Veja como ficou o altar-mor da Igreja do Bonfim após 10 meses de reforma

Foram usadas mil folhas de ouro em obra que custou R$ 649 mil

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  • Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

A velha Colina Sagrada e as novas mil folhas de ouro. É essa a combinação que devotos e visitantes encontrarão, a partir desta sexta-feira (24), na Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, em Salvador. Após dez meses de obras de restauro, a entrega do altar da igreja, que é um símbolo de fé para os baianos, não poderia acontecer num dia diferente da tradicional sexta-feira de missa no santuário.

Às 9h, começa a celebração. Depois, o prefeito ACM Neto reinaugura oficialmente a capela e o altar-mor, que abriga as imagens do Senhor do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia. A solenidade integra as comemorações do Jubileu dos 275 anos da chegada das duas imagens à Bahia, em 1745, trazidas pelo capitão de mar e guerra da Marinha portuguesa Theodózio Rodrigues de Faria.

Desde julho do ano passado, os devotos não tinham acesso ao local. Mas, os mistérios da fé dizem que há males que vêm para o bem. A intervenção foi necessária, por exemplo, para dar fim aos cupins, que atacaram a igreja nos últimos anos.

“Ficou insustentável, tivemos que fazer as obras de restauro com urgência”, conta o juiz da Devoção do Senhor do Bonfim, Francisco José Pitanga Bastos. Além dos cupins, havia instalações elétricas precárias e a ação do tempo sobre o patrimônio material.

O resultado, no entanto, saiu ‘melhor que a encomenda’. Foram 40 cadernos de ouro usados na restauração, o que corresponde a mil folhas. Não por acaso, o que logo captura a atenção de quem chega é o brilho do novo altar-mor. Marinalva dos Santos, 63 anos, frequenta a Basílica desde pequena e reconhece a diferença. Moradora da Ribeira, ela comenta que, nos últimos anos, “achava a Capela um pouco gasta, com as cores enfraquecidas”.  Agora, a Igreja está ainda mais bonita. “É emocionante”, diz. Restauração usou 40 cadernos de ouro (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) Foram recuperados a capela-mor, cobertura, retábulo do altar-mor e do forro, escada atrás do nicho e instalações elétricas, além das portas de acesso às sacristias, tribunas, molduras dos óculos do forro e pilastras decoradas. As ministras extraordinárias da Basílica - Maria, Maria e Eliene - descreveram as mudanças que as obras causaram nos últimos meses: “O quarto da sacristia mudou de lugar, não podia ficar atrás do altar. Também mudamos a loja. Mas, agora, tudo volta ao normal”, diz uma delas.

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Claudio Tinoco, detalhou o processo: “O restauro revelou aspectos de pintura, talhamento e arquitetura que não esperávamos”, afirma. Elias Machado, arquiteto responsável, comentou que esses detalhes atrasaram um pouco a entrega, mas foram positivos. “Serviram para revelar os tons azuis da pintura original e os desenhos delicados e antigos do interior do nicho de Nossa Senhora da Guia”, explica.

Para o Diácono Carlos Augusto, o retorno da imagem de Nosso Senhor do Bonfim para o novo altar-mor é motivo de entusiasmo. “Esperamos aumentar, ainda mais, o número de visitantes, atraindo quem ainda não viu Nosso Senhor do Bonfim no seu lugar de origem”, diz. Já a devota Maria José, 83, é uma daquelas fiéis que frequentam e cuidam da Basílica com um sentimento de pertencimento. Para ela, o Senhor do Bonfim deveria voltar em procissão. Intervenções tiveram investimento de R$ 649 mil (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) Ao alcance das mãos Uma das principais transformações destes dez meses foi a que impactou na devoção dos fiéis. A imagem de Nosso Senhor do Bonfim deixou o local e ficou ao alcance das mãos dos devotos. Segundo o padre Edson Menezes, reitor da Basílica, o acontecimento é raro e teve três motivações. A primeira foi a intervenção do altar-mor.

“Segundo, é que, no próximo ano, nós comemoramos 275 anos da chegada da imagem, que desembarcou no dia 18 de abril de 1745. Terceiro, porque estamos vivendo momentos difíceis de tragédias e medo. E é bom tocar na cruz para pedir proteção", afirma. Mas, a oportunidade não cessa com a inauguração. O juiz da Devoção, Francisco José, disse ao CORREIO que a imagem ficará acessível aos fiéis até o dia 9 de junho: “Recolocaremos a imagem no dia de Pentecostes. Eu quero dizer ao povo da Bahia que essa é uma oportunidade única. Talvez ela nunca mais chegue tão perto dos seus fiéis”.

As intervenções na parte interna da Basílica receberam investimento de R$ 649 mil. Parte dos recursos é investimento da Prefeitura, com participação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O restante é fruto de emenda parlamentar do ex-deputado federal José Carlos Aleluia.

Todo processo de restauro foi acompanhado pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) e pela Fundação Gregório de Mattos (FGM). A empresa responsável foi a Dolmen Restauro e Decorações. Participaram da equipe técnica, além do arquiteto Elias Machado, a restauradora Zeila Machado e o restaurador Carlos Barbosa, dentre outros profissionais.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier