laboratórios”, como consta de um texto na internet. Assim, fica até difícil de se criar uma vacina contra a burrice por que a maioria não vai tomar e fica tudo como está.

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. Autor de  Histórias da Bahia – Jeito Baiano e Baianidades...

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